quinta-feira, 20 de abril de 2023

O TESOURO DAS INDULGÊNCIAS

 


Para falar sobre as indulgências, primeiro é necessário falar sobre o pecado e suas consequências. O pecado é uma desordem, uma atitude de rebeldia contra as normas estabelecidas por Deus que tem por finalidade nos conduzir à plena felicidade. Cada pecado tem duas consequências: a culpa e a pena. A culpa, ou seja, a responsabilidade subjetiva pela ação pecaminosa, pode ser perdoada na confissão e a pena deve ser reparada com as penitências.

Um exemplo para ajudar a ilustrar o que seria a culpa e a pena de um pecado, é pensar no caso de causar um acidente com o carro de um amigo por uma imprudência. A pessoa pode se arrepender e pedir perdão para o amigo por ter causado o acidente. Porém, mesmo o amigo perdoando, ainda ficam as consequências do acidente: o carro quebrado. Assim, a pena pelo acidente deve ser reparada através do pagamento do conserto do carro.

Da mesma forma, na confissão, Deus perdoa os nossos pecados, mas ainda assim ficam as penas, que devem ser reparadas com as penitências. As penas que não forem suficientemente expiadas enquanto estamos vivos, serão expiadas no Purgatório.

As indulgências entram para ajudar a reparar as penas devidas pelo pecado e só podem ser recebidas por quem está em estado de graça (sem pecado mortal).

O CIC 1471 explica: «A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições, pela ação da Igreja, a qual, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos»  «A indulgência é parcial ou plenária, consoante liberta parcialmente ou na totalidade da pena temporal devida ao pecado»  «O fiel pode lucrar para si mesmo as indulgências [...], ou aplicá-las aos defuntos»

O poder para conceder indulgências foi dado à Igreja pelo próprio Jesus quando disse a S. Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16,19). E repetiu depois para os discípulos: "Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligar­des sobre a terra será também desligado no céu.”" (Mt 18,18)

De onde surgiu a ideia das indulgências?

No início do cristianismo, as pessoas tinham uma consciência mais delicada com relação ao mal que o pecado representa, então as penitências eram muito pesadas e públicas. Podiam durar meses ou até anos.

Pela realidade da comunhão dos santos, os penitentes iam até os futuros mártires, que estavam presos em virtude da fé, e pediam a eles que oferecessem o martírio em remissão dos pecados dos penitentes. Assim, os mártires assinavam uma carta, que era levada ao bispo, e o penitente ficava livre de sua penitência. Havia uma transferência para o pecador arrependido o valor satisfatório dos sofrimentos do mártir.

Tesouro dos méritos da Igreja

Chamamos de “tesouro dos méritos da Igreja” os bens espirituais da comunhão dos santos, ou seja, o preço infinito e inesgotável as expiações e méritos de Cristo oferecidos para que a humanidade seja liberta do pecado e chegue à comunhão com o Pai e também orações e boas obras da bem‑aventurada Virgem Maria e de todos os santos, que se santificaram pela graça de Cristo, seguindo as suas pegadas, e que realizaram uma obra agradável ao Pai; de modo que, trabalhando pela sua própria salvação, igualmente cooperaram na salvação dos seus irmãos na unidade do corpo Místico (CIC 1476 e 1477)

A vida e as obras dos santos foram mais que suficientes para remir as penas de seus pecados, então todo o excedente vai para o tesouro espiritual da Igreja. Assim, a Igreja concede as indulgências tirando desse tesouro espiritual dos méritos de Cristo e dos santos.

Qualquer oração ou obra que a Igreja atribua indulgência tem um valor dobrado: o da obra em si e o valor equivalente concedido pela indulgência.

INDULGÊNCIA PARCIAL E INDULGÊNCIA PLENÁRIA

A indulgência parcial apaga parte das penas devidas por nossos pecados. A quantidade da pena apagada pela indulgência parcial depende do maior ou menor grau de amor com que fazemos a obra enriquecida pela indulgência.

A indulgência plenária apaga todas as penas devidas por nossos pecados. Isso significa que se morrermos logo após receber essa indulgência, vamos diretamente para o Céu, pois não teremos penas a pagar no purgatório.

Apesar de cumprir todas as condições, na prática é muito difícil ter certeza se realmente recebemos a indulgência plenária, porque é necessário estar absolutamente desprendido de todo pecado deliberado, o que exige uma dor sincera por todos os pecados cometidos, tanto veniais como mortais e o propósito de evitar daí para a frente até o menor pecado. De qualquer forma, pelo menos a indulgência parcial está garantida, no caso de não recebermos a plenária.

As condições para se receber uma indulgência plenária são: confissão sacramental, comunhão eucarística e orações nas intenções do Papa. Essas condições podem ser cumpridas em dias diversos daquele em que se fez a obra prescrita, mas a comunhão e oração pelo Papa devem ser feitas no mesmo dia. Não há uma regra expressa sobre a distância entre o dia da confissão e o da obra indulgenciada, mas o costume é que seja entre 8 e 15 dias no máximo (antes ou depois). Claro, sem ter cometido pecado mortal nesse período. Com uma só confissão, pode-se obter várias indulgências.

A Igreja concede muitas indulgências plenárias, então precisamos aproveitar ao máximo.

Quem pode receber as indulgências?

Podemos lucrar as indulgências para nós mesmos ou para as almas do purgatório. Como é uma liberalidade da Igreja que necessita que a pessoa queira receber e esteja em condição de receber, não é possível lucrar indulgência para outra pessoa que esteja viva.

As indulgências que recebemos para nós, podemos ter certeza de sua aplicação para a nossa alma, pois está dentro da autoridade da Igreja. Para as almas do purgatório, devemos confiar na misericórdia de Deus. As indulgências nunca são perdidas. Se não vai especificamente para a pessoa para a qual pedimos, outra alma recebe. Em virtude dessa incerteza, podemos oferecer mais de uma vez a indulgência plenária para o mesmo defunto.

A indulgência plenária pode ser recebida somente uma vez por dia (exceto em perigo de morte). As indulgências parciais podem ser recebidas várias vezes ao dia.

Exemplos de indulgências

O manual das indulgências (Enchiridum Indulgentiaram) elenca várias obras indulgenciáveis, então vale a pena verificar todas elas. Aqui elencamos apenas algumas:

- Concede-se indulgência parcial ao fiel que se abstém de coisa lícita e agradável, em espírito espontâneo de penitência

- Concede-se indulgência parcial ao fiel que visitar o Santíssimo Sacramento para adorá-lo; se o fizer por meia hora ao menos, a indulgência será plenária.

- A comunhão espiritual, feita em qualquer fórmula piedosa, é enriquecida com indulgência parcial.

- Concede-se indulgência parcial ao fiel que se dedica a ensinar ou aprender a doutrina cristã.

- Oração o Terço: para a indulgência plenária determina-se o seguinte: 1. Basta a reza da terça parte do Rosário, mas as cinco dezenas devem-se recitar juntas. 2. Piedosa meditação deve acompanhar a oração vocal. 3. Na recitação pública, devem-se anunciar os mistérios, conforme o costume aprovado do lugar; na recitação privada, basta que o fiel ajunte a meditação dos mistérios à oração vocal.

São muitas oportunidades que temos durante o dia de recebermos indulgências, então uma dica é, na oração da manhã, já pedir a Deus todas as indulgências que se pode lucrar naquele dia, acrescentando a oração do pai nosso e ave maria nas intenções do Papa.

CRÉDITO DA FOTO: Foto de Ashin K Suresh na Unsplash