domingo, 20 de dezembro de 2020

UM LUGAR VAZIO NA MESA DE NATAL

 

Todos os anos muitas famílias experimentam a dor de ter um lugar vazio na mesa de Natal, por um ente querido ter falecido durante o ano. Esse ano, minha família fará essa experiência, pois meu pai morreu no dia 14 de novembro, três semanas depois de ter contraído o Covid. Apesar dessa grande dor, precisamos refletir como Deus Pai gostaria que celebrássemos esse Natal.

Acredito que a primeira atitude é lembrar que Deus é um Pai amoroso e providente, que deseja sempre o nosso bem e a nossa felicidade eterna. Ele sabe de todas as coisas e, se decidiu chamar meu pai para a eternidade nesse ano, é porque sua missão tinha acabado e agora vai viver na eternidade, colhendo os frutos de sua vida aqui conosco. Por mais que minha mãe, minhas irmãs, eu e todos que o amam achássemos que ele poderia viver mais alguns anos, afinal tinha “apenas” 74 anos e estava bem antes de ficar doente, precisamos confiar que Deus sabe muito mais que cada um de nós e que o mais importante é a salvação de sua alma, que certamente aconteceu. Pouco antes de ir para a UTI, ele confessou (disse para a minha irmã que foi a melhor confissão da sua vida), recebeu a unção dos enfermos e comungou. Nossa eterna gratidão ao Pe. Humberto por ter sido um reflexo do Bom Pastor, pois sem pensar na própria vida, corajosamente ministrou os sacramentos para o meu pai. 

Apesar de não estar fisicamente presente conosco, esse ano podermos dar a ele o melhor presente de todos: nossas orações, sacrifícios, a Santa Missa, tudo para aliviar suas penas do Purgatório, caso ele ainda esteja por lá. A Igreja Católica nos ensina que, depois da morte, para aquelas almas que foram salvas e ainda não se livraram de todas as penas, das consequências de seus pecados, existe o Purgatório, onde acontece sua purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu. (CIC §1030 e §1031)

Infelizmente muita gente se esquece dessa realidade e acaba presumindo que a pessoa falecida já está na glória do Céu, não rezando por essa alma, o que resulta num tempo muito maior no Purgatório. Quem está no Purgatório já não pode fazer nada para si mesmo e depende totalmente das orações e sacrifícios de nós que ainda estamos aqui na Terra e do auxílio de quem já está no Céu. Rezar pelas almas do purgatório é um grande ato de caridade, uma obra de misericórdia para os nossos irmãos falecidos.

Mesmo sentindo imensamente sua falta, penso que não devemos ficar muito tristes. Como família, vamos recordar a sua vida, os momentos que passamos juntos, suas piadinhas, fazer suas comidas favoritas, enfim, agradecer a Deus pelo homem, marido, pai, avô, amigo que ele foi. Penso também que de alguma forma, ele estará lá conosco, intercedendo por cada um de nós, para que, um dia, possamos reencontrá-lo no Céu.

Essa é uma das grandes belezas da Igreja Católica: a realidade da comunhão dos santos. Nós aqui ainda nessa vida terrena, como Igreja Militante, intercedemos uns pelos outros e também pelas almas do Purgatório, a Igreja Padecente, que não pode socorrer a si mesma, mas intercede por nós. E a Igreja Triunfante, todas as almas santas que gozam das alegrias do Céu, intercedem por nós e pelas almas do Purgatório, para que um dia, todos estejamos juntos na alegria eterna de contemplar Deus face a face.

Esse ano, esse lugar vazio na mesa de Natal, vai nos lembrar do real sentido da celebração dessa data tão importante: nasceu para nós um Salvador, que veio ao mundo como um bebê indefeso, sofreu muito e morreu numa cruz, mas depois ressuscitou, venceu a morte, para que um dia, cada um de nós possamos ressuscitar com ele e viver num novo Céu e numa nova Terra. 

photo credit: Lee Bennett <a href="http://www.flickr.com/photos/55455788@N00/9344221101">Christmas Day 2005</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>

sábado, 5 de dezembro de 2020

AMOR AO PRÓXIMO



“O amor é a lei fundamental do mundo”, nos ensina S. Francisco de Salles. Segundo essa lei, Deus faz tudo por amor, com amor e através do amor. Por isso, o ser humano, como obra prima da Criação, é chamado a amar como Deus ama. 

O amor de Deus por cada um de nós é um amor incondicional, que se oferece inteiramente, não importando nossas limitações e pecados. Ele está sempre pronto a perdoar e a nos acolher em seus braços. Amar desse jeito, para nós, é muito difícil, pois somos criaturas inclinadas ao egoísmo, a pensar só em nós mesmos, em nosso bem, em nosso prazer. Mas não é impossível. Deve ser um exercício diário de renúncia aos próprios desejos, para fazer o bem para o outro, pois o amor não é sentimento, mas sim, ação, atitude. 

Somos chamados a amar a todos sem preconceito. O preconceito é uma ideia que temos do outro, que pode ser em relação a sua cor, sua raça, sua religião, seu sexo, seu estilo de vida, suas escolhas políticas, que nos impede de nos aproximar, de nos vincular e consequentemente de amar. O preconceito também faz com que julguemos os outros, muitas vezes sem nem conhecer direito a situação. 

Para conseguir vencer o preconceito precisamos fazer o exercício de nos colocar no lugar do outro e pensar com empatia. Aqui vale a “regra de ouro” de Jesus, expressa em Mt 7,12: "Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles". Vale refletir também sobre a razão de minha repulsa frente ao outro, qual a origem dessa barreira que levantei e que me impede de amar e servir. 

Se essa barreira se deve a alguma atitude do outro que eu considero errada, então o amor deve me levar a buscar o diálogo. Expor o meu ponto de vista, mas sempre com respeito, sabendo que o outro terá a liberdade de aceitar ou não; de mudar de atitude ou continuar agindo daquela forma. Independente de qual seja a resposta, devo oferecer acolhimento e compreensão. 

O outro lado dessa questão é qual deve ser a minha atitude se eu sofro algum tipo de discriminação ou preconceito. Nesse caso, devemos ter a consciência de que não podemos controlar as atitudes dos outros, apenas controlamos como reagir frente a elas. A atitude de “vitimismo” não ajuda em nada e demonstra imaturidade, pois transfere para o outro a responsabilidade do seu sentimento, da sua postura em relação à vida. 

Aqui também vale o exercício de me colocar no lugar do outro e pensar: talvez se tivesse tido a mesma educação, sofrido os mesmos traumas, vivido as mesmas experiências, poderia estar agindo muito pior do que essa pessoa. Então, não posso julgar e muito menos condenar o outro. O que devo é perdoar, lembrando as palavras de Jesus frente a seus algozes: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34) 

Isso não significa que não devemos corrigir se vemos a outra pessoa agindo de maneira errada. A correção fraterna também é uma atitude de amor. Mas a ênfase deve ser sempre na atitude errada e não na pessoa em si. Cada ser humano tem um valor inestimável para Deus, então precisamos também reconhecer esse valor do outro, independentemente de suas atitudes. 

Uma coisa que não podemos esquecer é que, para nos amarmos como irmãos, precisamos reconhecer que temos um Pai em comum. “Fraternidade sem paternidade é um contra senso”, já disse o Pe. Kentenich. Dessa forma, sem a dimensão sobrenatural, sem pedirmos insistentemente ao Pai a graça de aprendermos a nos amar, nada conseguiremos. O braço horizontal da cruz, que nos lembra que somos irmãos e estamos no mesmo nível, não está solto no ar, ele está fixo na haste vertical, que nos recorda que precisamos ter os pés no chão, mas buscar o alto, só assim amaremos fraternalmente. 

Amar não é fácil, pois significa um tipo de morte. Devemos matar o egoísmo em nós, a tendência a nos colocarmos no centro do mundo, de buscar só o que nos agrada e nos dá prazer e sair ao encontro do outro, para servi-lo em suas necessidades. Sozinhos, não conseguimos. Além de pedir insistentemente: “Senhor, ensina-me a amar!”, podemos contar com o auxílio de nossos irmãos, os santos, que dominaram a arte de amar e conhecer a biografia deles para ver como conseguiram colocar o mandamento do amor na prática. Devemos pedir ainda o auxílio de Maria Santíssima, nossa Mãe e Rainha e grande Educadora, nessa caminhada de crescimento no amor.


photo credit: Caitlinator <a href="http://www.flickr.com/photos/21484712@N00/2700430636">Alex & Ashley</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/">(license)</a>