Gostaria de analisar hoje o Capítulo III da Exortação
Apostólica Gaudete et Exsultate
(“Alegrai-vos e Exultai”), que fala sobre a
essência da santidade, sobre o que é necessário para chegarmos a ser santos. O
Papa Francisco indica o caminho: fazer, cada um a seu modo, o que Jesus disse
no sermão das bem-aventuranças. “A
palavra ‘feliz’ ou ‘bem-aventurado’ torna-se sinônimo de ‘santo’, porque
expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação
de si mesma, a verdadeira felicidade.”
Como diz S. Francisco de Salles, o amor é a lei fundamental do mundo. Devemos fazer tudo por amor, para o amor e
através do amor. O contrário do amor é o egoísmo. Todo ser humano nasce egoísta
por herança do pecado original. Assim, o trabalho de nossa vida deve ser matar
o egoísmo em nós e aprendermos a amar de verdade, nos doando totalmente a Deus
e ao próximo. É nisto que consiste a santidade.
O Papa analisa uma por uma das
oito bem aventuranças expressas no Evangelho de S. Mateus (Mt 5, 3-12).
Exporemos aqui apenas alguns pensamentos de algumas delas, para estimular o
leitor a uma mudança real de vida, respondendo com atitudes o amor infinito do
Pai por cada um de nós.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu”: as
riquezas não dão segurança nenhuma e quando o coração se sente rico, não tem
espaço para as coisas de Deus. Esta pobreza de espírito está intimamente ligada
à “santa indiferença” proposta por S Inácio de Loyola, ou seja, aceitar com
amor o que Deus enviar, seja saúde ou doença, riqueza ou pobreza, paz ou
turbulências. Ser pobre no coração: isso é santidade.
“Felizes os mansos, porque possuirão a terra”: se vivemos tensos,
arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. O correto é
olharmos para os defeitos e limites dos outros, com ternura e mansidão, sem nos
sentirmos superiores. Um santo ensina que devo olhar para a atitude do outro e
pensar: “se eu tivesse tido a mesma educação, sofrido os mesmos traumas, vivido
as mesmas experiências dessa pessoa, provavelmente me comportaria muito pior”.
Pensar assim nos mantém humildes e gratos a Deus por tudo o que somos e temos e
nos impele a estender a mão para ajudar o outro, evitando gastar nossas
energias com lamentações inúteis. Reagir com humilde mansidão: isso é
santidade.
“Felizes os que choram, porque serão consolados”: o mundo não quer
chorar, prega a ideologia do “fuja da dor e busque o prazer”, prefere ignorar
as situações dolorosas, escondê-las. Quem vê as coisas como realmente são e
chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser
autenticamente feliz. Essa pessoa é consolada com a consolação de Jesus. Desta
forma pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio e descobre que a
vida tem sentido socorrendo o outro em sua aflição. Saber chorar com os outros:
isso é santidade.
“Felizes os pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus”: muitas vezes somos causas de
conflitos e incompreensões. O mundo das murmurações e fofocas, feito por
pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz. Os pacíficos
são fontes de paz, constroem a paz e a amizade social. E na nossa comunidade,
se alguma vez tivermos dúvidas sobre o que fazer, “busquemos tenazmente tudo o
que contribui para a paz” (Rm 14,19) porque a unidade é superior ao conflito.
Não é fácil construir essa paz evangélica que não exclui ninguém; antes integra
mesmo aqueles que são um pouco estranhos, as pessoas difíceis e complicadas, os
que reclamam atenção, aqueles que são diferentes, aqueles que cultivam outros
interesses. Isso requer uma grande abertura da mente e do coração. Construir a
paz é uma arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza.
Semear a paz ao nosso redor: isso é santidade.
photo credit: marcoverch <a href="http://www.flickr.com/photos/149561324@N03/29280283258">Ausgestreckte Hand und verschwommener Hintergrund</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/">(license)</a>