quinta-feira, 31 de março de 2022

JESUS ME PREGOU UMA PEÇA


 

Um testemunho e convite a fazer adoração ao Santíssimo Sacramento

Na época da minha juventude, acreditava que a adoração eucarística era feita somente pelas freiras, aquelas que viviam na clausura. Eu frequentava o Santuário de Schoenstatt e rezava ali com Jesus no Sacrário, falava com a Mãe de Deus, mas não entendia aquela oração como verdadeira adoração.

Os anos foram passando e comecei a entender um pouco da importância da adoração. Ganhei uma oração chamada “15 minutos diante do Santíssimo Sacramento” (desconheço a autoria) e passei a tentar, pelo menos uma vez por mês, ficar diante do Santíssimo, fazer essa oração e um pouco de meditação.

Passaram vários anos e muitas vezes não cumpri esse propósito de fazer a adoração mensalmente. Mas parece que Jesus continuava me chamando. Em 2018 ganhei um livro chamado “Flores da Eucaristia”, de S. Pedro Julião Eymard, contendo meditações para cada dia do ano, falando sobre o Santíssimo Sacramento.

Necessidade de adoração

Ao ler essas palavras, entendi melhor a necessidade de adoração:

“Adorar é partilhar a vida de Maria sobre a Terra quando adorava o Verbo Encarnado em seu próprio seio virginal, e quando O adorava no presépio, na Cruz, na Divina Eucaristia. Adorar é partilhar a vida das grandes almas, cuja felicidade nesse mundo consistia em permanecer aos pés do Tabernáculo para adorar o Deus aí oculto e render-Lhe toda glória, todo amor de que eram capazes (...) Adorar é partilhar a vida dos Santos do Céu, onde eternamente louvam e bendizem o amor, a bondade, o poder, a glória, a divindade do Cordeiro imolado pela salvação dos homens e pela maior glória de Deus seu Pai. Que felicidade começar na Terra o que faremos por toda eternidade aos pés do trono de Deus! Que ventura fazer parte da coorte eucarística de Jesus Cristo neste mundo, conviver com sua Adorável Pessoa, constituir-Lhe uma guarda de honra, viver desde já uma vida celeste! Adorar é o ato soberano da virtude de religião, e que, por si só, substitui os outros todos, porque possui o valor de todos, e de todos é o fim.” (meditação do dia 10 de setembro)

Então, comecei a tentar fazer adoração uma vez por semana, por uma hora. Ficou claro para mim que se meu desejo é passar a eternidade com Jesus no Céu, tem lógica eu passar um tempo com ele diante do Sacrário. Ouvi dizer também que essa hora é entendida como aquela hora no Horto das Oliveiras, onde os apóstolos dormiram e não conseguiram rezar com Jesus. Então, fazemos esse tempo de adoração nos colocando junto a Jesus em seu momento de agonia. No começo, exigia um certo sacrifício para cumprir esse propósito, mas depois, era uma hora que eu ansiava por ficar junto a Jesus, que está prisioneiro no Sacrário.

Visitas diárias a Jesus Sacramentado

Bom, passado mais um tempo em que a adoração semanal se tornou para mim uma agradável prática, senti o chamado a todos os dias passar alguns minutos diante do sacrário. Como tenho o privilégio de morar a poucas quadras da minha paróquia, era fácil passar todos os dias lá e falar um “oi” pra Jesus. Era só isso mesmo: entrava na Igreja, ia até o Sacrário, ajoelhava, falava “oi”, as vezes rezava alguma coisa e logo ia embora. Não durava nem 5 minutos. Apenas uma vez por semana que passava a hora toda com Jesus.

Com todos os compromissos que tinha, marido, casa, filhos, apostolado, para mim já estava no limite, afinal, não era uma freira enclausurada, simplesmente era impossível passar mais tempo com Jesus eucarístico. Nessa época também já participava das missas diárias, então, no meu ponto de vista, já era o suficiente.

E aí veio a pandemia... Quanta saudade eu senti de poder fazer adoração e de receber a santa eucaristia! Por graça de Deus, alguns sacerdotes piedosos as vezes expunham o Santíssimo Sacramento em algum local e eu podia fazer um pouco de adoração. Tivemos também a graça de poder participar de algumas missas dominicais nesse tempo tão difícil do fechamento das igrejas.

Jesus me pregou uma peça!

Em julho de 2020, uma amiga me falou que em uma paróquia perto da minha casa, Jesus Eucarístico estava exposto durante todo o dia e todos os dias da semana e ela estava organizando uma escala para Jesus não ficar nenhum momento sozinho. Claro que aceitei fazer parte dessa equipe de adoradores e passei a ir todos os dias na igreja passar uma hora com meu Senhor e Salvador.

Passados dois meses, o pároco decidiu voltar Jesus para o sacrário, então não seria mais necessária nossa equipe de adoradores. Foi então que percebi que Jesus havia me pregado uma peça! Depois de todo esse tempo indo todos os dias, inclusive nos fins de semana, passar essa hora juntos, como que agora eu poderia falar que não era possível? Que não dava certo? Que não tinha tempo?

Além disso, vi que minha intimidade com Jesus havia crescido muito nesse tempo, então, não tive como parar. Atualmente só nos fins de semana que não faço a hora toda, para não tirar muito tempo do convívio familiar, mas sigo firme visitando Jesus todos os dias.

Assim, convido a todos a fazer essa experiência de passar um pouco de tempo com Jesus diante do Sacrário. Sei bem que cada um tem a sua realidade, seus compromissos, mas vale a pena fazer um pouco de esforço para ficar com Jesus. E se os seus horários são incompatíveis com os horários em que a igreja está aberta, é possível também fazer uma adoração espiritual. Existem lugares em que o Santíssimo fica exposto 24h por dia e há transmissão por Youtube (esse aqui é na Polônia https://www.youtube.com/watch?v=QVpT2mBq5Zk). Você pode visitar espiritualmente esse sacrário e fazer seu momento de adoração.

Encerro com mais algumas palavras de S. Pedro Julião Eymard:

“Admirai os sacrifícios que Jesus se impõe a Si mesmo em seu estado sacramental: oculta sua glória divina e corporal a fim de não vos amedrontar e ofuscar – oculta sua majestade para que não temais vos acercar dEle e Lhe falar como um amigo a seu amigo – retém o seu poder a fim de não vos atemorizar ou vos punir – não vos mostra a perfeição de suas virtudes para não desanimar vossa fraqueza – modera mesmo o ardor de seu Coração e de seu amor para convosco, visto que não lhe poderíeis suportar a força e a ternura – deixa-vos entrever tão somente a sua bondade que transluz e se escapa através das santas espécies como os raios do sol por entre a nuvem diáfana. Oh! Quanto Jesus Sacramentado é bom! Está disposto a vos receber a toda hora do dia e da noite, pois seu amor não conhece repouso, está sempre cheio de doçura para convosco. Esquece os vossos pecados, as vossas imperfeições, quando ides visitá-Lo, e vos fala somente de sua alegria, de sua ternura, de seu amor. Ao receber-vos, dar-se-ia que tem necessidade de vós para ser feliz.” (meditação do dia 23 de setembro)

 

Photo by Łukasz Dańczak on Unsplash

terça-feira, 15 de março de 2022

EU NÃO QUERO PERDOAR

 


Eu não quero perdoar. Não é justo. Essa pessoa me magoou demais. E o pior: não se arrependeu e não pediu perdão.

E agora? Será que essa atitude de não querer perdoar realmente me faz bem? Quando alguém me causa um mal, essa ofensa atinge diretamente o meu sentimento de justiça. E a justiça exige reparação para o mal cometido e a punição daquele que ofendeu.

Porém o perdão está além da justiça, ele entra no âmbito da misericórdia. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia” (Mt 5,7). A misericórdia implica em dar ao outro aquilo que ele NÃO tem direito. E o que deve nos mover a agir com misericórdia, é o amor.

São Paulo nos exorta: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entra­nhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós. Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição." (Col 3, 12-14)

O perdão liberta

Somos convidados a colocar em prática a misericórdia e o perdão. Mas por quê? É porque o perdão nos liberta. Aquele que fica remoendo os fatos, revivendo os acontecimentos que feriram o seu coração, permanece escravo daquele que o ofendeu. Escravo porque não se liberta e não consegue viver sem pensar naquela ofensa.

Quando conseguimos perdoar, nos sentimos mais leves, mais felizes, gerando até um sentimento de compaixão por aquele que nos ofendeu. Conseguimos também nos libertar do passado, de ficar tentando modificar o que já aconteceu ou ficar imaginando como tudo seria se aquela ofensa não tivesse acontecido.

Consciência das próprias limitações

Perdoar não é esquecer e nem fingir que não aconteceu nada. Perdoar é tomar a decisão de que aquela falta que o outro cometeu contra si não vai mais lhe incomodar. E para isso, a pessoa precisa ter a consciência de que também erra, de que também magoa e que precisa sempre do perdão do outro.

Quanto maior for a consciência de que somos seres limitados, de que frequentemente cometemos erros, de que sempre precisamos do perdão, principalmente de Deus, mais fácil será perdoar os erros do outro, principalmente os daqueles que convivem diariamente conosco.

Devemos pensar: se eu tivesse nascido na mesma família da pessoa que me ofendeu, sofrido os mesmos traumas, recebido a mesma educação, poderia até agir muito pior que essa pessoa que me magoou. Precisamos procurar remover as camadas dos defeitos e até das maldades dessa pessoa, para enxergar o bem que certamente há em seu coração.

O perdão não é uma solução para ofensa

O perdão não é ficar indiferente. Não é uma solução para ofensa, ficar frio ou insensível perante o mal. Implica sofrer, sentir a pena e depois perdoar e desculpar quem ofendeu. Perdoar significa que o amor que sentimos é tão grande que vence a ofensa.

O fato de ter perdoado a pessoa não significa necessariamente que preciso conviver com ela ou reatar o nível de intimidade que havia antes da ofensa. Não precisamos nos expor a sermos ofendidos novamente, mas devemos aprender a ter uma convivência sem rancores.

Perdoar não é fácil, mas é possível

Perdoar não é uma atitude fácil. Dependendo do grau da ofensa, da profundidade da cicatriz deixada, o perdão pode demorar muito tempo para ser alcançado.

Não é preciso ter pressa. O que é urgente é decidir que irá perdoar e que aquela falta, aquela mágoa, não irá mais lhe aprisionar. Devemos sempre pedir a Deus, a graça do perdão. Aproximar-se do coração de Jesus, que tem um bálsamo eficaz para curar as feridas do seu coração. Sem a graça de Deus, não é possível perdoar, pois a nossa natureza ferida pelo pecado original é orgulhosa e tende sempre a pensar em si mesma, em sua ferida, olhando os acontecimentos somente pelo seu ponto de vista. O orgulhoso não perdoa. É preciso humildade para pedir perdão e para perdoar.

Ferramentas para conseguir perdoar

O Sacramento da Reconciliação (Confissão) é um meio importantíssimo para conseguir o perdão, tanto de si mesmo, como perdoar os demais. É um sacramento de cura, que restaura a alma e traz a paz interior. Pode demorar muito tempo para conseguirmos perdoar, mas a Confissão é um verdadeiro remédio, que vamos tomando até fazer efeito.

Outro instrumento que podemos usar para nos ajudar a sermos misericordiosos é o “terço do perdão”. Usamos um terço comum, iniciamos com o Creio, Pai Nosso e 3 Ave Marias. Nos mistérios, rezamos o Pai Nosso e nas contas, ao invés de rezar a Ave Maria, rezamos: “eu perdoo (falar o nome da pessoa) e ela me perdoa.” Quando acabar as 5 dezenas, rezar a Salve Rainha.

Como sei que perdoei alguém?

Sabemos que realmente conseguimos perdoar quando lembramos do acontecido, sem que essa memória traga algo de ruim, de perturbação. O perdão faz com lembremos, mas ficamos leve, não pesa o coração.

O perdão é fundamental e precisa ser dado sempre e nas pequenas coisas, desde algo que o irrita e que a pessoa faz sem saber até as coisas que ela faz conscientemente para irritá-lo e magoá-lo. O perdão devolve o equilíbrio ao relacionamento e quando ele é negado, pode causar inúmeras doenças, inclusive o câncer e outras doenças autoimunes.

Vamos seguir o exemplo de Jesus que nos ensinou a rezar: "perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam" (Mt 6,12). E também na Cruz, pediu: "Pai, perdoa-lhes; porque não sabem” (Lc 23,34).


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