quarta-feira, 23 de novembro de 2022

QUAL É A MENSAGEM QUE SEU MODO DE VESTIR COMUNICA?

 


Há algum tempo, escrevi sobre a influência que a roupa tem nas graças que recebemos ao participar da santa missa, pois a forma que nos vestimos nos ajuda na conscientização do que estamos prestes a fazer: testemunhar o sacrifício que Jesus fez no Calvário para nos salvar. Quanto mais conscientes estamos, maior é a nossa disposição para receber as graças que Deus quer nos enviar por participar da santa missa (artigo completo aqui)

Mas e nos outros lugares? Em casa, no trabalho, no lazer? Devemos nos preocupar com a forma de nos vestir? É importante entender que a nossa roupa comunica uma mensagem. Dependendo da forma que nos vestimos, a mensagem muda. Assim, é sempre relevante pensar em que tipo de mensagem queremos passar para as pessoas que nos encontrarem quando estamos vestidos de determinada forma.

Cada roupa uma mensagem

Uma pessoa que está vestida de maneira elegante, transmite uma mensagem de respeito e seriedade. Uma pessoa que está vestida de forma desleixada, transmite uma mensagem de irresponsabilidade, de inconstância, de insegurança. Como seres humanos nos comunicamos com todos os cinco sentidos e para que a mensagem seja corretamente entendida pelo outro, é preciso coerência. O nosso discurso, aquilo que falamos, tem que ser harmônico com a forma que nos vestimos e a maneira que nos movimentamos, os gestos que fazemos com nosso corpo.

Vestir-se bem, de uma maneira adequada, não significa usar roupas de marca, caras, ou estar sempre de terno e gravata ou vestido e salto alto. É perfeitamente possível estar bem-vestido e de maneira confortável e casual. A forma de se vestir vai depender do estilo pessoal de cada um e o lugar ou ocasião.

Vestir-se bem dentro de casa

O local que normalmente não nos preocupamos muito com a forma que estamos vestidos é dentro de casa. Precisamos lembrar que dentro de casa estão as pessoas que mais amamos, aqueles que são mais importantes em nossa vida. Assim, eles são os que mais merecem nos verem trajados de uma maneira que possa transmitir todo nosso amor e respeito que temos por eles e não uma mensagem de pouco caso ou desleixo.

A beleza é o refúgio do bem e o esplendor da verdade. Então, se queremos proporcionar aos nossos filhos ou às pessoas que convivem conosco um ambiente em que possam sentir de alguma forma alguns traços do nosso Criador, que é o Bom, o Belo e o Verdadeiro, é essencial que nossa aparência seja agradável e bela. Não importa quais são suas características físicas, é sempre possível vestir-se e se apresentar de uma forma bonita.

Efeitos de uma boa aparência

A consultora de imagem Paula Serman ensina sobre os efeitos de uma boa aparência:

- “Quando nos arrumamos, vestimos nossa armadura para enfrentar as batalhas da vida. Vestir-se de adequadamente é próprio de uma pessoa madura e comprometida com a vida;

- Vestir-se de forma adequada para os diferentes compromissos, nos ajuda a organizar nosso dia mentalmente, nos instala em nossa realidade. E quando estamos desanimadas e vemos no espelho uma imagem bonita, ganhamos ânimo e força;

- Nossa imagem transmite disponibilidade para servir, eleva o tom humano e dá categoria ao ambiente”

Meu testemunho

Desde 2005 sou mãe em tempo integral, então a maior parte do meu tempo eu passo dentro de casa. Mas só há alguns anos que entendi a importância de me vestir bem e de usar maquiagem (leve) para passar esse tempo com as pessoas que mais amo. Percebi que minha disposição melhorou muito, que meus filhos têm mais respeito e principalmente que meu marido ficou muito mais feliz por ver que eu me arrumo especialmente por causa dele. É uma das formas que encontrei de demonstrar meu amor por ele e nosso relacionamento ficou ainda melhor. Assim convido vocês a fazerem essa experiência!


crédito da foto: Photo by Marina Abrosimova on Unsplash


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

A DIFÍCIL TAREFA DE DEIXAR QUE OS FILHOS COMETAM ERROS

 


Nós, mães, somos programadas para proteger os filhos sempre. Desde o ventre, nossa missão é fazer com que aquelas criaturinhas cresçam e se desenvolvam saudáveis, alimentando, cuidando, educando e principalmente protegendo de todos os perigos. Em qualquer situação de dor, desde um joelho ralado até um coração partido, é para os braços da mãe que o filho corre. E nós fazemos de tudo para vermos nossos filhos felizes.

Porém, chega a hora que precisamos aprender a deixar que eles cometam erros. Como é difícil essa tarefa! Se dependesse de nós, certamente tomaríamos todas as decisões por eles e sofreríamos as consequências por eles. Mas é preciso permitir que eles cresçam e amadureçam; escolher errado e cometer erros faz parte desse processo.

Aqui em casa sempre tentei ensinar os filhos a fazerem escolhas. Desde pequenos, entendi que a melhor coisa que poderia fazer por eles é ensiná-los a escolher. A vida é repleta de escolhas. Escolhemos a todo momento: desde a roupa que vamos vestir, o que vamos comer até a profissão que seguiremos ou a pessoa que decidimos passar a vida juntos. Toda escolha tem uma consequência e enquanto eram crianças, era mais fácil mostrar a consequência e permitir que sofressem com ela.

Agora que estão se tornando adultos, as coisas são mais complicadas. As consequências são mais graves e podem ser irreversíveis. Como lidar com isso? Como não interferir nas escolhas dessas pessoas que amamos mais que tudo? O melhor exemplo que podemos seguir é de Deus Pai.

O Pai nos ama com amor infinito e nos criou para, um dia, estar com Ele na glória do Céu. Para sermos capazes de amar, Ele nos deu a liberdade. Ele nos deu Jesus Cristo como nosso exemplo a seguir, que mostrou o caminho que leva ao Céu e morreu na cruz para nos salvar. Ele nos deu a Igreja, nossa Mãe e Mestra, que nos orienta nesse caminho. Ele nos deu todos os sacramentos que fortalecem nossa fé e nos alimentam nessa caminhada. Ele nos deu Maria Santíssima, nossa Mãe e Educadora, para nos socorrer em todas as nossas necessidades. Ele nos deu nosso santo anjo da guarda, poderoso protetor, que nos acompanha desde que fomos concebidos e estará conosco até o nosso julgamento, no dia de nossa morte.

Ele nos sustenta e nos enche de graças todos os dias, mas, por causa de nossa liberdade, podemos escolher outro caminho. Podemos escolher rejeitar esse amor. E o que o Pai faz? Continua nos amando, cuidando de nós e esperando que possamos voltar ao caminho da verdadeira felicidade. Ele não impede que soframos as consequências de nossas escolhas, inclusive a pior de todas, a condenação ao inferno, caso morramos em estado de pecado mortal. Mas Ele está sempre pronto a nos receber de braços abertos, como o Pai do filho pródigo, cada vez que nos arrependemos e decidimos voltar a comunhão de amor com Ele.

Esta é a atitude que devemos ter com nossos filhos. Orientá-los da melhor forma possível, explicar sobre as consequências de suas escolhas, mas deixar que eles tomem suas próprias decisões. Mesmo que isso signifique escolher um caminho longe de Deus que possa levá-los ao inferno. E se realmente essa for a escolha deles, o que cabe a nós é rezar muito, dobrar nossos joelhos e implorar ao Pai de Misericórdia que toque o coração deles para que se arrependam e voltem ao caminho da vida, da felicidade. Podemos entregá-los nas mãos de Maria Santíssima e pedir a Ela que os eduque, que supra as nossas falhas na educação deles e que os proteja de todo Mal.

E quando eles decidirem voltar, nossa atitude deve ser recebê-los de braços abertos, com muita alegria, pois como disse Jesus "assim have­rá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento" (Lc 15,7)



quarta-feira, 24 de agosto de 2022

MEIA IDADE – MUITO MAIS QUE UMA CRISE

 

Esse artigo foi escrito pela minha amiga Sarah Damm, que com muita generosidade permitiu que eu traduzisse e publicasse aqui. Se desejar, pode ver o post original em: https://blessedisshe.net/blog/midlife-more-crisis/

Era o meu 46º aniversário. Não havia muita festa, porque era uma quarta-feira. E os aniversários no meio da semana podem ser difíceis de fazer numa família ocupada de oito pessoas, com atividades escolares, esportivas e de grupos de jovens. Eu sabia que iríamos comemorar no fim de semana que se aproximava, e eu realmente estava bem com isso.

Então, por que me senti tão triste ao me arrastar para a cama?

Sentir-me melancólica por causa do meu aniversário me fez dar uma volta. Sempre gostei do meu aniversário, e a idade nunca me incomodou. Entrei na casa dos 30 e 40 anos sem nenhum desejo de ser mais jovem do que eu era. E, de fato, tive a tendência de olhar para o ano que se aproximava - mais velho (e esperançosamente mais sábio) - com contentamento.

O que fez com que fazer 46 anos fosse tão diferente? Por que "senti" minha idade de uma maneira que realmente me fez sentir velha? E o que me fez sentir uma tristeza pela vida que eu não tinha sentido antes?

Entrando na meia-idade

Durante os meses seguintes, meu marido e eu tivemos várias conversas sobre as mudanças que estávamos vivendo em nossas próprias vidas, em nosso casamento e em nossa família. Ambos nos sentimos um pouco trêmulos e incertos, como se de repente nossas vidas se sentissem estranhas para nós. Percebemos que o que costumava funcionar não funcionava mais. Nossos ritmos e rotinas normais não mais se sentiam suaves. Ao invés disso, estávamos dando choques na estrada e caindo em alguns buracos bem largos.

Além disso, nossa comunicação estava se tornando irregular e não intencional. E estávamos perdendo oportunidades de crescer juntos nesta nova estação da vida.

Embora não tivéssemos muitas respostas, nós nos rendemos ao fato de termos entrado na meia-idade.

E nos perguntamos: e agora?

Mais para a meia-idade do que uma crise

Fazendo uma simples busca na Internet, a terminologia mais comum em torno da estação de meia-idade é "crise".

Isso não é horrível? E desanimador? Por que esta estação da vida (e não outras) tem que ser referida como uma crise? E a crise é inevitável?

Talvez a meia-idade seja descrita como uma crise porque parece que vem do nada. Um dia, a vida continua como tem sido nos últimos 20 anos. E no dia seguinte, a vida parece muito diferente.

A mudança, no entanto, acontece com o tempo. Mas a agitação da vida nos distrai das mudanças que estão ocorrendo.

Eu pessoalmente noto mudanças de meia-idade em três áreas da minha vida:

1.Maternidade

2.Casamento

3.Missão

Maternidade

À medida que meus filhos terminam o ensino médio e entram na vida adulta, meus filhos em idade escolar estão cada vez mais ocupados com a escola, amigos e empregos de meio período. Todos eles ainda precisam de mim, mas essa necessidade é diferente e certamente mais infrequente. E embora eu ainda seja chamada para estar disponível, também tenho mais tempo em minhas mãos. O tempo que costumava ser preenchido com tanta facilidade agora está pronto para algo... Mas o quê?

Casamento

Olho para meu marido do outro lado da mesa e não consigo me lembrar da última vez que tivemos uma conversa profunda sobre algo que não fossem crianças, horários e finanças. Quem é este homem bom e piedoso? Quero me reencontrar com ele, mas não sei como. Parece que há muito a dizer e não há tempo suficiente para dizer tudo.

Missão

E depois há os objetivos que ainda não foram atingidos. O livro que eu não escrevi. Os lugares que ainda não visitei. Será que eles continuarão sonhos? Chegou a hora de sonhar de novo? Qual é o chamado de Deus para mim? E algo me impede de cumpri-lo?

Da crise ao dom

Enfrentar oportunidades para me redescobrir, me reencontrar com meu marido e redefinir minha maternidade é ao mesmo tempo emocionante e avassalador.

Mas por onde eu começo? Como isso vai funcionar?

Recentemente, fui lembrada que a aridez na oração é simplesmente a maneira de Deus preparar a alma para uma experiência mais profunda dEle. Como um fazendeiro cultiva o solo antes de plantar uma nova cultura, o Senhor limpa a paisagem de nossos corações antes de começar um novo trabalho em nós. Da mesma forma, Deus usa a aridez na oração para aumentar nossa consciência sobre Ele ou reacender nosso desejo por Ele. Naquele terreno recém lavrado, podemos não ver muito desenvolvimento, mas o trabalho oculto do agricultor é vital para o crescimento da nova safra.

Da mesma forma, a meia-idade pode parecer um deserto ou um lote de terra recém-lavrado, mas essa secura ou vazio é simplesmente a maneira de Deus nos preparar para algo mais. Ele está nos convidando a prestar atenção a quem Ele é e o que Ele está fazendo. Ele está nos mostrando que Ele é a resposta às nossas perguntas, e que nossas necessidades e desejos serão atendidos Nele.

Esta perspectiva nos permite perceber a meia-idade não como uma crise, mas como um presente.

Lemos em Eclesiastes 3,1: “"Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu". Diz ainda que Deus "fez tudo bonito em seu tempo".

Isto confirma que a meia-idade não é uma crise. Ao contrário, é um tempo e uma coisa debaixo do céu. É uma estação intencional para entrar "para um tempo como este" (ver Ester 4:14). E se torna o catalisador para Deus cultivar nossos corações para algo novo.

Você não percebe isso?

Como fazemos a mudança da crise para o dom? Como reconhecemos a beleza desta estação?

Aqui estão quatro maneiras de aprender a abraçar a meia-idade como um dom e reconhecer as bênçãos ao longo do caminho.

1. Rezar com a Escritura

Além das Escrituras citadas acima, aqui estão alguns versículos a serem levados à oração durante esta estação da vida.

"O deserto e a terra árida se regozijarão. A estepe vai alegrar-se e florir. Como o lírio ela florirá, exultará de júbilo e gritará de alegria. "Isaías 35,1-2

"Não vos lembreis mais dos acontecimentos de outrora, não recordeis mais as coisas antigas, porque eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes? Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela estepe." Isaías 43,18-19

"Estou persuadido de que aquele que iniciou em vós esta obra excelente lhe dará o acabamento até o dia de Jesus Cristo." Filipenses 1,6

2. Prestem atenção

Enquanto estamos destinados a estar presentes a nosso momento de meia-idade, é também um momento para observar onde estivemos e contemplar a direção que estamos seguindo.

* Seja grato pelo passado.

* Reconcilie feridas que eu infligi ou recebi.

* Convide o Senhor a escrever certo por linhas tortas.

* Fique quieto e saiba que Ele é Deus (ver Salmo 46:10).

* Espere no Senhor, mesmo que eu ainda não consiga ver o que Ele está fazendo.

Renovar Sua Vocação

Embora a vida não seja mais o que costumava ser, Deus nos convida a recuperar nossa identidade Nele e descobrir novas maneiras de viver isso.

       - Esteja atenta a novas maneiras de amar e apoiar o filhos adultos.

       - Com relação ao tempo, concentre-se na qualidade sobre a quantidade. 

       - Peça ao marido que vá dar uma caminhada.

       - Escreva-lhe um bilhete de amor

      -  Inscreva-se para um retiro silencioso.

       - Acomode-se em uma oração mais silenciosa e contemplativa.

Vamos caminhar juntos

Sinto-me encorajada a não me acanhar de falar da meia-idade. Pode ser estranho e cru, porque é uma estação tão nova para mim. Eu não tenho nada descoberto, mas estou aprendendo à medida que vou caminhando. E podemos caminhar juntos, lado a lado, com o Senhor como nosso guia, conduzindo-nos através do dom que é a estação da meia-idade.

 

 


segunda-feira, 18 de julho de 2022

MEDITAÇÃO DA VIDA DIÁRIA: OUVIDO NO CORAÇÃO DE DEUS

 

Oração mental, oração íntima, lectio divina, oração meditativa, leitura orante, meditação da vida diária, todos esses são termos equivalentes para descrever um tipo de oração sem a qual não é possível crescer na vida cristã. É a forma de oração que nos coloca em contato mais pessoal com nosso Pai e Senhor. Cada um desses termos, desenvolvidos por diferentes fundadores, tem suas particularidades e modo de execução, mas o objetivo é o mesmo: encontrar Deus, conhecê-lo, para poder melhor amá-lo e servi-lo.

O Catecismo da Igreja Católica, nos parágrafos 2705 a 2708, descreve o que é a meditação católica: “A meditação é sobretudo uma busca. O espírito procura compreender o porquê e o como da vida cristã, para aderir e corresponder ao que o Senhor lhe pede.” (CIC 2705)

“Meditar no que se lê leva a assimilá-lo, confrontando-o consigo mesmo. Abre-se aqui um outro livro: o da vida. Passa-se dos pensamentos à realidade. Segundo a medida da humildade e da fé, descobrem-se nela os movimentos que agitam o coração e é possível discerni-los. Trata-se de praticar a verdade para chegar à luz: «Senhor, que quereis que eu faça?»” (CIC 2706).

A meditação põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Esta mobilização é necessária para aprofundar as convicções da fé, suscitar a conversão do coração e fortalecer a vontade de seguir a Cristo” (CIC 2708)

A falta de uma vida de oração meditativa pode ser a causa porque muitas pessoas que são piedosas, recebem a Eucaristia diariamente, rezam bastante as orações vocais como o santo terço, novenas, exercem seu apostolado, se confessam regularmente, não melhoram como pessoas, não crescem nas virtudes.

Todos esses meios são muito bons e ajudam a crescer na fé e nas virtudes, porém precisam estar ligados ao encontro pessoal com Deus, a enxergar a Verdade na sua vida, caso contrário não produzem esses frutos.

Vejamos mais um parágrafo do Catecismo da Igreja Católica sobre a oração:

A maravilha da oração revela-se precisamente, à beira dos poços onde vamos buscar a nossa água: aí é que Cristo vem ao encontro de todo o ser humano; Ele antecipa-Se a procurar-nos e é Ele que nos pede de beber. Jesus tem sede, e o seu pedido brota das profundezas de Deus que nos deseja. A oração, saibamo-lo ou não, é o encontro da sede de Deus com a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d'Ele” (CIC 2560)

É através da oração meditativa que podemos saciar um pouco da sede que nossa alma tem de Deus e muitas vezes nem nos damos conta. “Inquieto está nosso coração enquanto não repousa em Ti”, nos disse Sto. Agostinho. É nesse encontro pessoal com o Senhor que também podemos saciar a sede que Deus tem do nosso amor, de nossa disponibilidade de passar um tempo com Ele, de nossa docilidade ao Espírito Santo para cumprir Sua amorosa vontade.

Frei Antonio Royo Marin, que foi um grande diretor espiritual de muitas almas, é enfático: “A experiência confirma com toda a certeza e evidência que absolutamente nada pode suprir a vida de oração, nem sequer a recepção diária dos santos sacramentos[1]

A meditação da vida diária, conforme proposta pelo Pe. José Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt faz parte desse tipo de oração mencionada pelo Fr. Royo Marin. Esse tipo de oração não busca um maior conhecimento intelectual, mas parte dele para buscar a Verdade, que é Deus, e ao encontrá-la, especialmente ao encontrá-la em nossa vida diária, poder crescer no amor a Ele.

A matéria desse tipo de oração parte de um acontecimento da vida, que pode ser desde um simples perder a hora de acordar, ou enfrentar um trânsito inesperado até acontecimentos mais marcantes como a perda de um emprego ou a morte de uma pessoa querida.

Deus quer falar conosco todos os dias. Ele nos ama com amor infinito e quer demonstrar esse amor para que possamos percebê-lo e senti-lo. E Ele usa de todos os meios para chamar nossa atenção: a natureza, as pessoas, o clima, e cada acontecimento de nossa vida, permitidos por Ele. Nós só precisamos abrir os olhos e o coração para enxergá-los.

Assim, a meditação da vida diária proposta pelo P. Kentenich consiste em reservar alguns minutos do seu dia para se colocar em diálogo com Deus, partindo de um acontecimento da sua vida. É preciso uma preparação para esse encontro, da mesma forma que nos preparamos para encontrar com uma pessoa que amamos e que queremos escutar.

Como se trata de um diálogo sobrenatural, precisamos também preparar o ambiente, com imagens que nos remetam a esse mundo sobrenatural, podemos ter também o auxílio de músicas espirituais, como o canto gregoriano ou alguma música instrumental ou ainda de uma vela acesa.

Depois, acalmamos nosso coração, tentando afastar as distrações de nossas preocupações e nos colocamos na presença de Deus, invocando o Espírito Santo. A partir daí refletimos sobre o acontecimento que previamente escolhemos e podemos usar 3 perguntas propostas pelo P. Kentenich para ajudar nessa reflexão:

 

1.     O que Deus quer me dizer com isso? (através desse fato ou circunstância)

2.     O que digo a mim mesmo?

3.     O que respondo a Deus?

 

Ao refletirmos tentando responder essas perguntas, podemos perceber Deus falando conosco através desse acontecimento. É um momento de encontro com Deus em nossa vida, então depois de conversarmos um pouco com ele, pensando em como podemos responder a esse chamado para amá-lo, fazemos uma pequena ação de graças e já ficamos na expectativa do próximo encontro.

Dessa forma, de acontecimento em acontecimento, vamos crescendo no amor por começarmos a ver Deus agindo em nossa vida, mesmo que essa ação signifique permitir uma dor ou sofrimento. E quanto mais colocamos na prática essa forma de oração, mais crescemos em nossa vida interior, fortalecendo as raízes de nossa alma para enfrentar qualquer dificuldade que possa se apresentar para nós. E ainda conseguimos uma tal estabilidade emocional que podemos ser abrigo para muitas pessoas.

 



[1] Antonio Royo Marín, Teología de la perfección cristiana. Madrid: BAC, 1954, p. 664, n. 499. 

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segunda-feira, 4 de julho de 2022

PREPARAÇÃO PARA A MEDITAÇÃO: OUVIDO NO CORAÇÃO DE DEUS

 


Continuando nossa série de artigos sobre a meditação da vida diária, conforme ensinado pelo Pe. Kentenich, hoje trataremos do tema da preparação para a meditação. “O enfoque de nosso Pai e Fundador é meditar onde nos encontramos com Deus e como nos encontramos com Deus”, nos explica o Pe. Humberto Anwandter.

Para perceber esse atuar de Deus em nossas vidas é preciso nos deter, parar para contemplar, para nos encontramos com o Pai, que, como diz a fé prática na divina providência, cuida de todos os acontecimentos da história mundial, mas também da história da minha vida. Todo encontro mais pessoal e profundo, exige uma certa preparação. Ainda mais vivendo da forma agitada como acontece em nosso mundo, seria ilusão pensar que é possível passar da plena atividade diretamente para um diálogo íntimo com Deus.

Assim, existe uma tríplice preparação para a meditação: a preparação remota, a preparação próxima e a preparação imediata.

Preparação remota

A preparação remota diz respeito a algumas atitudes prévias que precisamos conquistar para conseguirmos fazer uma boa meditação. A primeira delas é reservar um tempo para meditar, pois todo encontro de amor requer um tempo. E não basta dizer: “amanhã farei meus 15 minutos de meditação”. Isso é muito vago e nossa tendência é procrastinar. Então o ideal é efetivamente marcar um horário na nossa agenda, por exemplo, das 08:00 às 08:15 e cumprir esse horário.

Como nossas agendas normalmente são muito cheias, reservar esse tempo para meditação pressupõe deixar alguma coisa de lado. Como diz o Pe. Rafael Fernandez: “Sejamos realistas: sem renúncia ou um melhor ordenamento de nossa agenda diária, não será possível contar com o tempo necessário para um encontro mais profundo com o Senhor. (...) Se não damos espaço aos ‘encontros de amor’ com Deus; se não cultivamos nosso amor a Ele, então nosso contato pessoal com Ele também irá esfriar, se tornará cada vez mais distante e impessoal, até desaparecer. (...) Dar um espaço para a meditação impede que isso aconteça.”

Para nos introduzirmos na prática da meditação é necessário também possuir uma capacidade contemplativa, ou seja, a capacidade de assombrar-se e maravilhar-se diante das coisas. É similar a capacidade que crianças possuem de olhar, por exemplo, uma borboleta e se encantar com os seus movimentos, suas cores, o bater de suas asas...

Em geral nós olhamos as coisas e as pessoas de um ponto de vista de sua utilidade prática, nos colocando no centro. Além disso o excesso de estímulos que recebemos diariamente através das diferentes telas (celular, computador, televisão), nos atrapalha a parar para observar e admirar as coisas e as pessoas que nos cercam.

Precisamos aprender a “nos deter ante a realidade que nos rodeia; a reparar nos detalhes; ir mais além da superfície; a contemplar em seu conjunto e em seu significado o que observamos, seja uma coisa, uma pessoa ou um acontecimento”, nos ensina o Pe. Rafael Fernandez. Para isso precisamos, aos poucos, ir treinando o nosso olhar e começar a fazer esse pequeno exercício de contemplação, um pouquinho a cada dia.

Mais um passo importante da preparação remota é dar espaço aos valores do coração. Como dizia S. João Paulo II fomos criados para amar, não simplesmente para produzir ou organizar. O Pe. Kentenich também insistia na importância do organismo de vinculações, ou seja, o cultivo dos vínculos de amor pessoais, tanto na ordem natural como na sobrenatural. A meditação, como escola de amor, como meio de aprofundar nossa vinculação pessoal a Deus, nos ajuda a desenvolver e fortalecer essa capacidade de amar que é infundida, como semente, em nosso ser.

Por fim, é necessário também reavivar nossa fé na divina providência, pois através da meditação queremos nos encontrar com Deus, por isso é imprescindível ter fé em Deus. Então tudo o que afirma e fortifica nossa fé, redunda em uma maior possibilidade de encontrar a Deus na meditação. Os meios que podemos utilizar para aumentar a nossa fé são os sacramentos, especialmente o da confissão e o da eucaristia, além da leitura da Palavra de Deus. É importante lembrar que devemos sempre rezar pedindo para aumentar a nossa fé. Essa é a única oração que podemos ter plena certeza que será atendida imediatamente.

Preparação próxima

O Pe. Kentenich ensina que a preparação próxima para a meditação são nossas práticas espirituais, o que ele denomina de “pausas criadoras” de oração (momentos curtos nos quais elevamos nosso espírito ao Senhor) no meio do dia de trabalho.

A oração é a “respiração da alma”, assim se não rezamos, nosso espírito morre, perdemos o contato com o mundo sobrenatural. Pensamos em primeiro lugar na oração da manhã e na oração da noite, que devem ser feitas de maneira bem consciente, oferecendo todo nosso dia de trabalho e depois agradecendo o dia que passou. O livro de orações Rumo ao Céu tem a oração da manhã (RC 3 – 17) e a oração da noite (RC 357 – 385) escritas pelo próprio Pe. Kentenich e que podemos usar em nosso dia a dia.

Além dessas orações que marcam o início e o fim de cada dia, devemos complementar com as “pausas criadoras”, essas pequenas demonstrações de amor e carinho com Deus, com as pessoas do mundo sobrenatural. Elas podem ser feitas com as jaculatórias, que tem origem do latim e significam “flechas atiradas”. Assim, as jaculatórias são como flechas de amor que atiramos para o Céu, para atingir o coração de Deus. Alguns exemplos de jaculatórias: “Jesus eu confio em Vós”; “Ave Maria por tua pureza conserva puro meu corpo e minha alma”; “Oh Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”, etc. Você pode criar sua própria jaculatória favorita ou simplesmente ao longo do dia, dizer: “Jesus eu te amo”.

“As pausas criadoras, intercaladas com os afazeres cotidianos, tal como as concebe o Pe. Kentenich, são uma ajuda privilegiada que nos permite manter viva a presença e o amor de Deus em meio às nossas atividades.”  (P. Rafael Fernandez)

Outra prática que pode constituir uma “pausa criadora” é cumprimentar a Jesus Eucarístico sempre que passamos em frente a uma Igreja. Ou até desviar um pouco o caminho que fazemos para propositalmente passar em frente a uma Igreja só para poder falar “oi” pra Jesus, com um sinal da cruz.

“Como o pássaro não abandona seu ninho, nosso amor gira ao redor dos tabernáculos sagrados. Onde a lâmpada sagrada flameja e não se apaga, nossas almas ardem por desposar-se contigo” (RC 163-164).

Mais exemplos são: olhar um crucifixo, saudar uma imagem de Maria ao entrar ou sair de casa, ou quando mudamos de atividade; uma comunhão espiritual; beijar nossa medalha de consagração, etc. Pe. Rafael Fernandes nos ensina que “a forma e o conteúdo dessas pequenas pausas criadoras dependem de nosso temperamento e de nossa relação com Deus.”

Por fim, o Pe. Kentenich destaca a importância do momento em que nos dispomos a dormir: “A preparação para a meditação é, talvez, o mais importante. Começa pela noite, na preparação que fazemos durante a oração da noite; sua culminância está nos minutos antes de dormir. Pouco antes de dormirmos deveríamos ter claro quando e para que vamos nos levantar na manhã seguinte.”

Preparação imediata

A preparação imediata se refere ao momento da meditação propriamente dita. A primeira coisa necessária é um lugar adequado, para podermos nos encontrar com o Senhor, devendo ser uma atmosfera propícia para esse encontro. A realidade de cada pessoa é que vai determinar esse lugar, podendo ser seu próprio quarto ou seu escritório, antes de começar o trabalho, ou uma igreja ou o próprio Santuário ou seu Santuário-lar. O mais importante é que o local escolhido nos assegure um grau razoável de tranquilidade.

“Todo encontro de amor requer um contexto e um ambiente adequados” nos diz o P. Rafael Fernandez, assim ajuda a entrarmos nessa atmosfera de meditação se tiver uma imagem religiosa, algum símbolo, uma vela, etc, ou seja, coisas que ajudem nossos sentidos a nos colocarmos em contato com o mundo sobrenatural.

É necessária também uma postura corporal adequada, seja ela sentada, em pé ou ajoelhada. Todavia se a postura que escolhemos nos causa um certo desconforto que atrapalha nossa concentração, então ela não é adequada.

Por fim, o tempo que escolhemos para meditar é importante e depende da realidade de cada um. Para alguns, o melhor é logo de manhã, para outros, o período noturno é o mais apropriado, outros ainda, preferem uma pausa no meio do dia. O que conta é que seja um tempo apto para realizarmos nosso propósito de meditação, assim não podemos estar muito cansados, com sono ou preocupados com os afazeres.

Com relação a duração da meditação, no início pode ser de 10 a 15 minutos e depois, conforme fomos adquirindo o hábito, pode passar a ser de 20 a 30 minutos.

“Por que acontece com frequência que simplesmente não conseguimos meditar? Uma causa pode ser o desconhecimento da verdadeira oração. Muitos pensam que o sentido de uma oração autêntica está no trabalho da cabeça. Isto não está certo. O mais importante é que a vontade e o coração estejam entregues a Deus. Outra razão é a falta de magnanimidade. Buscamos com uma unilateralidade demasiada o consolo de Deus e não o Deus do consolo. Pensamos que se não sentimos consolo nenhum, a prática da oração é uma perda de tempo. Outra causa reside no fato de que damos pouca importância à preparação remota. Nossa vida deve possuir o seguinte ritmo: os tempos de oração são a oração antecedente, a vida prática é a oração consequente. Durante o dia devo cuidar para me desprender, por manter meus sentidos em recolhimento, por conservar uma atitude humilde perante Deus. Se não faço isso, seria um verdadeiro milagre que minha meditação fosse boa. Digo mais uma vez: quem vive a santidade da vida diária protege qualitativamente as práticas de oração.” (P. Kentenich)

Caso você tenha alguma pergunta ou comentário sobre a prática da meditação da vida diária, pode enviar para o email: ouvidonocoracaodedeus@gmail.com

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segunda-feira, 27 de junho de 2022

OUVIDO NO CORAÇÃO DE DEUS: O DESAFIO DE MEDITAR NO MEIO DO MUNDO

 


Enfrentando as dificuldades para conseguir fazer a oração meditativa

No último artigo, falamos da importância que o Pe. Kentenich dava à meditação da vida diária como uma escola de amor, como a forma de nos encontramos com Deus em nosso dia a dia. Porém sabemos que, quando tentamos mudar o ritmo da nossa vida para dar lugar a uma dimensão mais contemplativa, encontramos inúmeras dificuldades para colocar na prática.

Decidir meditar

O nosso primeiro passo precisa ser a decisão por incluir a prática da meditação em nossa vida. Precisamos entender que essa pequena parada durante o nosso dia para tentarmos enxergar Deus se comunicando conosco é essencial para conseguirmos uma maior intimidade com Ele. Ou conseguimos encontrar a Deus nas criaturas, nas coisas e no trabalho ou simplesmente esse Deus da vida se torna inalcançável. Podemos até ter um contato com Ele quando vamos à igreja ou fazemos uma oração, mas o resto do dia, vivemos, por assim dizer, como um pagão.

Devemos buscar não somente ao Deus transcendente, que está no Céu e ouve nossas orações ou se alegra quando participamos do Santo Sacrifício da Missa e fazemos comunhão com Ele, mas também ao Deus que é a Causa Primeira de tudo, que tudo criou e colocou à nossa disposição e deseja, através das Causas Segundas (as pessoas e tudo o que foi criado) se encontrar conosco demonstrar o seu amor infinito para cada um de nós

Não desistir frente às dificuldades

Depois de entendermos a importância da meditação e nos decidirmos a realizá-la, podemos nos sentir desanimados ao darmos conta dos imensos desafios que se colocam em nosso caminho e todas as forças do nosso mundo materialista que querem nos impedir de olharmos para dentro de nós e para buscarmos Deus em nossa vida. Podemos ter algumas tentativas falhas de meditar, e então nos damos por vencidos. Pensamos que a meditação não é para nós...

“Há quem pense que a oração meditativa está reservada para os sacerdotes e religiosos. Os leigos, mais ainda, os simples trabalhadores, não seriam capazes e nem estariam chamados a de fazê-la. Todavia, este é um grande erro. Não somente há santos da vida diária atrás dos muros conventuais, não somente há santos que usam hábitos religiosos, mas também e principalmente em trajes seculares, em meio do emaranhado e das lutas da vida cotidiana. Eles são encontrados em todas as vocações e estados de vida.” (P. J. Kentenich)

Meditar num mundo tão agitado como o nosso realmente é uma tarefa heroica e se não tivermos um método adequado e constância nessa atitude, contando com a ajuda do Espírito Santo, será praticamente impossível consegui-lo. O Pe. Kentenich dizia que uma das virtudes que ele mais admirava era a fidelidade. A fidelidade de recomeçar a cada queda, a cada fracasso. Então não devemos desanimar se não conseguirmos logo colocar a meditação em prática, mas sempre ter a coragem de tentar novamente.

Pedir auxílio ao Espírito Santo

Assim, precisamos implorar a graça do alto, especialmente os dons do Espírito Santo. Podemos pedir a poderosa intercessão de nosso Santo Anjo da Guarda. Ele é um ser muito poderoso que nos foi presenteado por Deus para nos guardar, iluminar e conduzir ao Céu. Ele sabe da importância de nosso contato mais íntimo com Deus para chegarmos lá, então quer nos ajudar a colocarmos em prática a meditação.

Como ensina o Pe. Rafael Fernández: “O objetivo próprio da meditação é aprofundar e tornar mais íntima nossa relação de amor com Deus. Se meditamos uma ideia, é para degustar a verdade ou realidade que esta representa, a fim de que, além do nosso intelecto, penetre em nosso coração. Porque quando se trata de nosso vínculo de amor com Deus, e do amor que Ele tem por nós e que espera que nós lhe devolvamos, não bastam conceitos nem meras ideias. (...)

A meditação é como a raiz da árvore. O que sustenta as árvores, quando vem tormentas e tempestades, não é a copa nem as folhas, mas as raízes. Quanto mais profundas são as raízes de uma árvore, mais capacidade ela tem de superar os embates do tempo. Inclusive, as tormentas as vão afirmando, porque suas raízes vão se fincando na profundidade. O vento pode lhes arrancar um tanto de galhos e folhas, mas a árvore continua de pé. Porém, quando as raízes são escassas, mesmo que tenha uma folhagem muito frondosa e um grande tronco, facilmente um temporal a derrubará. A meditação nos arraiga no coração de Deus.”

Como meditar?

A prática da meditação da vida diária ensinada pelo Pe. Kentenich possui algumas etapas. A primeira etapa é a preparação. Existe a preparação remota, a preparação próxima e a preparação imediata. Depois vem o desenvolvimento da meditação, com o início, desenvolvimento e conclusão.

Nos próximos artigos, explicaremos detalhadamente cada uma dessas etapas inclusive com exercícios práticos de meditação, porém, colocamos aqui um panorama geral, um resumo de como a meditação funciona:

Escolher um horário do dia no qual realizará a meditação. Pode ser, no início, cerca de 10 a 15 minutos. Podemos começar fazendo uma vez por semana, e depois, gradativamente, aumentando a frequência.

Escolhemos um lugar adequado, onde não seremos interrompidos. De preferência, com alguma cruz ou imagem que nos remeta à realidade sobrenatural. Fechar um pouco os olhos, respirar calmamente e nos colocar na presença de Deus, então fazemos uma oração implorando as luzes do Espírito Santo.

Em seguida, escolher sobre o que se vai meditar. Se ainda somos iniciantes nessa prática, é mais fácil escolher uma passagem bíblica ou um trecho de uma oração. Depois, com a prática, pode ser um acontecimento da vida (uma situação concreta de nossa vida), que é efetivamente a meditação da vida diária proposta pelo Pe. Kentenich.

O Pe. Kentenich propõe três perguntas que constituem uma excelente ajuda para desenvolver esse encontro com o Senhor:

1. O que Deus quer me dizer com isso? (através desse texto ou desse fato ou circunstância)

2. O que digo a mim mesmo?

3. O que respondo a Deus?

A pergunta mais importante é esta última. É nela que entramos na oração meditativa. Quando falamos de resposta, não significa necessariamente uma ação ou propósito, mas de uma resposta “de amor”, uma resposta do coração, falando pessoalmente com o Senhor. Expressamos nosso amor de gratidão, de arrependimento, de pedido. Terminamos a meditação com uma oração de ação de graças. É conveniente anotar em um caderno pessoal sobre o que meditamos e o que foi mais importante para nós na meditação.

Além de agradecer ao Senhor e a Nossa Senhora pela meditação (ou pedir perdão se não a realizamos bem), as vezes podemos concluir com alguma intenção ou propósito que venha ao encontro do que meditamos. Assim, pouco a pouco, com a dedicação de alguns momentos por dia para meditar, vamos aumentando nosso amor e nossa vinculação ao nosso Pai do Céu que nos ama com amor infinito.

Caso você tenha alguma dúvida ou comentário sobre a prática da meditação da vida diária, pode enviar sua pergunta para o email: ouvidonocoracaodedeus@gmail.com

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segunda-feira, 20 de junho de 2022

OUVIDO NO CORAÇÃO DE DEUS


 

Aprender a enxergar o que Deus quer me falar no dia a dia

O nosso mundo atual nos compele a viver num ritmo frenético. Tudo deve ser instantâneo, ao alcance de um clique. Vivemos de uma atividade a outra, quase sem pausa e quando paramos para “descansar”, normalmente nossa mente está olhando uma tela, com uma enxurrada de informações, imagens, vídeos. São poucos os que escapam a essa realidade. A grande maioria de nós vive pressionada por todo tipo de exigências, tentando responder as obrigações matrimoniais e familiares, os requerimentos do trabalho e, para muitos também, aos múltiplos compromissos apostólicos.

Esse ritmo de vida pode causar uma série de doenças “modernas”, como a síndrome do burnout, ansiedade, depressão. Mesmo aqueles que escapam de ficarem doentes, eventualmente anseiam por uma paz maior. Às vezes um acontecimento, como a morte de alguém querido, nos tira um pouco desse turbilhão em que vivemos e paramos para pensar: para que tudo isso? Qual é o sentido da minha existência?

Para conseguirmos responder a essas questões e nos confrontar com o que dá o sentido verdadeiro a nossa vida, precisamos de espaços que nos permitam encontrar conosco mesmos e que nos conduzam a um contato mais profundo com Deus, pois só Ele possui as respostas que precisamos.

O Pe. José Kentenich tinha uma preocupação constante em conduzir o ser humano atual até um encontro com o Deus vivo através das criaturas e das circunstâncias concretas que o rodeiam. Para ajudar nesse encontro vital com o Senhor, desenvolveu uma prática de meditação, a chamada “meditação da vida diária”, que vem responder a esse anseio e essa necessidade.  

Para o homem moderno é extremamente difícil compreender e praticar a meditação, pois a forma que organizamos nossa vida está muito orientada para o exterior, para o fazer, produzir, fabricar, organizar e racionalizar. Vivemos em uma cultura marcara com o selo da extroversão.

A falta do cultivo da vida interior (o Pe. Kentenich fala de uma cultura sem alma) afeta o ser humano em vários aspectos de sua pessoa, inclusive no tocante à profundidade de sua fé. Recebemos a semente da fé em nosso Batismo, porém ela precisa ser cultivada para se desenvolver e se tornar um suporte para a nossa vida. Esse cuidado se dá através do contato íntimo e pessoal com o Senhor e sem ele, a fé pode morrer.

O Pe. Kentenich se preocupava também com isso, para que seus filhos espirituais tivessem uma plena confiança no Pai, através de uma “fé prática na divina providência”. Porém, o ser humano só consegue confiar em quem conhece e para conhecer, precisamos passar tempo juntos. Além disso, é importante conseguir enxergar os inúmeros cuidados que Deus tem conosco a cada dia, demonstrando seu amor infinito por nós.

Como alcançar uma vida mais harmônica? Como aprender a parar e deixar de ‘sermos vividos’ pelos acontecimentos? Como fazer que nossa vida de fé seja mais aprofundada e que nosso contato com Deus seja mais pessoal?

O Pe. Kentenich nos dá a resposta: meditação da vida diária. Diz ele:

“Nosso método preferido de meditação consiste em revisar e saborear, em revisar com antecedência e saborear depois. Isto deveria ser entre nós uma atitude permanente, um hábito. A partir de cada realidade, por mais íntima que esta seja, devemos saber subir até o coração misericordioso e bondoso de Deus Pai. Enquanto isso não tenha se convertido em uma segunda natureza para nós, queremos exercitar mais e mais até consegui-lo.

Queremos ingressar na escola de amor, da oração interior. Não estamos orientados somente por esta forma de meditação. Podemos aplicar também outros métodos de meditação. Porém, dada a importância que reveste introduzir ao Deus na vida em nossa vida, nos encontrarmos com o Deus da vida em nossa vida e responder a ele a partir de nossa vida, então, penso que, por um certo período, nossa ocupação predileta deve ser revisar e descobrir, no tempo dedicado à meditação, onde Deus veio ao nosso encontro no dia de ontem.”

O Pe. Rafael Fernandéz, em seu livro “Como aprender a meditar?”, explica “O Fundador está pensando em um método de meditação especialmente apto para as pessoas que estão chamadas a encontrar a Deus no meio do mundo, através das criaturas. Ou seja, um método para quem não pode nem deve abandonar as realidades desse mundo: sua família, seu cônjuge, seus filhos, seus negócios e tudo o que isso implica, para se retirar e contemplar a Deus na solidão.

Esse é o pano de fundo da meditação da vida diária como o Pe. Kentenich a concebe. Ele quer nos dar um caminho que nos leve a entrar em comunhão com o Deus providente, que nos ensine a descobrir e comungar não só com o Cristo presente nos Evangelhos, mas com o Cristo presente na história, em nossa história pessoal e nos acontecimentos do mundo.

De nenhuma forma essa acentuação deixa de lado o Deus da Eucaristia ou o Deus presente na Palavra. Mas sim, integra e destaca com força o Deus da vida”.

Essa forma de meditação não é como uma análise, um estudo de algum aspecto da doutrina ou dos ensinamentos da Igreja, para que tenhamos um conhecimento maior sobre o tema. O objetivo da meditação da vida diária não é saber ou conhecer mais, mas amar mais através do aprofundamento de nosso vínculo de amor pessoal com Deus.

“A meditação deveria se tornar uma escola de amor por eminência. Esse é o costume que deveríamos adquirir. Não uma escola de ciência, assim não é um estudo propriamente dito, mas uma escola de amor. Se quiserem saber se meditaram bem, devem se perguntar apenas: na meditação aprendi a amar, a amar de forma correta? (P.K.)

A partir de hoje, iniciaremos uma série de artigos para desenvolver o tema da meditação da vida diária e assim aprendermos a colocar em prática essa grande riqueza ensinada pelo Pe. Kentenich. Caso tenha alguma dúvida ao longo dos artigos, pode enviar uma mensagem para o email: ouvidonocoracaodedeus@gmail.com

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terça-feira, 24 de maio de 2022

O SEU AMIGO MAIS PODEROSO



Como está seu relacionamento com seu amigo mais poderoso? Você sabia que Deus deu a você um amigo muito poderoso, eternamente fiel e que pode te ajudar a alcançar o maior bem de todos: a salvação eterna?!

Ao contrário do que pode estar no imaginário das pessoas, o anjo da guarda não é um bebezinho fofinho de cabelos cacheados ou um anjo que cuida de nós apenas quando somos crianças.

O anjo é uma criatura de puro espírito, extremamente inteligente e poderoso. Todas as vezes que aparece nas Sagradas Escrituras causa espanto e até medo naquelas pessoas com as quais ele se comunica (Gn 19,1; Lc 1,12; Lc 2,9; etc). O Catecismo da Igreja Católica nos ensina:

“336. Desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para o guiar na vida. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.”

Deus ama cada ser humano com amor infinito e deseja que todos, um dia, possam gozar da eterna alegria no Céu. Assim, para nos ajudar nessa jornada, recebemos de Deus um santo anjo da guarda, que tem como missão justamente nos ajudar a chegar no Céu.

O Pe. Paulo Ricardo nos ensina: “Então, os anjos da guarda querem e lutam pela salvação dos homens – inspirando-os, iluminando-os e, às vezes, até realizando milagres e lutando contra os próprios demônios. Como são instrumentos santos que possuem inteligência e são livres, eles são chamados de "ministros", pois foram colocados por Deus ao nosso serviço. São João Bosco, ao recomendar a invocação ao anjo da guarda na hora das tentações, dizia que "ele deseja ajudar você mais do que você deseja ser ajudado por ele".

Portanto, a única coisa que precisamos fazer é pedir a sua poderosa ajuda! Infelizmente nosso mundo moderno fechou os olhos para o mundo espiritual que é tão real como o mundo material. Ao vivermos olhando somente para o que é material, esquecemos de cuidar do que é mais importante: o destino eterno de nossa alma quando morrermos.

Desta forma devemos aprender a nos relacionar com nosso santo anjo da guarda. S. Pe. Pio, que tinha o dom de ver e conversar com os anjos da guarda, dizia que não devemos deixar nossos anjos “ociosos”, precisamos dar a eles muitos trabalhos! Em uma carta ele escreve: “Mantém sempre [teu anjo] diante dos olhos da alma, recorda-te com frequência da presença desse anjo. Agradece, ora, nutre sempre para com ele uma boa companhia. Abre-te e confia a ele teus sofrimentos. Toma sempre cuidado para não ofenderes a pureza do seu olhar: toma conhecimento e fixa bem esta verdade em tua alma. Ele é muito delicado, muito sensível. Dirige-te a ele em momentos de suprema angústia e experimentarás os seus benéficos efeitos.”

Já há alguns anos aprendi essa devoção e posso dizer que converso com meu anjo da guarda todos os dias. Conto aqui apenas uma das muitas experiências que tive com o meu anjo:

No dia 18 de outubro de 2014, o Movimento Apostólico de Schoenstatt, no qual sou consagrada, completaria 100 anos. Os planos eram ir para a Alemanha celebrar esse momento, mas em fevereiro/2014 precisei fazer um transplante de medula óssea para curar um linfoma. Por causa do transplante e da queda da imunidade, tive muitas intercorrências durante o ano e no dia 10 de outubro, fui internada mais uma vez com problemas pulmonares.

Meu desejo era ter alta até o dia 18, pois assim poderia, ao menos, ir à Santa Missa para comemorar uma data tão especial. Porém, até o dia 17 não tinha perspectiva de ter alta, então pedi ao meu anjo da guarda que, ao menos, eu pudesse receber a Sagrada Eucaristia nesse dia. Liguei para a pessoa responsável por enviar o sacerdote ao hospital e ela me disse que infelizmente não seria possível. Havia muitas chamadas e eles estavam atendendo só os casos graves, onde a pessoa estava na UTI.

Desligando o telefone, eu estava muito chateada e dei uma “bronca” no meu anjo da guarda. Disse que minha situação já era bem ruim e ele não tinha conseguido nem que eu comungasse...

No dia 18, a primeira boa notícia logo cedo: inexplicavelmente meus exames tinham melhorado muito de um dia para o outro e eu teria alta logo após o almoço! Fiquei super feliz, já liguei para meu marido avisando que poderia vir me buscar. Porém, teria que ficar de repouso em casa e, então, não poderia ir a Santa Missa.

Comecei a agradecer meu santo anjo, pedindo desculpas pela bronca do dia anterior quando toca o telefone. Era a pessoa responsável por enviar o sacerdote. Ele me disse exatamente essas palavras: “Olha, Flávia, seu anjo da guarda é muito poderoso. Acabamos de receber uma ligação da UTI aí do hospital onde você está e o sacerdote já está a caminho. Como ele estará por aí, levará a comunhão para você também!”

Fiquei maravilhada e muito agradecida. No fim, além de receber a sagrada eucaristia eu ainda tive alta e pude voltar para casa, para celebrar essa data tão importante junto ao meu marido e meus filhos.

Esse foi só um dos inúmeros testemunhos que poderia contar sobre as vezes que percebi a ajuda do meu anjo da guarda. Fora as vezes que ele certamente me ajudou e eu não percebi. Assim, incentivo a todos a pedirem ajuda e se deixarem inspirar por esse amigo tão poderoso e que nos ama tanto. Outra dica é pedir ajuda aos anjos da guarda das pessoas com as quais você se relaciona. Aqui, sou muito amiga dos anjos da guarda dos meus filhos. Peço sempre que me ajudem na educação de cada um deles e que me inspirem caso algum precise de uma atenção ou um auxílio mais específico. Nunca fiquei sem resposta!

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quinta-feira, 31 de março de 2022

JESUS ME PREGOU UMA PEÇA


 

Um testemunho e convite a fazer adoração ao Santíssimo Sacramento

Na época da minha juventude, acreditava que a adoração eucarística era feita somente pelas freiras, aquelas que viviam na clausura. Eu frequentava o Santuário de Schoenstatt e rezava ali com Jesus no Sacrário, falava com a Mãe de Deus, mas não entendia aquela oração como verdadeira adoração.

Os anos foram passando e comecei a entender um pouco da importância da adoração. Ganhei uma oração chamada “15 minutos diante do Santíssimo Sacramento” (desconheço a autoria) e passei a tentar, pelo menos uma vez por mês, ficar diante do Santíssimo, fazer essa oração e um pouco de meditação.

Passaram vários anos e muitas vezes não cumpri esse propósito de fazer a adoração mensalmente. Mas parece que Jesus continuava me chamando. Em 2018 ganhei um livro chamado “Flores da Eucaristia”, de S. Pedro Julião Eymard, contendo meditações para cada dia do ano, falando sobre o Santíssimo Sacramento.

Necessidade de adoração

Ao ler essas palavras, entendi melhor a necessidade de adoração:

“Adorar é partilhar a vida de Maria sobre a Terra quando adorava o Verbo Encarnado em seu próprio seio virginal, e quando O adorava no presépio, na Cruz, na Divina Eucaristia. Adorar é partilhar a vida das grandes almas, cuja felicidade nesse mundo consistia em permanecer aos pés do Tabernáculo para adorar o Deus aí oculto e render-Lhe toda glória, todo amor de que eram capazes (...) Adorar é partilhar a vida dos Santos do Céu, onde eternamente louvam e bendizem o amor, a bondade, o poder, a glória, a divindade do Cordeiro imolado pela salvação dos homens e pela maior glória de Deus seu Pai. Que felicidade começar na Terra o que faremos por toda eternidade aos pés do trono de Deus! Que ventura fazer parte da coorte eucarística de Jesus Cristo neste mundo, conviver com sua Adorável Pessoa, constituir-Lhe uma guarda de honra, viver desde já uma vida celeste! Adorar é o ato soberano da virtude de religião, e que, por si só, substitui os outros todos, porque possui o valor de todos, e de todos é o fim.” (meditação do dia 10 de setembro)

Então, comecei a tentar fazer adoração uma vez por semana, por uma hora. Ficou claro para mim que se meu desejo é passar a eternidade com Jesus no Céu, tem lógica eu passar um tempo com ele diante do Sacrário. Ouvi dizer também que essa hora é entendida como aquela hora no Horto das Oliveiras, onde os apóstolos dormiram e não conseguiram rezar com Jesus. Então, fazemos esse tempo de adoração nos colocando junto a Jesus em seu momento de agonia. No começo, exigia um certo sacrifício para cumprir esse propósito, mas depois, era uma hora que eu ansiava por ficar junto a Jesus, que está prisioneiro no Sacrário.

Visitas diárias a Jesus Sacramentado

Bom, passado mais um tempo em que a adoração semanal se tornou para mim uma agradável prática, senti o chamado a todos os dias passar alguns minutos diante do sacrário. Como tenho o privilégio de morar a poucas quadras da minha paróquia, era fácil passar todos os dias lá e falar um “oi” pra Jesus. Era só isso mesmo: entrava na Igreja, ia até o Sacrário, ajoelhava, falava “oi”, as vezes rezava alguma coisa e logo ia embora. Não durava nem 5 minutos. Apenas uma vez por semana que passava a hora toda com Jesus.

Com todos os compromissos que tinha, marido, casa, filhos, apostolado, para mim já estava no limite, afinal, não era uma freira enclausurada, simplesmente era impossível passar mais tempo com Jesus eucarístico. Nessa época também já participava das missas diárias, então, no meu ponto de vista, já era o suficiente.

E aí veio a pandemia... Quanta saudade eu senti de poder fazer adoração e de receber a santa eucaristia! Por graça de Deus, alguns sacerdotes piedosos as vezes expunham o Santíssimo Sacramento em algum local e eu podia fazer um pouco de adoração. Tivemos também a graça de poder participar de algumas missas dominicais nesse tempo tão difícil do fechamento das igrejas.

Jesus me pregou uma peça!

Em julho de 2020, uma amiga me falou que em uma paróquia perto da minha casa, Jesus Eucarístico estava exposto durante todo o dia e todos os dias da semana e ela estava organizando uma escala para Jesus não ficar nenhum momento sozinho. Claro que aceitei fazer parte dessa equipe de adoradores e passei a ir todos os dias na igreja passar uma hora com meu Senhor e Salvador.

Passados dois meses, o pároco decidiu voltar Jesus para o sacrário, então não seria mais necessária nossa equipe de adoradores. Foi então que percebi que Jesus havia me pregado uma peça! Depois de todo esse tempo indo todos os dias, inclusive nos fins de semana, passar essa hora juntos, como que agora eu poderia falar que não era possível? Que não dava certo? Que não tinha tempo?

Além disso, vi que minha intimidade com Jesus havia crescido muito nesse tempo, então, não tive como parar. Atualmente só nos fins de semana que não faço a hora toda, para não tirar muito tempo do convívio familiar, mas sigo firme visitando Jesus todos os dias.

Assim, convido a todos a fazer essa experiência de passar um pouco de tempo com Jesus diante do Sacrário. Sei bem que cada um tem a sua realidade, seus compromissos, mas vale a pena fazer um pouco de esforço para ficar com Jesus. E se os seus horários são incompatíveis com os horários em que a igreja está aberta, é possível também fazer uma adoração espiritual. Existem lugares em que o Santíssimo fica exposto 24h por dia e há transmissão por Youtube (esse aqui é na Polônia https://www.youtube.com/watch?v=QVpT2mBq5Zk). Você pode visitar espiritualmente esse sacrário e fazer seu momento de adoração.

Encerro com mais algumas palavras de S. Pedro Julião Eymard:

“Admirai os sacrifícios que Jesus se impõe a Si mesmo em seu estado sacramental: oculta sua glória divina e corporal a fim de não vos amedrontar e ofuscar – oculta sua majestade para que não temais vos acercar dEle e Lhe falar como um amigo a seu amigo – retém o seu poder a fim de não vos atemorizar ou vos punir – não vos mostra a perfeição de suas virtudes para não desanimar vossa fraqueza – modera mesmo o ardor de seu Coração e de seu amor para convosco, visto que não lhe poderíeis suportar a força e a ternura – deixa-vos entrever tão somente a sua bondade que transluz e se escapa através das santas espécies como os raios do sol por entre a nuvem diáfana. Oh! Quanto Jesus Sacramentado é bom! Está disposto a vos receber a toda hora do dia e da noite, pois seu amor não conhece repouso, está sempre cheio de doçura para convosco. Esquece os vossos pecados, as vossas imperfeições, quando ides visitá-Lo, e vos fala somente de sua alegria, de sua ternura, de seu amor. Ao receber-vos, dar-se-ia que tem necessidade de vós para ser feliz.” (meditação do dia 23 de setembro)

 

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terça-feira, 15 de março de 2022

EU NÃO QUERO PERDOAR

 


Eu não quero perdoar. Não é justo. Essa pessoa me magoou demais. E o pior: não se arrependeu e não pediu perdão.

E agora? Será que essa atitude de não querer perdoar realmente me faz bem? Quando alguém me causa um mal, essa ofensa atinge diretamente o meu sentimento de justiça. E a justiça exige reparação para o mal cometido e a punição daquele que ofendeu.

Porém o perdão está além da justiça, ele entra no âmbito da misericórdia. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia” (Mt 5,7). A misericórdia implica em dar ao outro aquilo que ele NÃO tem direito. E o que deve nos mover a agir com misericórdia, é o amor.

São Paulo nos exorta: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entra­nhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós. Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição." (Col 3, 12-14)

O perdão liberta

Somos convidados a colocar em prática a misericórdia e o perdão. Mas por quê? É porque o perdão nos liberta. Aquele que fica remoendo os fatos, revivendo os acontecimentos que feriram o seu coração, permanece escravo daquele que o ofendeu. Escravo porque não se liberta e não consegue viver sem pensar naquela ofensa.

Quando conseguimos perdoar, nos sentimos mais leves, mais felizes, gerando até um sentimento de compaixão por aquele que nos ofendeu. Conseguimos também nos libertar do passado, de ficar tentando modificar o que já aconteceu ou ficar imaginando como tudo seria se aquela ofensa não tivesse acontecido.

Consciência das próprias limitações

Perdoar não é esquecer e nem fingir que não aconteceu nada. Perdoar é tomar a decisão de que aquela falta que o outro cometeu contra si não vai mais lhe incomodar. E para isso, a pessoa precisa ter a consciência de que também erra, de que também magoa e que precisa sempre do perdão do outro.

Quanto maior for a consciência de que somos seres limitados, de que frequentemente cometemos erros, de que sempre precisamos do perdão, principalmente de Deus, mais fácil será perdoar os erros do outro, principalmente os daqueles que convivem diariamente conosco.

Devemos pensar: se eu tivesse nascido na mesma família da pessoa que me ofendeu, sofrido os mesmos traumas, recebido a mesma educação, poderia até agir muito pior que essa pessoa que me magoou. Precisamos procurar remover as camadas dos defeitos e até das maldades dessa pessoa, para enxergar o bem que certamente há em seu coração.

O perdão não é uma solução para ofensa

O perdão não é ficar indiferente. Não é uma solução para ofensa, ficar frio ou insensível perante o mal. Implica sofrer, sentir a pena e depois perdoar e desculpar quem ofendeu. Perdoar significa que o amor que sentimos é tão grande que vence a ofensa.

O fato de ter perdoado a pessoa não significa necessariamente que preciso conviver com ela ou reatar o nível de intimidade que havia antes da ofensa. Não precisamos nos expor a sermos ofendidos novamente, mas devemos aprender a ter uma convivência sem rancores.

Perdoar não é fácil, mas é possível

Perdoar não é uma atitude fácil. Dependendo do grau da ofensa, da profundidade da cicatriz deixada, o perdão pode demorar muito tempo para ser alcançado.

Não é preciso ter pressa. O que é urgente é decidir que irá perdoar e que aquela falta, aquela mágoa, não irá mais lhe aprisionar. Devemos sempre pedir a Deus, a graça do perdão. Aproximar-se do coração de Jesus, que tem um bálsamo eficaz para curar as feridas do seu coração. Sem a graça de Deus, não é possível perdoar, pois a nossa natureza ferida pelo pecado original é orgulhosa e tende sempre a pensar em si mesma, em sua ferida, olhando os acontecimentos somente pelo seu ponto de vista. O orgulhoso não perdoa. É preciso humildade para pedir perdão e para perdoar.

Ferramentas para conseguir perdoar

O Sacramento da Reconciliação (Confissão) é um meio importantíssimo para conseguir o perdão, tanto de si mesmo, como perdoar os demais. É um sacramento de cura, que restaura a alma e traz a paz interior. Pode demorar muito tempo para conseguirmos perdoar, mas a Confissão é um verdadeiro remédio, que vamos tomando até fazer efeito.

Outro instrumento que podemos usar para nos ajudar a sermos misericordiosos é o “terço do perdão”. Usamos um terço comum, iniciamos com o Creio, Pai Nosso e 3 Ave Marias. Nos mistérios, rezamos o Pai Nosso e nas contas, ao invés de rezar a Ave Maria, rezamos: “eu perdoo (falar o nome da pessoa) e ela me perdoa.” Quando acabar as 5 dezenas, rezar a Salve Rainha.

Como sei que perdoei alguém?

Sabemos que realmente conseguimos perdoar quando lembramos do acontecido, sem que essa memória traga algo de ruim, de perturbação. O perdão faz com lembremos, mas ficamos leve, não pesa o coração.

O perdão é fundamental e precisa ser dado sempre e nas pequenas coisas, desde algo que o irrita e que a pessoa faz sem saber até as coisas que ela faz conscientemente para irritá-lo e magoá-lo. O perdão devolve o equilíbrio ao relacionamento e quando ele é negado, pode causar inúmeras doenças, inclusive o câncer e outras doenças autoimunes.

Vamos seguir o exemplo de Jesus que nos ensinou a rezar: "perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam" (Mt 6,12). E também na Cruz, pediu: "Pai, perdoa-lhes; porque não sabem” (Lc 23,34).


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