Sofrer faz parte da nossa vida.
Desde o nascimento, que é uma grande aflição tanto para o bebê quanto para a
mãe, até a hora de nossa morte, que será nosso último momento de dor, sofremos.
Alguns sofrem mais, outros sofrem menos, mas é impossível viver sem esses
constantes companheiros: dor e sofrimento.
A origem desse mal foi o pecado
original. O plano de Deus para o ser humano era uma existência sem dor e sem
morte, mas, pela desobediência e orgulho de nossos primeiros pais, o sofrimento
passou a fazer parte da nossa vida. Assim, a questão levantada é: é possível
sofrer bem? É possível fazer com que o sofrimento se transforme em benefício
para nós?
A experiência me diz que é
possível, pois há pessoas que enfrentam os maiores sofrimentos e não perdem a
paz nem a alegria. Outras, porém, face a alguma dor, podem sucumbir e se
desesperar. A minha impressão é que nos tempos passados, quando não havia tanta
tecnologia à disposição e a vida diária era muito mais difícil do que a que
vivemos hoje, as pessoas eram mais resilientes, suportavam melhor as dores e as
amarguras. E hoje, a chamada “geração Nutella” não suporta o menor contragosto.
Certamente a vida ter se tornado
mais fácil é um fator que contribui para que as pessoas fiquem mais fracas
frente às adversidades. Mas não é só isso: a grande maioria das pessoas não enxerga
um sentido para o sofrimento, então, não importa se ele é grande ou pequeno, a
pessoa se abate e muitas vezes não deseja mais continuar vivendo.
Dessa forma, para podermos enfrentar
o sofrimento em pé, com fortaleza e coragem, o primeiro passo é entender que
todo sofrimento, seja ele consequência de nossas atitudes ou permitidos diretamente
por Deus pelas circunstâncias da vida, são destinados a nos tornarem pessoas
melhores e mais fortes. É uma das formas que Deus tem de chamar a nossa atenção
para Ele, para voltarmos nosso olhar e nossos corações para o Pai, suplicando
sua ajuda e cuidado.
Outra função do sofrimento é nos
ensinar a amar mais e melhor. A única maneira que posso provar meu amor por
alguém ou que me sinto verdadeiramente amada, é quando sofro pelo outro ou vejo
o outro sofrer por mim. O sofrimento é uma forma de me desprender do meu
egoísmo, do meu orgulho, dos meus gostos, para mostrar como aquela pessoa que
amo é importante para mim.
Então, se acolho as dores e angústias
de minha vida como um chamado do Pai a me entregar inteiramente em suas mãos
amorosas, tudo fica mais leve, fica mais fácil. Ver que aquele momento que estou
passando faz parte do plano de amor do Pai para a minha vida, que tem um único
objetivo: estar um dia com Ele na glória do Céu. Para ir para o Céu, é preciso
aprender a amar de verdade e o amor verdadeiro requer o aniquilamento de si
mesmo para se entregar inteiramente a quem amo. E Deus, sendo Amor, sabe
retribuir com alegrias indescritíveis àqueles que se entregam totalmente a Ele.
Claro que amar assim não é fácil
e se dependesse apenas da minha vontade, de fazer sacrifícios voluntários,
nunca aprenderia a amar, pois meu egoísmo é muito grande. A bondade infinita do
Pai, então, permite os sofrimentos para que aprenda mais rapidamente e mais
eficazmente, esse processo do amor, que se esvazia para receber do outro o
melhor. E o próprio Deus nos deu o exemplo de como amar de verdade: se encarnou
e deu sua vida por mim, por você, por cada um de nós, para provar seu amor e
para nos possibilitar estarmos um dia na alegria eterna do Céu. Uma só gota de
sangue de Jesus seria suficiente para salvar a humanidade toda, mas para o amor
infinito dele por nós, não era suficiente. Quis dar todo o seu sangue e passar
pelas maiores dores e humilhações para nos mostrar o quanto nos ama e nos quer
junto dele.
Uma cena da Paixão de Cristo
sempre me intrigou: por que somente S. João ficou em pé sob a Cruz? Como ele,
que era o mais jovem dos apóstolos, teve essa força extraordinária de
acompanhar os últimos momentos de vida de seu Mestre amado? A resposta mais
obvia para mim foi porque ele estava junto com a Virgem Maria. Foi Maria
Santíssima que o ajudou a suportar tanta dor e sofrimento, que ela mesma estava
sentindo de maneira superabundante. Perto de Maria, foi possível ficar em pé em
meio a tão grande sofrimento.
Então, precisamos aprender com S.
João: nos momentos de angústia, de dor, de sofrimento, peçamos colo à Mãe de
Deus. Peçamos a ela que nos acompanhe nos momentos de tribulação, que nos dê as
forças necessárias para aprender tudo o que o Pai quer nos ensinar com os
sofrimentos que permite para nossas vidas. Maria, como boa mãe, fará de tudo
para que nosso sofrimento seja aliviado e que não sejamos abatidos pela dor. A
Mãe cuida de tudo perfeitamente bem.