A educação formal há mais de um século é no estilo do
professor passar o conteúdo e o aluno aprender, sem muito espaço para reflexão
se o que está sendo passado é verdadeiro ou como aquela matéria pode ser usada
na vida prática. A forma preferida de entretenimento, principalmente dos mais
jovens, também segue o mesmo estilo: absorvem o conteúdo das inúmeras telas
(TV, computador, celular, tablets) passivamente, sem qualquer questionamento.
Este estilo de vida acaba criando pessoas com muito pouco senso
crítico, que não sabem refletir se a informação recebida realmente corresponde
com a verdade, ou qual o sentido de assistir determinado programa, o que aquilo
traz de bom, de saudável, para a vida.
Então cabe a nós, pais, desenvolver primeiramente em nós
mesmos e depois ensinar os filhos, já na pré-adolescência, a ter um senso
crítico com relação às coisas que eles vêm por aí. Isso vai ajuda-los a se
protegerem de informações e ideologias que sejam contrárias aos princípios e
valores importantes para a vida deles.
Começamos fazendo perguntas: por que você gosta de assistir
isso? Qual a mensagem que esse vídeo quer passar pra você? É possível que esteja
querendo vender algum produto ou serviço? Quais os sentimentos/desejos que esse
programa desperta em você?
No começo as respostas podem ser bem vagas: “ah, porque é
legal...”, ou “porque eu gosto...”, então devemos insistir e ensiná-los a reconhecer
o que está acontecendo dentro deles e colocar em palavras, para então, com o
tempo, conseguirem escolher o que realmente é melhor para eles.
Exemplificando: vamos supor que seu filho está assistindo um
vídeo onde o youtuber se propõe a ficar 24 horas dentro da piscina, sem poder
sair nem para ir ao banheiro. O pai então pergunta:
P: Por que alguém se submeteria a isso?
Filho: Pra ganhar visualizações.
P: E o que ele pode ganhar tendo muitas visualizações?
F: Fama e dinheiro.
P: Será que passar 24h dentro de uma piscina é uma atitude
que faz bem para a pessoa?
F: Ah, não sei... No começo deve ser legal, mas depois deve
cansar
P: Quais será que são os efeitos no corpo de uma pessoa que
fica 24h dentro da água? E o que acontece se uma pessoa fica muito tempo sem
fazer xixi? E se ela faz xixi na piscina e continua na água?
F: Ah, pai, sei lá...
P: Percebi que esse vídeo tem uns 20 minutos. Será que o
youtuber realmente ficou as 24h na piscina? É possível que ele tenha saído e
não tenham filmado? É possível que tudo seja uma “armação” para enganar quem
está assistindo?
F: Acho que não... mas não tenho certeza
P: Você acha que ficar 24h numa piscina é uma boa forma de
ganhar dinheiro? Será que vale a pena? Quantas pessoas, depois de assistir esse
vídeo, podem querer fazer a mesma coisa? Será que todas vão ganhar muitas
visualizações e ganhar dinheiro também?
F: Não tinha pensado nisso...
P: Por que você gosta de assistir vídeos desse tipo?
F: Porque eu me divirto.
P: Você já pensou que para você se divertir, uma outra pessoa
está se submetendo a tudo isso, que pode prejudicar a saúde, além de ter desperdiçado
um dia inteiro de vida, onde ele poderia ter feito tantas cosias boas, ajudado
outras pessoas, mas ficou dentro de uma piscina, sofrendo?
F: Ai, pai, você está exagerando...
P: Será que estou exagerando, filho? Você sabia que quando
você assiste este tipo de vídeo você está estimulando esse youtuber a fazer
coisas cada vez mais loucas para ter as visualizações? Será que você está
fazendo o bem para ele?
F: Não tinha pensando nisso...
Conversas desse tipo são cansativas, mas são necessárias. Não
adianta apenas proibir os filhos de assistirem determinados programas. É
preciso leva-los a refletir os motivos pelos quais aquele conteúdo não é
apropriado para eles. É preciso também ensiná-los a ter argumentos para
justificar para os amigos o porquê não vêm determinadas coisas.
Os pais precisam saber o que os filhos gostam de assistir, como
eles gostam de se divertir. Muitas vezes isso implicará assistir coisas juntos
(mesmo que seja extremamente entediante para os pais) e então discutirem sobre
o que viram. Isso toma tempo e energia, mas é uma das melhores coisas que os
pais podem fazer pelos filhos: ensinarem a pensar!
O “efeito colateral” desse aprendizado, é que os filhos podem
passar a questionar também a atitude dos pais. Mas isso é bom, pois propiciará
aos pais a oportunidade de mostrar os seus valores, o que é importante e o que
os motiva. Claro que deve ser feito com respeito, os filhos precisam aprender a
questionar sem desrespeitar.
Um dos grandes objetivos da educação dos filhos é ensiná-los
que aquilo que faz “bem” deve sempre ter prioridade sobre aquilo que é “bom”. Não é porque uma coisa causa prazer, é
gostoso, que devemos fazer. A motivação sempre deve ser o bem para a saúde, o
bem para a inteligência, o bem para o espírito, o bem para o outro. Quando eles
aprendem a pensar e a questionar suas próprias atitudes, aprendem também a
fazer a escolha certa.
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