Vivemos num mundo do
descartável: quebrou, compra novo; num mundo da satisfação imediata, basta um
clique, que você tem tudo em suas mãos agora. Infelizmente essa mentalidade
invadiu também os nossos relacionamentos: “se EU não estou feliz, é melhor separar”.
Vivenciamos, como nunca, o aumento no número de divórcios e também das uniões
sem casamento, para “facilitar” a ruptura, ficar mais fácil a separação. E quem
sofre com isso? Todos nós, a sociedade como um todo experimenta o grande mal
que a cultura do divórcio trouxe para nossas vidas e principalmente para a vida
de nossos filhos.
Deus quis que o homem e
a mulher se fundissem inseparavelmente num só corpo, isto é, com um vínculo de
amor fiel até a morte. E qual a razão disso? Simples moralismo? “Caretice” de
uma Igreja ultrapassada, que não entende as necessidades do homem moderno? NÃO. A indissolubilidade do matrimônio
foi instituída PORQUE É O MELHOR PARA O
SER HUMANO, é o melhor para o homem, para a mulher. A família estável é o
melhor ambiente para que uma criança cresça e se desenvolva sadiamente.
Existe uma lei que
domina toda a biologia animal: a maior ou menor estabilidade da união dos sexos
é determinada pela duração das necessidades do desenvolvimento da prole. Essa é
uma verdade evidente que Chesterton coloca de uma maneira muito clara:
“Todos
os animais superiores exigem uma proteção paterna muito mais longa do que os
inferiores; o filhote de elefante permanece filhote por muito mais tempo do que
o filhote de medusa.
Além
dessa tutela natural, o homem precisa de algo que é totalmente único na
natureza: só os seres humanos precisam
de educação. (...) A educação é um cultivo complexo e de muitas facetas,
necessário para enfrentar um mundo igualmente complexo; e os animais, sobretudo
os inferiores, não precisam dela. (...)
Se
os jovens da espécie humana devem alcançar todas as possibilidades da cultura
humana, tão variada, tão laboriosa, tão elaborada, devem estar sob a proteção
de umas pessoas responsáveis durante os longos períodos exigidos pelo seu
crescimento mental e moral. (...)
Quando
compreendemos isto, entendemos por que as relações entre os sexos normalmente
são estáticas, e em muitos casos permanentes. (...) O ambiente de algo seguro e
estável só pode existir lá onde as pessoas são capazes de ver tanto o futuro
como o passado. As crianças sabem com exatidão o que significa ‘chegar em casa’,
e as mais felizes conservam esse sentimento ao longo de todo o seu
desenvolvimento. (...)
Essa
é, na experiência prática, a ideia básica do matrimônio: a de que fundar uma família é algo que deve ser feito sobre um
fundamento firme; que a educação das crianças deve ser protegida por algo que é
paciente e permanente. Essa é a conclusão comum de toda a humanidade; e
todo o senso
comum está a seu lado.”[1]
Uma pesquisa realizada
pelo Wall Street Journal, dos Estados Unidos, revelou que nenhuma outra
instituição social se revelou mais apropriada do que o casamento para cuidar
das necessidades humanas. O divórcio e a paternidade fora do casamento são responsáveis
por muitos dos males aparentemente incuráveis que acometem a nossa sociedade.
Gravidez na adolescência, delinquência juvenil, pobreza infantil, distúrbios de
comportamento, dificuldade de relacionamento e de ver o casamento como uma
instituição saudável, refúgio na bebida e nas drogas, promiscuidade, entre
outros.
Essa questão é muito
séria. Estamos tratando do futuro da nossa sociedade, da felicidade dos nossos
filhos. O divórcio não resolve nada,
muito pelo contrário, cria problemas ainda maiores, tanto para o casal, como
para os filhos.
O jornalista britânico
Paul Johnson conta sobre o seu matrimônio: “É
normal que duas pessoas que vivam juntas tenham amiúde pontos de vista
diferentes; saber resolver essas diferenças com simplicidade faz parte da
dinâmica vital e do processo de amadurecimento da pessoa. Divorciar-se significa romper esse processo de crescimento, arrancar
pela raiz a planta viva e lança-la, sem necessidade, ao fogo. (...) Os
matrimônios duradouros edificam-se sobre os estratos arqueológicos de brigas
esquecidas.”
Mas onde essa “cultura
do divórcio” começa? É na ideia insana de que para ser feliz, a pessoa precisa
pensar PRIMEIRO em sua REALIZAÇÃO PESSOAL. O egoísmo reina soberano e onde há
egoísmo, não tem amor que resista. O ser humano foi criado para se vincular,
para se entregar a outro e só pode ser
feliz na medida que faz o outro feliz. Não existe felicidade sozinha,
felicidade pessoal, o que existe é ser feliz na medida em que as pessoas que
amamos são felizes. E o grande responsável pela felicidade daqueles que amamos
é nós mesmos!
O egoísmo leva à
imaturidade: quando penso só em mim, permaneço infantil, como aquela criança
que quer tudo para si, que acha que o mundo gira em torno de si mesma. Essa
fase precisa ser superada. É preciso ver que vivemos em sociedade, que não
existe o que é bom só para mim, preciso ver o que é bom para todos. É preciso
ensinar nossos filhos desde pequenos que precisamos pensar no outro, no bem da
família. Quando há disputa entre os irmãos, a pergunta que deve ser feita a
cada filho é: “Qual é a escolha mais generosa que você pode fazer nesse
momento?”
Para sermos felizes,
precisamos vencer o egoísmo, aquela voz interior que diz que tenho que buscar
primeiro a mim, ao que eu gosto, ao que me dar prazer. Amar e ser feliz exige
muito sacrifício, o sacrifício de colocar a sua vontade em segundo plano, para
fazer o que mais agrada ao outro. Essa é a lógica do amor: eu me sacrifico por
você e você se sacrifica por mim, assim construímos juntos a nossa felicidade.
Dom Rafael Llano
Cifuentes nos ensina: “É deste modo,
talvez descontínuo, intermitente, que se constrói – dia a dia, tijolo a tijolo,
com um sacrifício unido a outro, com uma renúncia vivida ao lado de outra -, a felicidade
conjugal, renovando uma e outra vez – apesar das diferenças e conflitos – a fidelidade,
até que a morte separe os dois esposos. Chegará um momento em que a fidelidade
se renovará nos céus, onde a felicidade se prolongará por toda a eternidade.”
Precisamos dizer NÃO à cultura do divórcio. O divórcio
nunca deve ser uma opção. Toda crise tem solução. É necessário esforço e
sacrifício por parte dos cônjuges e na imensa maioria dos casos, a crise só
fortalece o relacionamento, torna as pessoas mais maduras e mais felizes.
[1]
CIFUENTES, Rafael Llano “As crises conjugais”, ed Quadrante, São Paulo, 2001, pgs.
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photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/34417482@N05/5413705915">352/365 In Pieces</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>
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