sexta-feira, 24 de junho de 2016

A CULTURA DO DIVÓRCIO


Vivemos num mundo do descartável: quebrou, compra novo; num mundo da satisfação imediata, basta um clique, que você tem tudo em suas mãos agora. Infelizmente essa mentalidade invadiu também os nossos relacionamentos: “se EU não estou feliz, é melhor separar”. Vivenciamos, como nunca, o aumento no número de divórcios e também das uniões sem casamento, para “facilitar” a ruptura, ficar mais fácil a separação. E quem sofre com isso? Todos nós, a sociedade como um todo experimenta o grande mal que a cultura do divórcio trouxe para nossas vidas e principalmente para a vida de nossos filhos.

Deus quis que o homem e a mulher se fundissem inseparavelmente num só corpo, isto é, com um vínculo de amor fiel até a morte. E qual a razão disso? Simples moralismo? “Caretice” de uma Igreja ultrapassada, que não entende as necessidades do homem moderno? NÃO. A indissolubilidade do matrimônio foi instituída PORQUE É O MELHOR PARA O SER HUMANO, é o melhor para o homem, para a mulher. A família estável é o melhor ambiente para que uma criança cresça e se desenvolva sadiamente.

Existe uma lei que domina toda a biologia animal: a maior ou menor estabilidade da união dos sexos é determinada pela duração das necessidades do desenvolvimento da prole. Essa é uma verdade evidente que Chesterton coloca de uma maneira muito clara:

“Todos os animais superiores exigem uma proteção paterna muito mais longa do que os inferiores; o filhote de elefante permanece filhote por muito mais tempo do que o filhote de medusa.

Além dessa tutela natural, o homem precisa de algo que é totalmente único na natureza: só os seres humanos precisam de educação. (...) A educação é um cultivo complexo e de muitas facetas, necessário para enfrentar um mundo igualmente complexo; e os animais, sobretudo os inferiores, não precisam dela. (...)

Se os jovens da espécie humana devem alcançar todas as possibilidades da cultura humana, tão variada, tão laboriosa, tão elaborada, devem estar sob a proteção de umas pessoas responsáveis durante os longos períodos exigidos pelo seu crescimento mental e moral. (...)

Quando compreendemos isto, entendemos por que as relações entre os sexos normalmente são estáticas, e em muitos casos permanentes. (...) O ambiente de algo seguro e estável só pode existir lá onde as pessoas são capazes de ver tanto o futuro como o passado. As crianças sabem com exatidão o que significa ‘chegar em casa’, e as mais felizes conservam esse sentimento ao longo de todo o seu desenvolvimento. (...)

Essa é, na experiência prática, a ideia básica do matrimônio: a de que fundar uma família é algo que deve ser feito sobre um fundamento firme; que a educação das crianças deve ser protegida por algo que é paciente e permanente. Essa é a conclusão comum de toda a humanidade; e todo o senso 
comum está a seu lado.”[1]

Uma pesquisa realizada pelo Wall Street Journal, dos Estados Unidos, revelou que nenhuma outra instituição social se revelou mais apropriada do que o casamento para cuidar das necessidades humanas. O divórcio e a paternidade fora do casamento são responsáveis por muitos dos males aparentemente incuráveis que acometem a nossa sociedade. Gravidez na adolescência, delinquência juvenil, pobreza infantil, distúrbios de comportamento, dificuldade de relacionamento e de ver o casamento como uma instituição saudável, refúgio na bebida e nas drogas, promiscuidade, entre outros.

Essa questão é muito séria. Estamos tratando do futuro da nossa sociedade, da felicidade dos nossos filhos. O divórcio não resolve nada, muito pelo contrário, cria problemas ainda maiores, tanto para o casal, como para os filhos.

O jornalista britânico Paul Johnson conta sobre o seu matrimônio: “É normal que duas pessoas que vivam juntas tenham amiúde pontos de vista diferentes; saber resolver essas diferenças com simplicidade faz parte da dinâmica vital e do processo de amadurecimento da pessoa. Divorciar-se significa romper esse processo de crescimento, arrancar pela raiz a planta viva e lança-la, sem necessidade, ao fogo. (...) Os matrimônios duradouros edificam-se sobre os estratos arqueológicos de brigas esquecidas.”

Mas onde essa “cultura do divórcio” começa? É na ideia insana de que para ser feliz, a pessoa precisa pensar PRIMEIRO em sua REALIZAÇÃO PESSOAL. O egoísmo reina soberano e onde há egoísmo, não tem amor que resista. O ser humano foi criado para se vincular, para se entregar a outro e só pode ser feliz na medida que faz o outro feliz. Não existe felicidade sozinha, felicidade pessoal, o que existe é ser feliz na medida em que as pessoas que amamos são felizes. E o grande responsável pela felicidade daqueles que amamos é nós mesmos!

O egoísmo leva à imaturidade: quando penso só em mim, permaneço infantil, como aquela criança que quer tudo para si, que acha que o mundo gira em torno de si mesma. Essa fase precisa ser superada. É preciso ver que vivemos em sociedade, que não existe o que é bom só para mim, preciso ver o que é bom para todos. É preciso ensinar nossos filhos desde pequenos que precisamos pensar no outro, no bem da família. Quando há disputa entre os irmãos, a pergunta que deve ser feita a cada filho é: “Qual é a escolha mais generosa que você pode fazer nesse momento?”

Para sermos felizes, precisamos vencer o egoísmo, aquela voz interior que diz que tenho que buscar primeiro a mim, ao que eu gosto, ao que me dar prazer. Amar e ser feliz exige muito sacrifício, o sacrifício de colocar a sua vontade em segundo plano, para fazer o que mais agrada ao outro. Essa é a lógica do amor: eu me sacrifico por você e você se sacrifica por mim, assim construímos juntos a nossa felicidade.

Dom Rafael Llano Cifuentes nos ensina: “É deste modo, talvez descontínuo, intermitente, que se constrói – dia a dia, tijolo a tijolo, com um sacrifício unido a outro, com uma renúncia vivida ao lado de outra -, a felicidade conjugal, renovando uma e outra vez – apesar das diferenças e conflitos – a fidelidade, até que a morte separe os dois esposos. Chegará um momento em que a fidelidade se renovará nos céus, onde a felicidade se prolongará por toda a eternidade.”

Precisamos dizer NÃO à cultura do divórcio. O divórcio nunca deve ser uma opção. Toda crise tem solução. É necessário esforço e sacrifício por parte dos cônjuges e na imensa maioria dos casos, a crise só fortalece o relacionamento, torna as pessoas mais maduras e mais felizes.



[1] CIFUENTES, Rafael Llano “As crises conjugais”, ed Quadrante, São Paulo, 2001, pgs. 10-12
photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/34417482@N05/5413705915">352/365  In Pieces</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>

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