O matrimônio é a célula
base de nossa sociedade e tem sido muito atacado recentemente. Todos os
casamentos estão ameaçados, não importa quanto tempo de casados, o fantasma do
divórcio está sempre a espreita.
Casamos para sermos
felizes, mas muitos casais não o são e acabam colocando fim ao matrimônio em busca
justamente da felicidade. Quando nos casamos, acreditamos que com aquela pessoa
poderíamos ser felizes, que nossa felicidade estava assegurada. Ninguém se casa
para ter uma vida miserável, infeliz.
O Pe. Kentenich,
fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, cita um adágio antigo que diz:
"Todo reino se conserva com as
forças que lhe deu origem." Quais foram as forças que deram origem ao
nosso matrimônio? Se estas forças continuam presentes, estamos bem. Caso
contrário, precisamos mudar alguma coisa.
Qual foi a primeira
coisa que chamou a nossa atenção para o outro? De todas as pessoas que
conhecíamos, uma nos chamou a atenção por ser especial. Pode ter sido de uma
hora para outra, como um raio, ou gradativamente, pouco a pouco aquela pessoa
foi nos conquistando. Se nos fixamos em alguém, era porque vimos algo valioso
nele ou nela. Pode ter sido a beleza, a inteligência, a integridade. Vimos
alguma qualidade que nós gostamos e na medida em que fomos conhecendo mais essa
pessoa, começamos a nos fascinar e apaixonar por ela.
E como é agora?
Chegamos ao ápice e nos casamos. Depois, essa pessoa que era tão trabalhadora,
se torna uma viciada em trabalho; quem era tão simpática, passa a ser uma
pessoa superficial; aquele que era tão inteligente, agora não consegue perceber
algo básico. A imagem que tínhamos muda e já não admiramos tanto essa pessoa.
Os primeiros anos de
casamento as vezes são muito duros: temos que ganhar a vida, vem os filhos, começamos
também a ver os lados fracos do companheiro, as vezes de maneira muito forte.
Vemos um ao outro como realmente somos: com muito valor e com muitos defeitos.
Como conservar a admiração pela pessoa com quem casei?
O amor tem que
amadurecer. Precisamos reconhecer que essa pessoa é um presente. Um presente
que pode estar embrulhado em um papel muito feio, mas ainda é um verdadeiro
presente. Eu me apaixonei por uma pessoa real. Será que ela perdeu as
qualidades que tanto admirei? Será que não possui outras qualidades que ainda
não descobri? Todas as pessoas possuem coisas lindas, grandes.
"Não
podemos ser como as moscas que ficam parando em todas as coisas sujas.
Precisamos ser como as abelhas, que buscam e extraem o bonito e o doce." (Pe.
Kentenich). Nós temos que sempre voltar a buscar e a encontrar o que é lindo no
outro, em meu companheiro de vida. Travar uma luta real para aflorar essa
riqueza que existe no outro e não ficar somente no lado que não é tão bonito.
Não devemos ser
"mártires" que apenas suportam o lado ruim do outro. Não nascemos
para isso, fomos criados para sermos felizes e pelo sacramento do matrimônio
recebemos todas as graças necessárias para sermos felizes um com o outro.
Precisamos aprender a arte de trabalhar nossos defeitos, realizar um trabalho de superação pessoal. Se tenho um defeito e o outro me mostra, devo procurar superar esse defeito. Nós trabalhamos como casal, trabalhamos nossa personalidade, para crescermos como pessoa. Estamos em um mesmo lugar para vivermos felizes. Buscamos solucionar aquilo que torna nossa vida menos agradável.
Precisamos trabalhar
para ajudar ao outro a superar seu problema, sua limitação. Normalmente só
reclamamos: até quando? Quantas vezes já te falei isso? Mas se mantenho essa
atitude, o que menos consigo é que o outro mude. Resmungar e reclamar é a pior
maneira de lidar com essa situação.
Mas a mudança é
necessária. Então precisamos introduzir algo novo em nosso relacionamento. No
Movimento de Schoenstatt chamamos de autoformação. Cada um de nós está em um
caminho de crescimento e no matrimônio possuímos uma grande vantagem, porque um
pode ajudar ao outro, com amor, primeiro a ver o seu problema para então
superar suas debilidades. Assim trabalhamos juntos um para o outro.
Se vejo que o outro
está se esforçando para superar um defeito, tenho mais paciência de suportar
esse defeito, pois sei que as coisas não mudam de um dia para o outro. E vice-versa.
Eu sei que também tenho coisas que para mim é difícil mudar e o outro tem
paciência comigo. E essa dinâmica nos tranquiliza.
Uma sugestão é nos
reunirmos como casal uma vez ao mês para revisarmos esse nosso esforço por
superamos nossos defeitos. Em uma ou duas horas, podemos compartilhar com o
outro nossos sucessos e fracassos e desta forma, nos fortalecemos.
Todavia, precisamos ter
consciência que existem defeitos que não são possíveis mudar. Por mais esforços
que façamos, existem coisas que simplesmente não mudam. Não nos casamos com uma
pessoa perfeita, mas com um ser humano, que muitas vezes vem com defeito
"de fábrica". Então precisamos pensar com muito realismo: da mesma
forma que eu tenho que suportar esse defeito "imutável" do outro ele
também tem que me suportar em meu defeito "imutável". Como disse S.
Paulo, o amor consiste em carregar o fardo uns dos outros. Eu amo você assim
como você é e aceito sua pessoa com gratidão, porque tem muitas coisas lindas.
Eu te aceito e te amo porque vejo que está se esforçando por melhorar, mas
também aceito que não vai conseguir mudar tudo.
Essa dinâmica não
termina nunca. Nós vamos mudando durante a vida, as novas etapas apresentam
novas exigências e mostram ainda novos valores e novos defeitos. Precisamos
sempre ter a consciência de cuidar para não perder a admiração pelo outro.
Nunca posso deixar de ver em meu cônjuge algo lindo, algo que agrada, que me
enriquece, afinal esta pessoa foi o presente que Deus me deu para me ajudar a
chegar ao Céu.
photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/16105263@N00/7183245889">Valentine 2012</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/">(license)</a>
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