terça-feira, 22 de março de 2016

PERGUNTAS SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA - PARTE 1

Continuando nossa conversa sobre os males da reprodução assistida, responderemos hoje uma pergunta que frequentemente é feita à Igreja. Ela foi extraída do livro Good News About Sex and Marriage, de Christopher West, mais especificamente no capítulo 7.


1. A Igreja é tão pró-família e pró-vida. Faz sentido que a Igreja seja contra tecnologias que impedem a procriação, mas o que poderia ter de errado em tecnologias que pretendem trazer vida ao mundo?


Pode parecer contraditório a princípio. Mas com uma investigação mais a fundo, entretanto, se torna evidente que a Igreja seria contraditória se ela não apontasse a imoralidade de algumas técnicas de geração de vida. Os ensinamentos da Igreja sobre as tecnologias reprodutivas são simplesmente "o outro lado da moeda" de seus ensinamentos sobre o controle de natalidade. Enquanto os métodos contraceptivos de controle de natalidade divorciam o sexo de bebês, muitas técnicas reprodutivas divorciam os bebês do sexo. A consistência inabalável de sustentar o significado do amor, vida e matrimônio - o significado de ser criado homem e mulher à imagem de Deus - exige que a ligação entre o sexo e bebês, bebês e sexo, nunca sejam divorciados, independentemente das circunstâncias ou dos motivos.

A moral básica dos princípios da Igreja no que diz respeito às tecnologias reprodutivas é essa: se uma determinada intervenção médica assiste o ato conjugal para alcançar seu fim natural, pode ser moralmente aceitável, e até mesmo louvável. Mas se ela substitui o ato conjugal como meio pelo qual a criança é concebida, então não está mantendo a intenção de Deus para a vida humana. Separar a concepção do ato conjugal amoroso entre o marido e a esposa não apenas provoca muitos males futuros, mas - mesmo se estes são evitados - permanece contrário à dignidade da criança, a dignidade dos esposos e seu relacionamento, e nossa condição de criaturas. Vejamos cada um dessas questões.

Provocar males futuros. Como disse Jesus, você pode julgar a árvores por seus frutos (Mt 7, 17-20). Separar a concepção do ato conjugal não necessariamente ocasiona os seguintes males, mas mais frequentemente que não, ela conduz a eles na prática: masturbação como um meio de obter o esperma; produção de vidas humanas em "excesso" que ou são destruídas através do aborto (eufemisticamente referidos como "redução seletiva"), congelados para "uso" futuro, ou intencionalmente cultivados para experimentos médicos; uma "mentalidade eugênica" que discrimina entre seres humanos, não tratando todos com igual cuidado e dignidade; o tráfico de gametas (espermatozoide ou óvulo) e embriões congelados para o uso de outros; inseminação em mulheres não casadas, e assim, todos os males associados a filhos "sem pais".

A dignidade da criança. Enquanto existem muitos atos através dos quais uma criança pode ser concebida (ato conjugal, um ato de estupro, fornicação, adultério, incesto, vários procedimentos tecnológicos), apenas um mantém a dignidade da criança. A grande dignidade humana é encontrada em sermos imagem de Deus. Amar é ser concebido através daquele ato de amor que nos torna imagem de Deus. Isto é o amor conjugal, e sua expressão definida é o abraço do marido e da esposa em "uma só carne".

Desde o momento da concepção, os filhos merecem o respeito que devemos a todas as pessoas. Eles são iguais em dignidade com seus pais. Eles são criados para o seu próprio bem, para serem recebidos incondicionalmente como presentes de Deus. Desejar uma criança não como fruto do amor conjugal mas como um fim resultado de um procedimento tecnológico significa tratar a criança como um produto a ser obtido, ao invés de uma pessoa para ser amada. Para aqueles envolvidos, isto cria - consciente ou inconscientemente, sutil ou não tão sutilmente - uma orientação despersonalizada para com a criança.

Produtos são sujeitos ao controle de qualidade. Quando você gasta muito dinheiro para comprar uma TV nova, você quer que ela esteja em perfeitas condições. Se isso não acontece, você troca por outra ou pede o reembolso. 

Da mesma forma, a tentação é muito real para os casais que pagam milhares de reais para esses procedimentos quere um "reembolso" ou uma "troca" se seu "produto" tem defeito. Conhecemos um médico geneticista que diz que se o embrião tem algum defeito é "dever" dos pais descartá-lo, pois se está pagando muito caro para ter um filho "defeituoso". Essa mentalidade leva as pessoas a querer não o bebê em particular que está sendo concebido para o seu próprio bem, mas ao invés, bebês que estejam em "perfeito estado", até mesmo bebês "encomendados": este sexo, esta cor de olhos, este tom de pele, aquela estatura. De fato, se o bebê é deformado ou de alguma forma não corresponde à expectativa do casal (ou do médico), ele é geralmente "destruído" e o procedimento recomeça.

Eu não pretendo dizer que todo casal que paga por esses procedimentos se abaixa a este nível. A tentação de aplicar "controle de qualidade" pode ser resistida. Mas uma mentalidade despersonalizante é construída na própria natureza do procedimento.

A única forma de garantir que a dignidade de cada criança seja respeitada é garantir que os esposos entendam e vivam o significado completo do sexo e nunca busquem uma criança separada de sua união.

A dignidade dos esposos e seu matrimônio. A Congregação para a Doutrina da Fé observou que a geração de vida humana deve respeitar não só a criança mas também os pais e a dignidade de seu relacionamento. Para isso ela deve ser o fruto e o sinal da doação mútua dos esposos, de seu amor e de sua fidelidade. Em outras palavras, a geração de uma vida humana deve ser o fruto do "sim" dos votos feitos no altar expresso através da relação sexual.

A geração tecnológica de vida humana é simplesmente não marital. A criança não é fruto dos votos de seus pais "feito carne". A criança é o produto de um procedimento tecnológico feito por um terceiro que está fora de sua união como casal. Como o teólogo moral William E. May notou: "Os esposos não podem delegar a outros o privilégio que possuem de gerar vida humana da mesma forma que não podem delegar a outros o direito que eles possuem de se engajar no ato sexual". O fato que os gametas sejam usados pelo técnico pode tornar o marido e a esposa supérfluos na concepção de seu filho.

Então mais uma vez, os esposos que empregam estes procedimentos violam, consciente ou inconscientemente, o "eu aceito" de seu comprometimento matrimonial. Enquanto os esposos possam desejar expressar sua "abertura aos filhos" através do recurso a estes procedimentos, no máximo eles estão dizendo "Eu aceito, mas não da forma que Deus pretende." Agir ao contrário do plano de Deus para o matrimônio e a procriação é completamente incompatível com o comprometimento matrimonial, mesmo se é feito com "as melhores das intenções".

Além disso, inúmeros casais podem atestar sobre os efeitos despersonalizantes de sujeitar a si mesmos a inúmeros testes e procedimentos repetidos que tratam sua células sexuais como um "material cru" que deve ser colhido para a produção de uma criança. Ser inseminada artificialmente por um médico com uma longa seringa não está na lista dos 10 procedimentos mais dignificantes de uma mulher. Alguns podem clamar que tudo vale a pena quando seu "filho milagroso" nasce. Mas a percepção subjacente de que seu filho é um "milagre da ciência" ao invés de um milagre de sua própria união marital acaba servindo para desemaranhar a psicologia básica dos relacionamentos familiares nos quais os esposos e filhos dependem para o seu próprio equilíbrio.

O ato conjugal não é simplesmente a transmissão biológica de gametas. Se assim fosse o caso, seria muito mais conveniente para os casais que quisessem conceber empregar as técnicas in vitro ao invés de deixar para o "acaso" biológico. O ato conjugal é uma realidade profundamente pessoal, sacramental, física e espiritual. Divorciar a concepção desta sublime união mostra uma falta de entendimento e respeito pela "linguagem do corpo" e a profunda essência do amor matrimonial. Ele despersonaliza tudo o que está envolvido.

Nossa condição de criaturas. Deus sozinho é, como afirmamos no Credo de Nicéia, o "Senhor e Criador de todas as coisas". Os esposos tem o distinto privilégio de cooperarem com Deus na procriação dos filhos, mas como criaturas, eles não são os mestres da vida. Eles são apenas servos do desígnio de Deus.

A fertilização tecnológica, ao contrário, como notou a Congregação para Doutrina da Fé, "confia a vida e a identidade do embrião ao puder de médicos e biólogos e estabelece a dominação da tecnologia sobre a origem e destino da pessoa humana." Os esposos e os técnicos se colocam como operadores ao invés de cooperadores, criadores ao invés de procriadores. Eles negam sua condição de criaturas e fazem a si mesmo "como Deus". (Gn 3,5)

Deus criou a união sexual para ser um símbolo sacramental de alguma forma de sua própria vida e amor e de nossa união com Cristo. Buscar vida humana fora da união sexual é também simbólica. Simboliza a rejeição de nossa união com Deus: o desejo de ter vida sem Deus ou, no mínimo, longe do que foi designado para nós. Como diz o Catecismo, quando nós preferimos os nossos próprios desígnios ao invés dos desígnios de Deus, nós estamos o desprezando. Quando escolhemos a nós mesmos ao invés dos requerimentos de nossa condição de criaturas, nós agimos contra o nosso próprio bem.

photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/80314554@N07/14609358123">Elliot 6days photoshoot</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/">(license)</a>

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