No último artigo, falamos da importância que o Pe. Kentenich dava à meditação da vida diária como uma escola de amor, como a forma de nos encontramos com Deus em nosso dia a dia. Porém sabemos que, quando tentamos mudar o ritmo da nossa vida para dar lugar a uma dimensão mais contemplativa, encontramos inúmeras dificuldades para colocar na prática.
Decidir meditar
O nosso primeiro passo precisa ser a decisão por incluir a prática da meditação em nossa vida. Precisamos entender que essa pequena parada durante o nosso dia para tentarmos enxergar Deus se comunicando conosco é essencial para conseguirmos uma maior intimidade com Ele. Ou conseguimos encontrar a Deus nas criaturas, nas coisas e no trabalho ou simplesmente esse Deus da vida se torna inalcançável. Podemos até ter um contato com Ele quando vamos à igreja ou fazemos uma oração, mas o resto do dia, vivemos, por assim dizer, como um pagão.
Devemos buscar não somente ao Deus transcendente, que está no Céu e ouve nossas orações ou se alegra quando participamos do Santo Sacrifício da Missa e fazemos comunhão com Ele, mas também ao Deus que é a Causa Primeira de tudo, que tudo criou e colocou à nossa disposição e deseja, através das Causas Segundas (as pessoas e tudo o que foi criado) se encontrar conosco demonstrar o seu amor infinito para cada um de nós
Não desistir frente às dificuldades
Depois de entendermos a importância da meditação e nos decidirmos a realizá-la, podemos nos sentir desanimados ao darmos conta dos imensos desafios que se colocam em nosso caminho e todas as forças do nosso mundo materialista que querem nos impedir de olharmos para dentro de nós e para buscarmos Deus em nossa vida. Podemos ter algumas tentativas falhas de meditar, e então nos damos por vencidos. Pensamos que a meditação não é para nós...
“Há quem pense que a oração meditativa está reservada para os sacerdotes e religiosos. Os leigos, mais ainda, os simples trabalhadores, não seriam capazes e nem estariam chamados a de fazê-la. Todavia, este é um grande erro. Não somente há santos da vida diária atrás dos muros conventuais, não somente há santos que usam hábitos religiosos, mas também e principalmente em trajes seculares, em meio do emaranhado e das lutas da vida cotidiana. Eles são encontrados em todas as vocações e estados de vida.” (P. J. Kentenich)
Meditar num mundo tão agitado como o nosso realmente é uma tarefa heroica e se não tivermos um método adequado e constância nessa atitude, contando com a ajuda do Espírito Santo, será praticamente impossível consegui-lo. O Pe. Kentenich dizia que uma das virtudes que ele mais admirava era a fidelidade. A fidelidade de recomeçar a cada queda, a cada fracasso. Então não devemos desanimar se não conseguirmos logo colocar a meditação em prática, mas sempre ter a coragem de tentar novamente.
Pedir auxílio ao Espírito Santo
Assim, precisamos implorar a graça do alto, especialmente os dons do Espírito Santo. Podemos pedir a poderosa intercessão de nosso Santo Anjo da Guarda. Ele é um ser muito poderoso que nos foi presenteado por Deus para nos guardar, iluminar e conduzir ao Céu. Ele sabe da importância de nosso contato mais íntimo com Deus para chegarmos lá, então quer nos ajudar a colocarmos em prática a meditação.
Como ensina o Pe. Rafael Fernández: “O objetivo próprio da meditação é aprofundar e tornar mais íntima nossa relação de amor com Deus. Se meditamos uma ideia, é para degustar a verdade ou realidade que esta representa, a fim de que, além do nosso intelecto, penetre em nosso coração. Porque quando se trata de nosso vínculo de amor com Deus, e do amor que Ele tem por nós e que espera que nós lhe devolvamos, não bastam conceitos nem meras ideias. (...)
A meditação é como a raiz da árvore. O que sustenta as árvores, quando vem tormentas e tempestades, não é a copa nem as folhas, mas as raízes. Quanto mais profundas são as raízes de uma árvore, mais capacidade ela tem de superar os embates do tempo. Inclusive, as tormentas as vão afirmando, porque suas raízes vão se fincando na profundidade. O vento pode lhes arrancar um tanto de galhos e folhas, mas a árvore continua de pé. Porém, quando as raízes são escassas, mesmo que tenha uma folhagem muito frondosa e um grande tronco, facilmente um temporal a derrubará. A meditação nos arraiga no coração de Deus.”
Como meditar?
A prática da meditação da vida diária ensinada pelo Pe. Kentenich possui algumas etapas. A primeira etapa é a preparação. Existe a preparação remota, a preparação próxima e a preparação imediata. Depois vem o desenvolvimento da meditação, com o início, desenvolvimento e conclusão.
Nos próximos artigos, explicaremos detalhadamente cada uma dessas etapas inclusive com exercícios práticos de meditação, porém, colocamos aqui um panorama geral, um resumo de como a meditação funciona:
Escolher um horário do dia no qual realizará a meditação. Pode ser, no início, cerca de 10 a 15 minutos. Podemos começar fazendo uma vez por semana, e depois, gradativamente, aumentando a frequência.
Escolhemos um lugar adequado, onde não seremos interrompidos. De preferência, com alguma cruz ou imagem que nos remeta à realidade sobrenatural. Fechar um pouco os olhos, respirar calmamente e nos colocar na presença de Deus, então fazemos uma oração implorando as luzes do Espírito Santo.
Em seguida, escolher sobre o que se vai meditar. Se ainda somos iniciantes nessa prática, é mais fácil escolher uma passagem bíblica ou um trecho de uma oração. Depois, com a prática, pode ser um acontecimento da vida (uma situação concreta de nossa vida), que é efetivamente a meditação da vida diária proposta pelo Pe. Kentenich.
O Pe. Kentenich propõe três perguntas que constituem uma excelente ajuda para desenvolver esse encontro com o Senhor:
1. O que Deus quer me dizer com isso? (através desse texto ou desse fato ou circunstância)
2. O que digo a mim mesmo?
3. O que respondo a Deus?
A pergunta mais importante é esta última. É nela que entramos na oração meditativa. Quando falamos de resposta, não significa necessariamente uma ação ou propósito, mas de uma resposta “de amor”, uma resposta do coração, falando pessoalmente com o Senhor. Expressamos nosso amor de gratidão, de arrependimento, de pedido. Terminamos a meditação com uma oração de ação de graças. É conveniente anotar em um caderno pessoal sobre o que meditamos e o que foi mais importante para nós na meditação.
Além de agradecer ao Senhor e a Nossa Senhora pela meditação (ou pedir perdão se não a realizamos bem), as vezes podemos concluir com alguma intenção ou propósito que venha ao encontro do que meditamos. Assim, pouco a pouco, com a dedicação de alguns momentos por dia para meditar, vamos aumentando nosso amor e nossa vinculação ao nosso Pai do Céu que nos ama com amor infinito.
Caso você tenha alguma dúvida ou comentário sobre a prática da meditação da vida diária, pode enviar sua pergunta para o email: ouvidonocoracaodedeus@gmail.com
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