Eu sempre me impressionei com a história da mãe e de seus
sete filhos narrada em 2 Macabeus, capítulo 7. O relato bíblico nos conta que,
para não ceder à pressão do rei e comer carne de porco que era proibida para os
judeus, a mãe viu cada um de seus filhos serem torturados e mortos, sendo por
fim, martirizada também. Um dos trechos que me chama a atenção é o seguinte:
“Ela, vendo morrer seus sete filhos num só dia, suportou tudo
corajosamente, esperando no Senhor. Ela encorajava cada um dos filhos, na
língua de seus antepassados. Com atitude nobre, e animando sua ternura feminina
com força viril, assim falava com os filhos: ‘Não sei como vocês apareceram em
meu ventre. Não fui eu que dei a vocês o espírito e a vida, nem fui eu que dei
forma aos membros de cada um de vocês. Foi o Criador do mundo, que modela a humanidade
e determina a origem de tudo. Ele, na sua misericórdia, lhes devolverá o
espírito e a vida, se vocês agora se sacrificarem pelas leis dele.’” (2Mc 7,
20-23)
Que fé extraordinária possui essa santa mulher! Sabemos que o
instinto materno tende a proteger os filhos de todo o sofrimento, mas ela,
pensando no bem maior, na felicidade eterna de seus filhos, os encorajou ao
martírio!
Isso me faz pensar até que ponto eu, como mãe, estou
preparando meus filhos para um eventual martírio. Não falo aqui necessariamente
de um martírio sangrento, de dar a vida pela fé em Jesus Cristo (apesar que,
nos tempos difíceis e extraordinários em que vivemos, essa não é uma hipótese
tão absurda). Mas talvez de um martírio da própria reputação, um martírio de
ser considerado fundamentalista, radical, louco... Até que ponto meus filhos (e
nós também, como pais) estão dispostos a abrir mão de ter a tranquilidade e paz
daqueles que seguem os ensinamentos do mundo para viver a radicalidade exigida
no seguimento de Jesus?
Essa entrega total só é possível se temos uma fé sólida no amor
infinito que Deus Pai tem por cada um de nós e de que a felicidade completa só
teremos quando chegamos no Céu. Para isso precisamos basicamente de duas
coisas: oração incessante pedindo o dom da fé (“eu creio, Senhor, mas
aumentai a minha fé”) e o aprofundamento na vida e nos ensinamentos de
Jesus. Só podemos amar quem conhecemos. Só nos sentiremos amados se meditarmos
e enxergarmos o que Jesus fez por nós, fez por mim, ao se entregar
livremente para ser torturado e morto na cruz.
Assim é importante, desde que os filhos são pequenos, a
mostrar para eles como são amados por Deus, como são preciosos aos olhos de
Deus, o quanto Jesus sofreu para que eles pudessem estar, um dia, no Céu.
Conforme eles vão crescendo, devemos estimular que tenham também um
relacionamento pessoal e íntimo com o Senhor, através da oração pessoal e frequência
aos sacramentos, afinal, Deus não tem netos, só filhos...
Devemos também estudar a doutrina da Igreja, as razões da
nossa fé, o porquê defendemos determinada causa ou somos contra outras. Nossa
inteligência precisa ser iluminada pela luz natural da razão e pela luz
sobrenatural da graça. As duas coisas andam juntas. Nossa fé tem fundamento
racional, na inteligência, não é apenas um “sentimento”. Sem alimentarmos esse
lado racional da nossa fé, na hora da tentação, na hora que precisamos justificá-la
ou tomar um posicionamento mais firme, podemos fraquejar. “A fé e a razão constituem
como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da
verdade”, nos ensina o S. João Paulo II. Todo esse estudo deve ter como
objetivo sempre a busca da Verdade, que é o próprio Jesus Cristo. “Conhecerão
a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).
Desta forma, com uma vida de oração e de busca da verdade,
com a força e as graças que recebemos através dos sacramentos, especialmente da
Confissão e da Eucaristia, nós e nossos filhos estaremos preparados para
enfrentarmos as dificuldades que o mundo nos apresenta e até o martírio, se
assim estiver nos planos amorosos do Pai.
photo credit: babasteve <a href="http://www.flickr.com/photos/64749744@N00/25941203631">Easter
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