terça-feira, 26 de abril de 2016

A VISÃO CATÓLICA DO SEXO

Estamos rodeados por uma cultura muito erotizada, que banaliza o sexo e grita por aí: “Curta a vida! Faça sexo com quem você quiser, quando você quiser. Conceda o máximo de prazer a si mesmo e quando tiver usado e abusado dos seus amantes, jogue-os fora e troque-os por outros!” Essa é a mensagem da sociedade onde chamar uma mulher de recatada torna-se uma ofensa.

Muitas pessoas tem a visão equivocada que a Igreja Católica é uma entidade repressora, que condena o prazer, principalmente o prazer sexual. Porém estão completamente errados. Conforme Gregory Popcak explica em seu livro Beyond the Birds and the Bees, São João Paulo II mostrou claramente em sua Teologia do Corpo qual é a visão católica do sexo. Vamos explorar aqui algumas questões levantadas nesse livro.

O sexo estimulado por nossa cultura não é vital, porque é abertamente hostil à nova vida. Ao invés de vir de uma amizade espiritual profunda entre duas pessoas, ele procura substituir e subverter aquela amizade. Ele não melhora com o tempo (na verdade, ele enfraquece), porque nenhuma intimidade real pode existir na falta de uma amizade espiritual. Sem intimidade, qualquer relação sexual se torna, com o tempo, entediante e menos interessante. Ele não resiste ao conflito e ao stress porque nessa versão da sexualidade, o conflito não deveria existir, apenas o êxtase maravilhoso. E no primeiro sinal de problema, então, a paixão morre e o casal se separa.

Para a visão católica, esse tipo de sexualidade nem de longe expressa a verdadeira sexualidade. Ela é apenas erotismo e/ou masturbação na presença de outra pessoa. A versão verdadeira da sexualidade é aquela que Deus pretendeu quando nos deu nossa sexualidade. É infinitamente mais real, mais bonita e mais satisfatória do que essas imitações esfarrapadas que o mundo tenta nos impingir.

A sexualidade católica, oferece algo completamente diferente:

* oferece aos esposos a chance de amar e ser amado (ao invés de usar e ser usado) da maneira que mais ansiamos
* oferece ao casal a liberdade de serem divertidos e alegres de uma maneira que nunca é degradante ou humilhante
* permite que o casal experimente a relação sexual tanto como um sinal físico da paixão que Deus tem pelo casal como um prenúncio do êxtase divino que nos espera no Paraíso
* permite ao casal comunicar todo o seu ser físico, emocional, espiritual e relacional, um ao outro, todas as vezes que fazem amor
* convida o casal a renovar suas promessas matrimoniais com a “linguagem de seus corpos” – e celebrar seu sacramento – todas as vezes que fazem amor
* oferece proteção contra doenças e corações partidos
* encoraja o casal a celebrar um amor tão poderoso, tão profundo, que em muitos casos, “o amor precisa receber seu próprio nome em nove meses”
* encoraja o casal a considerar em oração os planos de Deus para suas vidas a cada mês, perguntando se Deus os está chamando para expandir sua “comunidade de amor” ao estarem abertos a adicionar mais uma vida a sua família
* desafia a capacidade de vulnerabilidade do casal e os ajuda a superar a culpa básica que toda a humanidade experimentou depois do pecado original. Ela contribui para preparar que eles permaneçam, completamente expostos, ante nosso divino Amante quando chegarem ao Banquete Nupcial do Cordeiro com Deus – no Paraíso.

O discurso da Igreja sobre o sexo é mais ou menos esse: “É claro que você deve se divertir e curtir a vida. Para fazer isso, você deve ter certeza de encontrar um parceiro que possa amá-la apaixonadamente, respeitosamente, poderosamente e em oração da mesma forma que o próprio Deus quer que você seja amada. Encontre alguém que pense, fale e aja como se você fosse seu maior tesouro. Então mantenha aquela pessoa para o resto de sua vida como seu grande tesouro ao lado de Jesus Cristo e sua própria vida. Encontre um amante que queira ajudá-la a se tornar a pessoa que Deus criou você para ser, que olhe para você e veja seus filhos ainda não nascidos em seus olhos e que saiba controlar a si mesmo para que você não se sinta usada ou ameaçada e então você possa se doar totalmente. Encontre alguém que encoraje você em todas as coisas que você quiser fazer e todas as coisas que Deus está lhe chamando a ser.”

A sexualidade católica é difícil de viver. Ela envolve disciplina, trabalho, sacrifício, autocontrole, mas também é a única forma de viver a sexualidade onde alguém possa esperar encontrar verdadeira alegria, verdadeiro amor divino, verdadeira realização, verdadeira confiança, verdadeira vitalidade e verdadeira felicidade.


photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/12239756@N03/22136529849">IMG_8433</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>

terça-feira, 19 de abril de 2016

CARTA DE UM BEBÊ QUE FOI PARA O CÉU

Hoje faz 8 anos que nossa caçulinha, a Júlia, foi para o Céu. Ela foi uma bênção para nossa família nos pouco mais de 5 meses que passou conosco. Hoje é nossa santa particular e intercede por nós junto a Jesus. Quem quiser saber a história completa dela, veja aqui. Compartilho com vocês uma cartinha que escrevi poucos dias depois que ela faleceu, em agradecimento a todos da UTI Neonatal da Maternidade de Campinas que me ajudaram a cuidar dela nesse período.  

Querida família da UTI Neonatal,

Inspirei minha mãe a escrever esta cartinha pra vocês, para agradecer. Gostaria de agradecer a todos, e a cada um de vocês, por tudo que fizeram por mim nestes pouco mais de cinco meses em que passamos juntos. Pelo cuidado ao tocarem em mim, pelas “balinhas” na hora dos exames - para eu não sofrer tanto, pelos carinhos em minhas dobrinhas quando estavam passando o leite, pelos muitos banhos para me refrescar e abaixar aquela febre que parecia não ir embora nunca, pelo sono perdido para tentar entender o que estava acontecendo comigo...

Obrigada pelo berço que me deixou mais confortável Por me arrumarem e me perfumarem, pelas “cabanas” para a luz não me incomodar, pela sopinha e pelo suco, enfim por me fazerem sentir em casa. Vocês foram uma verdadeira família pra mim, afinal passei muito mais tempo com vocês do que com meus pais e irmãos.

Sei que logo que nasci, muitos acreditaram que eu não iria viver muito, e por isso não queriam se apegar. Mas aos poucos fui conquistando a todos com meu olhar vivo e penetrante. Que não desistia de lutar pela vida, por um pouco mais de oxigênio, por um pouco mais de tempo.

Agora estou muito bem. Plenamente feliz, juntinho do Papai do Céu e no colo de nossa Mãezinha, sabendo que cumpri minha missão aí na terra. Não sinto mais dor, falta de ar, nem cansaço. Estou com outros amiguinhos por aqui, que também passaram um tempinho aí com vocês e vieram pra cá pouco antes de mim, e agradecem comigo: o Caio (irmão do Pedro), a Mariana, o Mateus, a Lara (irmã da Luana) e a outra Júlia. Sei que existem outros, mas ainda não os conheci, afinal cheguei só há alguns dias...

Minha missão foi, e continua sendo, mostrar a todos de que a VIDA VALE A PENA. A vida é o maior presente que recebemos do Papai do Céu e devemos cuidar dela com muito carinho, não nos apegando muito aos bens materiais e nem perdendo a nossa saúde com preocupações inúteis. O que realmente importa em nossa vida é o AMOR. O quanto fomos amados e o quanto amamos. Para amarmos e sermos amados, não precisamos de um corpo perfeito e nem de saúde (disso eu tenho certeza), apenas da vontade de amar e disponibilidade para o sacrifício. O sacrifício e a dor purificam e aumentam o amor, e o porquê disso, vocês só irão entender plenamente quando estiverem aqui comigo.

Eu não cheguei a ver a luz do sol, não comi chocolate, não brinquei no mar, enfim, não desfrutei de nenhum dos prazeres deste mundo. Mas vivi plenamente a minha vida, pois fui muito amada e amei demais. Amei tanto que, quando percebi que minha estadia aí no hospital estava ficando complicada, pois já não era mais recém-nascida e precisava dar minha vaga para algum outro bebê mais necessitado e que minha mãe não aguentava mais, que estava muito cansada em ter que me visitar aí todos os dias, pedi a Mãezinha do Céu que viesse me buscar, pois havia chegado a hora.

Sei que a separação é difícil e dói bastante, mas estarei sempre com vocês, ajudando no que vocês precisarem. Como Jesus mesmo disse, o Reino dos Céus é das crianças, então daqui posso fazer muito. Quando as coisas estiverem difíceis por aí, lembrem-se de mim e podem pedir que eu ajudo. Amem muito e amem a todos que eu garanto que a recompensa será imensa: um lugar aqui no Paraíso.

Bom, me despeço agradecendo mais uma vez por tudo e na esperança de poder revê-los um dia...

Com carinho,
 JUJU




sexta-feira, 15 de abril de 2016

PROMOVENDO A ESPIRITUALIDADE PRÓPRIA DO ADOLESCENTE


Eu sempre procuro ler a respeito da educação dos filhos e agora, com meu mais velho na adolescência, esta fase do desenvolvimento tem chamado a minha atenção. O post de hoje foi baseado no livro Parenting with Grace, de Gregory Popcak e tem como objetivo orientar os pais de como lidar com a fé durante a adolescência. Já escrevi algumas dicas de como manter seu filho católico e as orientações de hoje vem completar aquelas ideias.

Até agora, seu filho teve fé porque você disse a ele que era verdade. Agora, como adolescente começa a exibir o que é conhecido como "pensamento formal operacional" (ou seja, a habilidade de analisar criticamente, pensar teoricamente e pensar sobre o pensamento em si), seu filho irá testar a Fé por si mesmo.

Para fazer essa transição, da fé que foi ensinada pelos pais para a fé que o adolescente se apropriará como sua, são necessários três componentes básicos: sentir a fé, defender a fé e aplicar a fé.

Sentir a Fé

Adolescentes, como regra, confiam muito fortemente em seu "sentido" para as coisas. Apesar já possuírem esse “pensamento formal operacional" eles ainda não são mestres nisto, e então eles confiam mais em seus instintos e paixões para dizer a eles o que é "verdade". Apesar de isto estar longe do ideal, é a ferramenta que Deus nos deu para trabalhar com nossos filhos nesse estágio de seu desenvolvimento.

Considerando estes fatos, é absolutamente fundamental que sejam dadas a seu adolescente todas as oportunidades possíveis para ter um encontro pessoal com Jesus Cristo e se apaixonarem por ele. Uma forma eficiente de fazer isso é introduzir seu filho em alguns elementos da espiritualidade mais "carismática", ou seja, mais emotiva, que mexa com seus sentimentos e emoções.

A forma como fazer isso pode ser encorajando sua participação em grupos de jovens, Movimentos, retiros para a juventude, entre outros. Forneça várias opções, ele talvez não goste de uma, mas se interesse por outra. Mesmo que isso signifique leva-lo ao outro lado da cidade para participar de um grupo de jovens onde ele se sinta mais confortável. Peça que pelo menos experimente antes de se negarem a participar. O importante é que eles se envolvam nessas atividades, o quanto antes, assim que os primeiros sinais da adolescência começarem a aparecer.

A própria Igreja sabe dessa necessidade dos adolescentes e jovens de “sentirem” a fé, por isso promove as Jornadas Mundiais da Juventude que tem como objetivo fomentar a noção de que Deus e a Igreja não querem apenas serem ministros da mente, corpo e comunidade das pessoas, mas também de seus corações e emoções.

Claro, será importante amarrar isso emocionalmente à vida sacramental da Igreja. Bons sentimentos espirituais são insignificantes a menos que eles estão trabalhando para dar a seu filho um entendimento e apreciação mais profundos do trabalho de Cristo através dos sacramentos.

Ao desenvolver sua própria capacidade de uma fé emocional, apoiando seus filhos na busca de tal fé e deixando que eles se animem emocionalmente com os sacramentos, você estará dando a seus filhos uma razão para permanecerem fiéis à Igreja até eles se desenvolverem e serem capazes de envolver suas mentes com a grandeza da teologia e espiritualidade mais tradicional da Igreja.
           
Defender a Fé

Ao mesmo tempo que o adolescente precisa sentir a fé ele também precisa desenvolver a habilidade de entender a fé, para então, poder defende-la. E o papel dos pais nesse momento é estarem preparados para responder corretamente e com profundidade toda e qualquer pergunta relacionada a fé. Claro que não precisa ser exatamente no momento da pergunta, pois muitas vezes será necessário uma pesquisa, mas não pode dar respostas genéricas e nem superficiais.

Algumas perguntas frequentes são "Como você sabe que Jesus era o Filho de Deus e não apenas um homem bom?" "Jesus realmente ressuscitou dos mortos?" "Existem tantas igrejas e cada uma penas que possui 'a Verdade' - como você sabe em quem acreditar?" E francamente, estas são algumas das questões mais fáceis que eles irão perguntar.

Nas ideologias conflitantes do mundo atual, não é mais suficiente para os pais oferecer sua opinião sobre o ensinamento da Igreja, seja ele a favor ou contra. Nós precisamos ser capazes de explicar o porquê a Igreja acredita naquilo e como a Igreja chegou a tal entendimento.

A teologia católica já foi chamada de rainha das ciências, não por causa do estado pobre da ciência "naquele tempo", mas porque a teologia católica é mais parecida com a física quântica do que qualquer outra disciplina menos religiosa. A física quântica faz declarações absolutamente bizarras sobre a maneira que o universo foi constituído; e poucas, se alguma destas declarações podem ser provadas por observação direta. Ao invés disso, os cientistas constroem a partir do que eles conhecem ser verdade e deixam as verdades conhecidas os conduzirem à próxima verdade: "Se isso é verdade e aquilo é verdade, então isto e aquilo devem ser também". Da mesma forma, a teologia católica começa com o que é conhecido sobre o mundo criado, acrescenta a verdade das Escrituras, examina os registros históricos e constrói a partir daí, passo a passo para apoiar os preceitos que ela ensina. É importante entender isso - de outra forma você não será capaz de comunicá-lo a seus filhos. E se você não puder comunicar isto a seus filhos, você não será capaz de dar a eles o que eles precisam para fazer a transição de uma fé baseada mais emocionalmente a uma fé baseada mais crítica e racionalmente que irá sustentá-los nos "tempos áridos"

Aplicar a Fé

A adolescência é uma época quando jovens se tornam sensíveis a ideais; ou seja, a maneira como as coisas devem ser. Eles estão constantemente comparando como o mundo é com sua visão de como o mundo deveria funcionar. Esta é uma época perfeita para educar seu filho nos ensinamentos sociais da Igreja.

Desafie seu adolescente com questões como: "Como o mundo seria se as pessoas se aproximassem do trabalho e da carreira da maneira que a Igreja diz que eles devem se aproximar?" "Como o mundo seria se as famílias funcionassem da forma em que a Igreja diz que elas devem funcionar? "Como as pessoas e os relacionamentos seriam se eles seguissem os ensinamentos da Igreja sobre ética sexual?" "Como o mundo se beneficiaria se seguissem os ensinamentos da Igreja sobre a maneira pela qual o dinheiro deve ser gasto e distribuído?" "Como o mundo seria um lugar melhor se respeitasse a vida em todos os estágios e sobre qualquer condições, ao invés de simplesmente decidir que o feto ou aquele criminoso não tem direito à vida?"

Se você não sabe qual é o ensinamento da Igreja, ou se você apenas pensa que sabe mas não tem certeza, procure. Comece com o Catecismo da Igreja Católica e passe para as passagens relevantes da Escritura e documentos da Igreja. Uma ótima fonte é o site do Pe. Paulo Ricardo, que explica tudo de maneira muito didática e fácil de entender (www.padrepauloricardo.org). A Canção Nova (www.cancaonova.com) também possui vários recursos para aprender mais sobre a nossa fé católica. Você até pode fazer um projeto de olhar estes tópicos junto com seu adolescente para que possam aprender juntos. Afinal, você não deve saber tudo para ser o professor de seu filho; você apenas deve ter algumas ideias sobre onde procurar as respostas. E claro, será de muita ajuda procurar oportunidades para você e seu filho se envolverem em organizações que promovam os ensinamentos sociais da Igreja.

Ao mostrar a seu filho que o ensinamento da Igreja não é preocupado apenas com matérias espirituais mas também tem relevância social, você estará ajudando seu filho a experimentar a sabedoria prática da Igreja. Você estará demonstrando que a Igreja está muito "em contato" com o mundo ao redor dela.
Enquanto ser capaz de sentir a Fé, defender a Fé e aplicar a Fé é essencial para qualquer católico em qualquer estágio da vida, é crítico na adolescência, onde tanto é incerto e tanto ainda deve ser testado. 

Adolescentes somente irão aderir a uma Igreja que eles experimentam ser pessoalmente significante, solidamente baseada na verdade objetiva e socialmente releva

photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/76850153@N07/8727148681">10/05/2013 - Vigília dos Jovens Adoradores</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Eu era membro do “Clube Secreto do Evangelho da Prosperidade”

Muitas vezes confundimos a mensagem do Evangelho com a prosperidade. Acreditamos que somos abençoados apenas quando tudo vai bem, quando estamos felizes e realizados. As cruzes e os sofrimentos são vistos como “punição” e não como bênçãos em nossas vidas. 

Quando li o texto abaixo, achei muito importante compartilhar, porque as vezes estamos nos filiando a esse “Clube Secreto do Evangelho da Prosperidade” e nem nos damos conta disso. Pedi autorização para a autora, Judith Klein, para fazer a tradução e publicá-lo aqui. Você pode ver o original neste link: http://catholicmom.com/2016/04/05/card-carrying-member-secret-prosperity-gospel-club/
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do seu ventre” (Lc 1,42)
“O que é necessário para sermos abençoados?” Eu perguntei a minha diretora espiritual, Sandy, dois anos atrás, assim que passei pela porta da frente de sua casa, num acesso de raiva.

“A pergunta não é o que é necessário para sermos abençoados”, Sandy respondeu claramente. “É o que você percebe como sendo uma benção.”

Seu comentário veio após eu lhe contar que meu genro Grayson, então com 25 anos, acabava de ser diagnosticado com câncer – na mesma semana que a Sandy havia me orientado para implorar a graça de verdadeiramente conhecer e experimentar o amor carinhoso de Deus para comigo.

“Grayson está com câncer”, eu desabafei assim que eu entrei em sua casa para nossa reunião semanal, onde ela estava me conduzindo através da 19ª Anotações dos exercícios espirituais de Sto. Inacio de Loyola. “Essa é a maneira que Deus demonstra seu amor carinhoso por mim? Me enviando sofrimento?” Eu zombei. “Parece que eu não estou ganhando a tal da bênção”.

“Você continua pensando que receber a bênção significa que tudo vai bem em sua vida”, Sandy contestou. “Um entendimento católico da bênção é que sabemos que Deus está conosco e nós confiamos em seu amor por nós, não importa quais circunstâncias a vida nos apresenta. Você caiu no conto do evangelho da prosperidade”, ela continuou, “e eu quero que você passe a próxima semana renunciando a essa crença falsa do mais íntimo do seu ser.”

Bam! Sandy acertou na mosca. Não preciso nem dizer que foi uma semana dolorosa de renúncia.

Antes da Sandy confrontar o problema diretamente, não era tão claro para mim que eu era membro do “Clube Secreto do Evangelho da Prosperidade.” Mas eu algum lugar, eu definitivamente havia comprado a ideia de como uma “bênção” deve ser: um casamento feliz, filhos bem sucedidos, boa saúde, estabilidade financeira, etc. – em outras palavras, uma vida onde tudo vai bem. Com esse paradigma guardado fundo em minha mente, eu havia gasto muito tempo e energia ao longo dos anos não apenas me comparando com os outros que pareciam ter as “bênçãos”, mas também lutando com Deus sobre o porquê suas “bênçãos” não chegavam até mim, especialmente com as múltiplas tragédias que aconteceram em nossas vidas. O fato que a Sandy mostrou o problema tão claramente me incitou, finalmente, a acabar com a mentira insidiosa de que uma vida abençoada equivale a uma vida próspera, e que minha vida, então, era amaldiçoada.

Vou deixar claro: eu não vou a uma igreja que ensina o evangelho da prosperidade; nem sigo um pastor de uma mega igreja na TV que prega essa mensagem tão popular e favorável em nossa cultura. Eu sou católica – uma entre mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo que vai a uma igreja onde o Cristo crucificado é o ponto central de nossa adoração. Apesar disso, uma cepa virulenta do evangelho da prosperidade, de alguma forma se infiltrou no meu coração e no meu cérebro; um “evangelho” que na essência se parece com isso: Eu acredito que a minha vontade deve ser feita na terra. E quando isso não ocorre – por exemplo, quando as pessoas adoecem, quando morrem jovem, quando crianças tem sérias crises na vida, quando as finanças se quebram – eu concluo que as “bênçãos” de Deus não estão em minha vida.

Essa crença falsa e francamente não cristã causou estragos em minha alma enquanto eu buscava que as coisas fossem feitas do meu jeito, que a minha vontade fosse feita face a um sofrimento tremendo, que incluiu a morte de um filho adotivo, dois irmãos e meu marido, Bernie – tudo em apenas poucos anos. Foi depois que nossas vidas foi implodida com a perda – o câncer de Grayson foi a última gota – que eu finalmente descobri o paradoxo que somente uma vida entregue é uma vida abençoada, e a vida mais abençoada de todas é aquela que se entrega totalmente a Deus. Esses são os termos do Reino de Deus.

Aprendi que o cristianismo não é para os fracotes ou para aqueles que querem a maneira mais suave e fácil. Não. É um remédio forte para aqueles que desejam ser como Cristo, o que significa pegar a sua cruz, morrer para si mesmo e rezar a oração que muitas vezes dói na alma: Pai, se for da sua vontade, afasta de mim esse cálice; porém, que se faça a sua vontade, não a minha.

Os cristãos são chamados a viver em uma terra onde as espadas que perfuram corações são voluntariamente abraçadas, onde a glória é revelada através de feridas abertas e o aroma perfumado da santidade é derramado de almas que foram experimentadas e testadas - e encontraram a verdade. Este é o solo sagrado de nosso Salvador, e sua Mãe. E, como suas vidas nos dizem claramente, é o território que é acessado somente por meio de aceitação resignada da cruz.

“A linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, é poder de Deus.” (1Cor 1,18)

Verdadeiramente, eu finalmente estou sendo salva. Através da cruz e da minha noção distorcida de como a “bênção” se parece. Antes tarde do que nunca.

Para pensar: Você é membro do “Clube Secreto do Evangelho da Prosperidade”? Você também está sendo salvo dele? 

Para rezar: Senhor Jesus, me ajude a saber que a grande bênção é me entregar completamente a ti em confiança, especialmente no meio do sofrimento.

photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/132604339@N03/22584635184">Bags of Money</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/">(license)</a>

terça-feira, 5 de abril de 2016

PERGUNTAS SOBRE REPRODUÇÃO ASSISTIDA - PARTE 3

Hoje publico a última parte das perguntas sobre reprodução assistidas, baseadas no capítulo 7 do livro Good News About Sex and Marriage, de Christopher West. Como das outras vezes, fiz algumas adaptações na tradução. Sugerimos como complemento de leitura e para maiores esclarecimentos sobre a questão, a Instrução Donun Vitae, que pode ser obtida aqui.

5. Entendo que as crianças devem ser frutos do amor de seus pais. Mas as crianças concebidas dessas tecnologias não podem ser frutos do amor de seus pais a nível espiritual?

É verdade que o amor é espiritual, para Deus, que é puro Espírito, que é amor. Mas os seres humanos não são puro espíritos. Nós somos pessoas com corpo. E no e pelo nossos corpos que somos imagens de Deus e compartilhamos seu amor com os outros. Isto é bem exemplificado na expressão de amor única do matrimônio: a união do marido e da esposa em uma só carne.

Os esposos que buscam tais procedimentos tecnológicos podem fazer isso porque querem uma criança para amar. E eles podem certamente amar a criança uma vez que ela é produzida. Todavia, por mais que desejamos pensar que é possível, nenhuma ginástica mental ou força do pensamento pode transportar o "amor espiritual" do casal para fora de seus corpos e para dentro do procedimento do médico ou cientista. O fato permanece de que a origem de tal criança não é o amor encarnado de seus pais, mas o resultado de procedimentos tecnológicos despersonalizados.

6. É terrivelmente cruel a Igreja negar a um casal que se ama o direito de ter um filho quando eles desesperadamente querem um.

O desejo de um casal por um filho é muito natural. A Igreja é a primeira a reconhecer e dividir o doloroso sofrimento de casais que descobrem que não são capazes de conceber. É natural querer aliviar o sofrimento do casal ao garantir a eles suas legítimas aspirações sempre que possível. Mas como já dissemos, nos encontramos em um terreno muito perigoso se deixarmos simplesmente nossa empatia guiar nossas decisões morais, especialmente quando essas decisões dizem respeito a própria vida e destino de outro ser humano.

A Igreja é defensora dos direitos legítimos das pessoas. Ela nunca os nega. Esposos, entretanto, não podem reivindicar o direito de terem filhos. Os filhos são presentes de Deus. Nenhum casal tem direito a eles, nem eles podem ser exigidos. O compromisso que o casal faz no altar é de "receber com amor os filhos que Deus lhes confiar" reflete essa realidade.

Os esposos tem o direito apenas de ter relações sexuais e pedir que a vontade de Deus seja feita. Eles certamente são livres para fazer com que as condições para a concepção sejam as melhores possíveis, mas quer que uma criança seja o resultado ou não dessa doação mútua deve ser deixada nas mãos de Deus. O ensinamento da Igreja sobre a imoralidade intrínseca da fertilização artificial na realidade garante o único direito humano em questão: o direito da criança de ser fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais.

7. Deus não nos ordenou que dominássemos a natureza?

Deus ordenou que submetêssemos a terra e dominássemos os animais (Gn 1,28). Contanto que sejamos administradores responsáveis, somos livres para manipular a criação para o nosso benefício. Não há nada de errado, por exemplo, em inseminar artificialmente o gado. Ele não é chamado para amar como imagem de Deus. Mas este domínio não se estende sobre seres humanos.

Nem o corpo pode ser considerado como parte do reino da natureza "sub humana" sobre a qual temos o domínio. Como João Paulo II avisou em sua Carta às Famílias: "Quando o corpo humano, considerado fora do espírito e assim ser usado como um material bruto da mesma forma que os corpos dos animais são usados... nós inevitavelmente chegamos a uma derrota ética terrível."

8. Nós temos uma filha linda que foi concebida por inseminação artificial. Nós rezamos muito para que Deus nos abençoasse com uma criança e acreditamos que ele o fez. Nós não podemos imaginar nossas vidas sem ela. Eu me recuso a acreditar que o que fizemos foi errado.

Admitir que o que você fez foi errado não significa que você deve concluir que sua filha em si mesmo é "errada". Nem significa que a existência de sua filha não é um presente de Deus. Ela é um presente de Deus.

Deus está sempre procurando por "desculpas" para nos abençoar e nos mostrar seu amor, mesmo (acredite se quiser) quando agimos fora de seu plano. Ainda, mesmo que uma grande bênção veio disso, a maneira da concepção dela permanece uma injustiça para com ela. Honestamente, e para o bem de todos os envolvidos, é preciso reconhecer isso.

É um caso semelhante a uma criança concebida fora do casamento. Mesmo que ela seja muito amada e uma verdadeira bênção para a família, não exclui o fato de que o que os pais fizeram (sexo fora do casamento) seja muito errado. Fingir de forma contrária seria uma injustiça adicional a todos os envolvidos, especialmente para a criança.

Nada está fora do amor redentor de Deus, exceto o orgulho que recusa a admitir quando erramos.

9. Temos filhos gêmeos que foram concebidos in vitro. Sabíamos que a Igreja ensinava que era errado, mas até agora não entendíamos esses ensinamentos. O que devemos fazer?

Primeiramente, continue a amar seus gêmeos e sejam gratos a Deus por eles. Eles são um sinal de que Deus os ama e confiou a vocês estas vidas preciosas mesmo quando vocês se afastaram de sua vontade e fizeram a vontade de vocês. Não devemos presumir a misericórdia de Deus, mas quando expressamos verdadeiro arrependimento pelos nossos erros, devemos certamente contar com sua misericórdia.

Encontrem um padre que entenda essas questões e confessem com ele. Quando o padre os absolver, saibam que o próprio Cristo os está absolvendo.

photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/130736614@N03/24602209539">Promoted to Big Brother!</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/">(license)</a