No início da liturgia eucarística na Santa Missa, o sacerdote faz um convite a todos para elevarmos nossos corações a Deus. Em latim “sursum corda”, corações ao alto. E a nossa resposta é: “nosso coração está em Deus”. Esse é um momento importante, pois elevamos nosso coração ao Céu, para participarmos de alguma forma também da liturgia celeste, pois na Santa Missa o sacrifício de Jesus na Cruz é renovado na presença dos anjos e dos santos, então é como se o Céu estivesse ali conosco.
Esse chamado para elevar nossos
corações a Deus não deve se restringir ao momento da liturgia eucarística. Os
santos, aqueles que aprenderam a viver unidos a Deus ainda aqui na terra,
estavam sempre com o coração no Céu. Por isso que São Paulo podia dizer: “porque
para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21). Ele estava tão
unido a Jesus e ao mundo sobrenatural, que enxergava o momento de sua morte
como um ganho, pois poderia contemplar eternamente a face de Deus.
Significado do “sursum corda”
O que significa então o “sursum
corda”? Algumas poucas pessoas são chamadas a viver isso de maneira radical,
abandonando as coisas desse mundo e vivendo enclausuradas ou isoladas, apenas
adorando e servindo a Deus com essa renúncia das coisas materiais. Assim, seus
corações e suas mentes estão exclusivamente no Céu.
Como viver o “sursum corda”
Porém a grande maioria de nós é
chamada a viver o “sursum corda” no meio dos afazeres do nosso cotidiano. Viver
no mundo, sem negligenciar nossas obrigações profissionais, familiares e
sociais, mas com o coração no Céu, lembrando sempre que estamos num caminho
cuja meta é o Céu.
As nossas obrigações do dia a dia
são sementes da vida eterna. A forma como cumprimos com essas obrigações podem
trazer o fruto de uma eternidade feliz no Paraíso. Ganhamos o Céu não apesar das
nossas tarefas mundanas, mas justamente por causa dessas tarefas.
O Pe. José Kentenich costumava
dizer que precisamos fazer o ordinário extraordinariamente bem e um
fiel e fidelíssimo cumprimento do dever. (1º Documento de Fundação –
Documentos de Schoenstatt, Atibaia 2002 e Santidade de Todos os Dias, Santa
Maria 2018) Procurar o máximo de cuidado em cada coisa que precisamos fazer
durante o dia e oferecer esse cuidado para Deus, é a forma de elevarmos sempre
nossos corações ao alto.
Em nossa rotina agitada tudo quer
chamar nossa atenção. As redes sociais com inúmeros estímulos a cada segundo
podem tirar o nosso foco daquilo que é o mais importante, nossa salvação
eterna. Nossas paixões e fraquezas também podem nos arrastar para baixo, para
prender nosso coração nas coisas passageiras desse mundo. Então, para vivermos
o “sursum corda” precisamos de coragem e de força para lutar contra tudo aquilo
que nos afasta de Deus.
Essa luta vai durar toda a nossa
vida, pois também o inimigo de Deus quer possuir nosso coração e nossa vontade.
Mas com a ajuda constante da graça e a nossa firme vontade de viver com nosso
coração no Céu, isso será possível. É preciso recomeçar a cada queda, pedindo
perdão e tendo confiança na infinita misericórdia de Deus, sabendo que Ele
deseja nossa salvação muito mais do que nós mesmos.
Na prática
Para incorporamos essa cultura do
“sursum corda” em nossa vida, é preciso começar, logo que acordamos, com uma
pequena oração oferecendo todo o nosso dia. Agradecer por termos acordado e ter
mais uma chance de amar a Deus através das nossas atitudes e do fiel
cumprimento dos nossos deveres. Aos poucos podemos incorporar em nossa rotina
pequenas pausas, de alguns minutos, para renovar essa vontade de viver com o
coração no Céu, oferecendo a próxima tarefa a realizar, por mais banal que
seja. Podemos também preencher o nosso dia com as jaculatórias, que são
pequenas frases (orações) que mandamos para Deus. E no final do dia, antes de
dormir, agradecemos pelas conquistas e pedimos perdão pelas falhas no nosso
dia, renovando o propósito de no dia seguinte, sermos melhores ainda.
Assim, no dia em que o Pai nos
chamar para prestarmos conta de nossa vida, estaremos tranquilos pois passamos
nossa vida junto Dele e o Céu não será um lugar estranho para nós. Nosso
coração sempre esteve lá!
Foto de Christopher Beloch na Unsplash