segunda-feira, 7 de outubro de 2024

SURSUM CORDA - CORAÇÕES AO ALTO



No início da liturgia eucarística na Santa Missa, o sacerdote faz um convite a todos para elevarmos nossos corações a Deus. Em latim “sursum corda”, corações ao alto. E a nossa resposta é: “nosso coração está em Deus”. Esse é um momento importante, pois elevamos nosso coração ao Céu, para participarmos de alguma forma também da liturgia celeste, pois na Santa Missa o sacrifício de Jesus na Cruz é renovado na presença dos anjos e dos santos, então é como se o Céu estivesse ali conosco.

Esse chamado para elevar nossos corações a Deus não deve se restringir ao momento da liturgia eucarística. Os santos, aqueles que aprenderam a viver unidos a Deus ainda aqui na terra, estavam sempre com o coração no Céu. Por isso que São Paulo podia dizer: “porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21). Ele estava tão unido a Jesus e ao mundo sobrenatural, que enxergava o momento de sua morte como um ganho, pois poderia contemplar eternamente a face de Deus.

Significado do “sursum corda”

O que significa então o “sursum corda”? Algumas poucas pessoas são chamadas a viver isso de maneira radical, abandonando as coisas desse mundo e vivendo enclausuradas ou isoladas, apenas adorando e servindo a Deus com essa renúncia das coisas materiais. Assim, seus corações e suas mentes estão exclusivamente no Céu.

Como viver o “sursum corda”

Porém a grande maioria de nós é chamada a viver o “sursum corda” no meio dos afazeres do nosso cotidiano. Viver no mundo, sem negligenciar nossas obrigações profissionais, familiares e sociais, mas com o coração no Céu, lembrando sempre que estamos num caminho cuja meta é o Céu.

As nossas obrigações do dia a dia são sementes da vida eterna. A forma como cumprimos com essas obrigações podem trazer o fruto de uma eternidade feliz no Paraíso. Ganhamos o Céu não apesar das nossas tarefas mundanas, mas justamente por causa dessas tarefas.

O Pe. José Kentenich costumava dizer que precisamos fazer o ordinário extraordinariamente bem e um fiel e fidelíssimo cumprimento do dever. (1º Documento de Fundação – Documentos de Schoenstatt, Atibaia 2002 e Santidade de Todos os Dias, Santa Maria 2018) Procurar o máximo de cuidado em cada coisa que precisamos fazer durante o dia e oferecer esse cuidado para Deus, é a forma de elevarmos sempre nossos corações ao alto.

Em nossa rotina agitada tudo quer chamar nossa atenção. As redes sociais com inúmeros estímulos a cada segundo podem tirar o nosso foco daquilo que é o mais importante, nossa salvação eterna. Nossas paixões e fraquezas também podem nos arrastar para baixo, para prender nosso coração nas coisas passageiras desse mundo. Então, para vivermos o “sursum corda” precisamos de coragem e de força para lutar contra tudo aquilo que nos afasta de Deus.

Essa luta vai durar toda a nossa vida, pois também o inimigo de Deus quer possuir nosso coração e nossa vontade. Mas com a ajuda constante da graça e a nossa firme vontade de viver com nosso coração no Céu, isso será possível. É preciso recomeçar a cada queda, pedindo perdão e tendo confiança na infinita misericórdia de Deus, sabendo que Ele deseja nossa salvação muito mais do que nós mesmos.

Na prática

Para incorporamos essa cultura do “sursum corda” em nossa vida, é preciso começar, logo que acordamos, com uma pequena oração oferecendo todo o nosso dia. Agradecer por termos acordado e ter mais uma chance de amar a Deus através das nossas atitudes e do fiel cumprimento dos nossos deveres. Aos poucos podemos incorporar em nossa rotina pequenas pausas, de alguns minutos, para renovar essa vontade de viver com o coração no Céu, oferecendo a próxima tarefa a realizar, por mais banal que seja. Podemos também preencher o nosso dia com as jaculatórias, que são pequenas frases (orações) que mandamos para Deus. E no final do dia, antes de dormir, agradecemos pelas conquistas e pedimos perdão pelas falhas no nosso dia, renovando o propósito de no dia seguinte, sermos melhores ainda.

Assim, no dia em que o Pai nos chamar para prestarmos conta de nossa vida, estaremos tranquilos pois passamos nossa vida junto Dele e o Céu não será um lugar estranho para nós. Nosso coração sempre esteve lá!

Foto de Christopher Beloch na Unsplash

segunda-feira, 15 de julho de 2024

O CANSAÇO É PEDAGÓGICO

 


Vivemos em uma época muito agitada. Corremos para todos os lados o dia inteiro. Para quem é mãe, principalmente de crianças pequenas, a impressão é que não temos tempo para nada, passamos o dia (e muitas vezes a noite) indo de uma atividade para a outra, sem descanso. O resultado é que vivemos cansados. Muito cansados.

O cansaço nos ensina a ser humildes

Será que podemos aprender alguma coisa com nosso cansaço? Afinal, por que Deus nos fez de uma forma que precisamos descansar? Talvez a resposta seja para sermos mais humildes, entendermos nossa condição de criaturas limitadas. Não somos super-homens que podem fazer tudo o que quiserem, quando quiserem, como quiserem, sem consequências e sem cansaço.

O cansaço nos obriga a parar. O cansaço nos obriga a nos render, a nos entregar. É por causa do cansaço que “treinamos” a nossa morte, afinal quando dormimos, desligamos nossa consciência no mundo em que vivemos. Quantas pessoas encontraram com a morte durante o sono! Mesmo se temos a graça de acordar no dia seguinte, aquele momento do sono, foi um momento de morte, de separação das inúmeras preocupações de nosso dia a dia.

Deus nos quer no Céu

Deus é infinitamente sábio e nos ama também com amor infinito. O desejo dele para cada um de nós é que um dia possamos passar a eternidade com ele, com uma felicidade sem fim. Para isso ele procura nos educar ao longo de nossas vidas, para que percorramos o caminho que leva ao Céu. E o cansaço faz parte dessa pedagogia, desse chamado a voltar nosso olhar para Ele, lembrando que aqui só estamos passando um tempo e que as dificuldades e sofrimentos que experimentamos, devem ser um degrau que nos aproxima mais do seu amor e de sua misericórdia. O cansaço deveria constantemente nos lembrar do momento decisivo que será a nossa morte, para vivermos de uma forma que nossa eternidade seja no Céu.

Vós encontrareis descanso

Como é bom poder descansar no colo da Mãe, no colo do Pai! Jesus nos diz: " Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu fardo é leve”. (Mt 11,28-30)

É muito difícil mudar o estilo de vida para nos cansarmos menos. Provavelmente, em nossas circunstâncias, reduzir o ritmo, descansar mais, ter um tempo para somente fazer o gostamos, é impossível. Então precisamos aprender a entregar nosso cansaço para Jesus. O cansaço entregue para Jesus fica mais suave, mais leve.

Aprender com o cansaço

Vamos procurar aprender com nosso cansaço, a termos o olhar voltado para a eternidade, para o Céu, pois “a nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável” (2Cor 4,17). Podemos nos colocar como filhos pequenos pedindo o colo do Pai, sendo humildes, reconhecendo nossa fraqueza e confiando na infinita bondade e misericórdia daquele que nos ama com amor infinito.

 




Foto de Debashis RC Biswas na Unsplash

sábado, 8 de junho de 2024

VOLTAR A ESTAR NUS

 


No relato da Criação, vemos que “o homem e a mulher estavam nus e não se envergonhavam(Gn 2,25). Porém, após a tragédia do pecado original, da rebeldia dos nossos primeiros pais em não aceitarem serem criaturas e quererem ser “outros deuses”, caindo na armadilha do demônio e desobedecendo ao Criador, ouvimos Adão dizer: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me” (Gn 3,10). E Deus responde: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?” (Gn 3,11)

Qual foi essa consequência do pecado que fez com que o homem tivesse medo por estar nu? Antes do pecado, não se envergonhavam; mas depois, tiveram medo e se esconderam de Deus... Essa nudez significa muito mais do que simplesmente estar sem roupa. É uma atitude perante Deus de total despojamento e de confiança, de entrega em sua amorosa providencia.

O pecado fez com que o ser humano perdesse essa pureza e singeleza de ser criatura diante de Deus, de saber que é cuidada e amada com amor infinito. O medo por estar nu representa a desconfiança no amor e proteção de Deus, o desejo de autossuficiência, de assumir o controle da própria vida sem a interferência divina, frutos desordem causada pelo pecado.

Então, nós precisamos lutar para voltar a estar nus, para retomar aquela confiança filial que nossos primeiros pais tinham perante Deus. O primeiro passo é buscar conhecer melhor a Deus, pois não é possível confiar em quem não conhecemos... Para conhecer melhor, é preciso passar tempo com Deus, dialogar com Ele e principalmente buscar ouvir o que Ele nos diz, através das circunstâncias, dos acontecimentos em nossa vida, das pessoas com quem nos encontramos, da natureza, das coisas... Enfim, tudo pode ser um sinal do amor de Deus para conosco.

A oração meditativa é fundamental para esse maior conhecimento de Deus. Reservar alguns minutos por dia, escolher um texto de um livro espiritual ou da Bíblia, ou até um acontecimento da nossa vida e perguntar: o que Deus quer me dizer com isso? O que eu digo a mim mesmo? O que eu respondo a Deus? Essa prática, com o tempo, vai abrindo nossos olhos, nossa mente e nosso coração para perceber o amor e o cuidado de Deus Pai em nossa vida.

Os santos aprenderam esse caminho de entrega total e incondicional à divina providência. Sabiam que eram amados e queridos, mesmo em sua miséria, e assim, com esforço e ajuda da graça, conseguiram responder a esse amor divino, com atitudes de luta contra as imperfeições para um dia desfrutarem eternamente da presença do Pai.

Vejamos alguns exemplos de ensinamentos desses nossos amigos do Céu:

“Espero tudo do Bom Deus, como uma criancinha espera tudo de seu pai. Meu caminho é o caminho da infância espiritual, o caminho da confiança e da entrega absoluta” (Santa Terezinha do Menino Jesus”

Corre no caminho da perfeição quem possui o coração dilatado na confiança em Deus”. (Santo Afonso de Ligório)

Quanto mais confiamos em Deus, tanto mais progredimos no seu amor”. (São Vicente de Paulo)

Todos os esforços pouco valem, se não deixarmos de confiar em nós para confiar somente em Deus.” (Santa Teresa)

Peçamos a ajuda de Maria Santíssima, a pessoa que mais confiou e amou a Deus, para que aos poucos possamos reconquistar essa atitude de filhos obedientes e fiéis, que confiam e se entregam ao Pai totalmente, pois sabem que são amados e que tudo o que o Pai provê e permite é para o seu bem, a sua santidade e para conquistar seu lugar na felicidade eterna do Céu.

crédito da foto: pixabay.com

domingo, 21 de abril de 2024

ESTE MISTÉRIO É GRANDE

 





Ano passado comemoramos 25 anos de casados. Foi um momento maravilhoso de agradecimento por todas as graças e bênçãos recebidas durante todos esses anos, especialmente pelo dom da vida de nossos quatro filhos: Gabriel (21), Nicole (18) Matias (17) e a Júlia que já nos precede no Paraíso.

Os jubileus são momentos de alegria e essa palavra vem do latim “iubilatio” que é justamente uma das formas de alegria. Além da alegria, são momentos de reflexão e uma das coisas que refleti foi sobre a grandeza do sacramento do matrimônio.

Reflexões sobre os sacramentos da confissão e da eucaristia são mais frequentes para mim. Lembro também sempre do sacramento do batismo, que me tornou filha de Deus. Mas o sacramento do matrimônio raras vezes fez parte das minhas meditações e gostaria de compartilhar com vocês sobre o que pensei.

Este mistério é grande (Ef 5,32)

São Paulo, na carta aos Efésios, fala sobre o matrimônio: “Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne. Esse mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido” Ef 5,31-33

O sacramento do matrimônio é um grande mistério porque, ao ver um casal, deveríamos poder enxergar o amor de Cristo pela Igreja e da Igreja por Cristo. Um amor tão grande que é capaz de dar a vida um pelo outro.

A importância da indissolubilidade

O matrimônio ser indissolúvel significa que o compromisso assumido no altar perante Deus e a comunidade só se desfaz com a morte de um dos cônjuges. Essa característica do sacramento foi determinada pelo próprio Jesus, quando ele disse: “Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.” (Mt 19,6)

Essa indissolubilidade é uma exigência do próprio amor, afinal ninguém diz ao outro: “vou te amar só por 5 anos...” O amor verdadeiro é para sempre, enquanto o outro viver. Principalmente quando a convivência está difícil, é importante recordar dessa promessa feita no altar, pois o motivo de se casarem foi para ajudarem um ao outro chegarem um dia ao Céu e o caminho para o Céu passa pela porta estreita.

A prova maior que os dois realmente se tornaram uma só carne é a vida do filho. Marido e mulher se uniram no amor e dessa união resultou uma nova pessoa, uma nova alma imortal, que foi feita da carne de um e de outro e agora é impossível separar. Olhar o filho, o fruto de seu amor, deve dar as forças necessárias para cada cônjuge resistir à tentação de pensar em separação.

Uma graça especial

Sem a ajuda da graça, isso é impossível, pois tanto o marido como a esposa são seres com defeitos e limitações e amar exige alto grau de heroísmo e de luta contra o egoísmo. Por isso, o casal ao receber o sacramento do matrimônio, recebe também uma graça específica que só esse sacramento pode dar: a graça da santificação do vínculo

Isso significa que quem recebe esse sacramento tem o direito de pedir a Jesus essa graça toda vez que o relacionamento estiver difícil. Essa graça vai ajudar a moldar tanto o homem como a mulher para que efetivamente se tornem uma só carne, um só coração.

É através dessa graça também que o casal poderá realizar a primeira finalidade do matrimônio, que é o bem dos cônjuges. É ela que possibilita que um faça o outro feliz e que ambos caminhem juntos rumo ao Céu.

Ultimamente vemos tantos casais que decidem morar juntos sem receber o sacramento do matrimônio. Meu marido e eu fazemos parte da equipe de preparação para o matrimônio de nossa paróquia e no último encontro de noivos, dos 12 casais presentes, todos já moravam juntos; alguns inclusive há mais de 10 anos e estavam ali para regularizar sua situação perante a Igreja.

Claro que é uma alegria quando um casal procura a Igreja para receber o sacramento, mas é importante sabermos a grande diferença dos casais que simplesmente decidem morar juntos daqueles que optam por receber o sacramento do matrimônio. Quem recebe o sacramento, recebe essa graça tão especial e tem muito mais chances de que o casamento seja mesmo duradouro. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos atesta que morar juntos, sem o sacramento do matrimônio, aumenta as chances de divórcio[1].

Tenho certeza de que essa graça que recebemos há mais de 25 anos e a consagração que fizemos de nossa família a Nossa Senhora é que nos sustenta, aumentando a cada dia nosso amor. Hoje meu maior desejo é que meus filhos também possam receber essa graça e formar santas famílias católicas, caso não sejam chamados a consagrarem suas vidas inteiramente a Deus como religiosos ou sacerdotes...

domingo, 10 de março de 2024

A beleza é fundamental

 


A beleza existe em si, ou depende de quem vê? Devemos nos preocupar com a beleza ou é uma futilidade? Existe uma razão para a beleza existir? Como podemos cultivar a beleza? Essas são algumas perguntas que este artigo quer ajudar a refletir.

Conceito de beleza

O conceito clássico de beleza a define como sendo belo aquilo que possui harmonia, proporção e grandeza. Neste conceito, a beleza é objetiva, ou seja, existe em si mesma e não depende de quem está observando.

A beleza deriva do bem, do verdadeiro. Ela tem uma conotação moral, ou seja, para afirmarmos que alguma coisa é bela, ela também precisa ser boa e verdadeira. Por exemplo, quando repreendemos uma criança que está batendo num amiguinho, normalmente dizemos: “não faça isso que é feio”. Ou quando elogiamos alguém, dizemos: “nossa, que bela atitude”.

A beleza também tem o sentido de integralidade, de plenitude. Aquilo que é belo, está completo, não falta nada. Um cavalo sem uma perna ou um carro sem uma roda não são bonitos, pois lhes falta algo. Já uma pessoa, por mais que possa ter um corpo bonito, se possuir graves falhas de caráter, não é considerada bela, pois lhe falta algo.

O belo possui harmonia, proporção.

Mais uma característica da beleza é ter um aspecto de saída de si mesmo, de comunicar a sua essência. Aquilo que é belo chama a atenção para si mesmo, pois está comunicando o que é. A beleza não deve passar desapercebida. Ela existe para ser contemplada.

A razão de ser da beleza

Tudo que é belo, ao ser contemplado, deve remeter a algo maior, a uma beleza superior e eterna. Deus, o Criador, é a Beleza eterna e comunicou algo de si para as suas criaturas. Por isso, a beleza que percebemos com nossos sentidos é como uma flecha que aponta para o Criador e a alegria e satisfação que sentimos deve nos lembrar que é só uma pequena amostra do que sentiremos ao contemplar a pura Beleza na eternidade.

As coisas belas existem para serem um bálsamo em nossa jornada; para nos causar alegria e um sentimento de gratidão. A beleza nos lembra também de como devemos buscar essa harmonia, proporção e doação de si mesmo, para participarmos refletirmos melhor a Beleza eterna e nos tornarmos um canal de alegria para os outros.

Ataque contra a beleza

A idade moderna, principalmente através da arte, iniciou um processo de ataque contra a beleza. Em uma atitude de rebeldia, começaram a retratar a desordem, a confusão, o abstratismo, demonstrando como estavam sentindo e esse sentimento era ruim. A partir daí, iniciou a tentativa de tirar a objetividade da beleza, passando para uma área totalmente subjetiva ao afirmar que “a beleza está nos olhos de quem vê”.

Esse ataque contra a beleza tem o objetivo de nos tirar a possibilidade de contemplação do Criador e assim nos afastar do caminho que nos leva a Ele. Infelizmente essa mentalidade já está muito entranhada em nossa sociedade e se reflete não só na arte, mas até na maneira de vestir, sendo comum o uso de roupas rasgadas, desbotadas, manchadas. As pessoas não se preocupam mais em se vestir bem e muitas ainda querem chamar a atenção usando roupas estravagantes.

A busca da Beleza

A busca da beleza deve ser encarada de uma maneira correta e está relacionada com a virtude da ordem. É possível perceber a beleza nas coisas pois nosso cérebro busca a ordem e a harmonia. A maneira como pensamos melhor é quando o ambiente está organizado. Não só o ambiente externo, mas principalmente o nosso interior. A desordem causa estresse, nervosismo, frustração.

Buscar a beleza significa buscar harmonizar nossa vida, nossos relacionamentos e também o ambiente em que vivemos. Colocar as coisas em ordem, saber que existe uma hierarquia de valores que precisamos seguir, se desejamos ter uma vida mais plena, mais saudável, mais bela. Saber que é importante ter a beleza em nosso dia a dia para nos ajudar a contemplar o Criador e nos lembrar para que fomos criados: para um dia, gozar da alegria eterna no Céu.

Alguns cuidados

Precisamos cuidar para não exagerar nessa busca da beleza. Muitas vezes esse anseio pelo belo é confundido com uma necessidade de aparentar uma eterna juventude, onde as marcas da idade são desprezadas. São realizados inúmeros procedimentos estéticos para tentar alcançar uma suposta beleza exterior, porém os resultados muitas vezes são bizarros.

Devemos lembrar que a beleza é harmonia, é proporção, é ordem. Uma pessoa de 60 anos que quer aparentar ter 30, não é harmônica, está em desordem. Assim, não importa a quantidade de procedimentos estéticos que faça, não será bela.

A beleza exterior deve refletir a beleza interior. Assim, a maior preocupação deve ser com ter uma alma bela, com os sentimentos e emoções ordenados, com os instintos controlados e com uma vida sobrenatural abundante. Quanto mais próximos estivermos de Deus, melhor poderemos refletir sua Beleza. Esse é o verdadeiro segredo.

Foto de Sean Oulashin na Unsplash

sábado, 27 de janeiro de 2024

QUEM ESTAMOS IMITANDO?

 


A maneira mais eficiente de adquirir uma habilidade é praticando aquilo que queremos aprender. Nós sabemos andar porque alguém nos pegou pela mão e nos mostrou como se anda. Nós imitamos seus passos. A grande maioria dos hábitos que temos, os adquirimos observando alguém, imitando seu comportamento. Desde crianças observamos as pessoas ao nosso redor e tentamos fazer o que o outro está fazendo.

Na fase da adolescência é mais fácil de percebermos essa imitação. Normalmente os jovens se reúnem em “tribos” que falam da mesma maneira, se vestem da mesma maneira, ouvem as mesmas músicas, frequentam os mesmos lugares e praticamente pensam da mesma maneira. Conversar com um da turma é a mesma coisa que conversar com todos.

Mesmo quando adultos, frequentemente nos pegamos imitando a atitude de alguém sem perceber. Quantas vezes você não disse algo para seu filho e depois pensou: “nossa, falei igualzinho meu pai/minha mãe?”

Somos seres sociais

O ser humano sempre está buscando referências. Somos seres sociais, nascemos para viver em comunidade e essa imitação de comportamento acaba criando uma certa harmonia social, nos sentimos mais seguros em um ambiente onde sabemos como o outro vai se comportar. Mesmo sendo seres únicos e irrepetíveis, com um DNA exclusivo, nossa tendência é nos conformarmos com o ambiente e quem é muito diferente acaba ficando marginalizado.

No mundo agitado em que vivemos, fazer o que os outros fazem sem muita reflexão, acaba sendo um comportamento comum, pois agir por si mesmo requer esforço e reflexão. Só consegue nadar contra a corrente quem tem uma personalidade firme e livre: firme porque está enraizada em princípios sólidos e livre porque não está presa nos sentimentalismos ou nos próprios instintos e desejos.

Porém, mesmo essa pessoa com personalidade firme e livre, que não está seguindo a “massa”, possui um modelo, uma referência que procura imitar. O ser humano imita e essa é uma realidade da qual não podemos fugir. Assim a grande questão é: quem estamos imitando?

Nosso modelo: Jesus Cristo

Para o cristão, nosso grande modelo é Jesus Cristo. É a ele quem devemos procurar imitar, mesmo se nos tornarmos excluídos por causa disso. Imitar Jesus Cristo diretamente pode parecer um pouco intimidador, afinal Ele é Deus. Mas existem muitas pessoas que conseguiram conformar sua vida aos ensinamentos de Jesus, e estas são um pouco mais acessíveis a nós. A Virgem Maria, em primeiro lugar é um grande exemplo a ser imitado, com sua disponibilidade para fazer a vontade de Deus e todas as virtudes que desenvolveu em sua vida. Podemos nos inspirar ainda na vida de tantos santos, que em diferentes épocas e estados de vida, cada um com a sua originalidade, também foram fiéis imitadores de Jesus.

Hoje temos acesso à vida e ao comportamento de milhares de pessoas através das redes sociais. Ser “influencer” se tornou até uma profissão! Porém precisamos ficar atentos a quem deixamos influenciar a nossa vida e a nossa família. E nós também precisamos nos formar e fortalecer para sermos boa influência para quem nos rodeia, principalmente para nossa família.

Na prática

Como fazer isso? Em primeiro lugar tomando consciência de que temos essa tendência de imitar e fazendo uma análise de nossa vida para ver quem são os nossos modelos, quem estamos imitando ou gostaríamos de imitar. Depois podemos conhecer melhor a vida dessas pessoas, suas lutas, suas circunstâncias para ver em que grau é possível a imitação. E por último ter a consciência de que podemos tentar imitar as atitudes, mas sempre teremos nossa originalidade. Nunca seremos exatamente iguais a ninguém, então o mais importante é ver como podemos reproduzir aquele comportamento em nossa realidade, no estágio da vida em que estamos.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

UMA NOVA OPORTUNIDADE

 

Logo após as comemorações do Natal, já nos preparamos para comemorar a chegada de mais um ano. Mais uma vez nos enchemos de esperança, de planos e projetos, afinal é um ano NOVO. O que será que acende em nós essa esperança? Por que ficamos tão animados e empolgados? O dia 1º de janeiro não é um dia como outro qualquer?

Deus é um exímio pedagogo, que educa seus filhos para que possamos buscar encontrá-lo em nossa vida e andar no caminho que nos conduzirá à eternidade com Ele no Céu. Pensando nisso, Deus criou a natureza de forma cíclica: percebemos a passagem do tempo não só em nosso corpo, com o envelhecimento, mas principalmente com as diferentes estações do ano.

As diferentes estações do ano são uma forma maravilhosa que Deus utiliza para nos ensinar sobre a transitoriedade da vida e também para nos ajudar a termos esperança de uma nova fase, de um novo começo. Ficamos felizes na primavera ao ver as flores crescendo; super empolgados no verão com tanta vida nascendo, tantos frutos; começamos a ficar mais introspectivos no outono com a vida indo embora e mais apreensivos no inverno, onde parece que tudo está morto.

Mas mesmo no inverno, sabemos que não precisamos ficar apreensivos por muito tempo, pois temos a certeza de que a primavera virá. E essa certeza da primavera, essa esperança que no seu tempo o inverno acaba, é que nos move a seguir em frente, vivendo um dia de cada vez.

Aqueles que vivem em lugares onde as estações do ano não são tão bem definidas (como é aqui no Brasil), podem perceber essa passagem do tempo através do calendário, com a contagem dos meses e podemos entender esse ciclo da vida mais especialmente com o calendário litúrgico.

O ser humano, com suas limitações e falhas, precisa de esperança (uma das virtudes teologais) para conseguir progredir, tanto na vida material, mas principalmente na vida espiritual. E justamente vivermos de forma cíclica, experimentando as diferentes estações e contando os meses do ano, nossa esperança aumenta ao lembramos que no dia 1º de janeiro, inicia o ano novo, recebemos uma nova oportunidade.

Uma nova oportunidade de fazermos melhor, de mudar algum aspecto da nossa vida material, como um novo emprego, um novo carro, uma nova casa. Pode ser uma nova oportunidade para nos reconciliarmos com alguém, para fazer novos amigos, para abrir nossa família para a vinda de outro filho ou para a chegada de genros e noras. Ou ainda uma nova oportunidade para vencermos algum defeito de nossa personalidade, estimularmos ainda mais alguma qualidade que podemos fazer frutificar.

Eu fico encantada em pensar na bondade da providência divina em colocar o dia 1º de janeiro bem no meio do inverno para quem vive no hemisfério norte, justamente onde essa estação é sentida de maneira mais forte... Um impulso quente de esperança no meio do frio do inverno...

Nessas resoluções e projetos para o novo ano, talvez a mais importante seja relativa ao nosso relacionamento com a Santíssima Trindade, afinal nossa meta é o Céu. No fim de nossa jornada na terra, seremos julgados pelo Amor e o que levaremos em nossa bagagem é somente aquilo que fizemos por amor, para o amor e através do amor.

Então coragem! Vamos aproveitar essa nova oportunidade de recomeço, vamos fazer um balanço de como foi o nosso ano e escolher alguma forma de crescermos em nosso amor a Deus. Pode ser melhorar nossa oração diária, fazer alguma leitura espiritual regularmente, rezar o terço diariamente (ou pelo menos uma dezena), talvez incluir a santa missa um dia a mais na semana, ler regularmente a Bíblia, enfim, cada um precisa ver o que pode ser feito. E escolher uma coisa só para começar, sendo fiel nesse pouco, nesse único propósito. Depois, no fim do ano, agradecer pelas conquistas, pedir perdão pelas falhas e sempre ter coragem de recomeçar!

 

Foto de BoliviaInteligente na Unsplash