Veremos hoje a quarta pergunta que é feita aos noivos na celebração de seu matrimônio
: “Estais dispostos
a receber com amor os filhos que Deus vos confiar, educando-os na lei de Cristo
e da Igreja?” diz respeito à FECUNDIDADE
matrimonial.
Todo amor verdadeiro é fecundo, produz frutos,
pois ao se doar inteiramente ao outro, para que o outro seja feliz, aquele que
ama vê seu amor frutificar, se reproduzir, vê o crescimento e amadurecimento do
outro.
O amor conjugal é um “amor fecundo que não se esgota na comunhão entre os cônjuges, mas que
está destinado a continuar-se, suscitando novas vidas. ‘O matrimônio e o amor
conjugal estão por si mesmo ordenados para a procriação e educação dos filhos.
Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e contribuem
grandemente para o bem dos pais.’”[1]
O primeiro aspecto da fecundidade é a geração e
educação dos filhos e infelizmente, na cultura atual, os filhos muitas vezes
são vistos mais como um “mal necessário” do que uma benção de Deus.
“Na sociedade moderna, ao falar-se dos filhos,
dá-se, sempre, uma conotação de algo problemático. Chega-se até a denominá-los
‘peso familiar’, certamente sem nenhuma intenção, mas nem por isso a expressão
se torna mais feliz. O que antigamente constituía um grande sonho dos esposos,
agora chega a transformar-se em pânico. Sejam quais forem as causas sociais ou
econômicas que originaram esta situação psicológica, sejam quais forem as
implicações morais que este problema suscita, a realidade é que, no ambiente atual,
o filho não é mais um alegre sinal de fecundidade e de bênção. (...) Os esposos que não superarem interiormente
o trauma psíquico da fecundidade, fruto de uma cultura decadente, se expõem a
experimentar na vida matrimonial, tarde ou cedo, o sentimento de frustração.”[2]
Os cônjuges são
chamados a gerar novos filhos de Deus, a preparar novos membros para o Corpo de
Cristo, a preparar novos cidadãos para o Reino dos Céus, assim como Cristo e a
Igreja geram novos filhos de Deus. Os pais dão vida ao corpo e Deus dá vida à
alma. Essa missão é sublime: os pais são co-criadores com Deus dos seres
humanos!
“Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e
contribuem grandemente para o bem dos próprios pais. Deus mesmo disse: ‘Não
convém ao homem ficar sozinho’ (Gn 2,18), e ‘criou de início o homem como varão
e mulher’ (Mt 19,4); querendo conferir ao homem uma participação especial em
sua obra criadora, abençoou o varão e a mulher dizendo: ‘Crescei e
multiplicai-vos’ (Gn 1,28). Donde se segue que o cultivo do verdadeiro amor
conjugal e toda a estrutura da vida familiar que daí promana, sem desprezar os
outros fins do Matrimônio, tendem a dispor os cônjuges a cooperar corajosamente
com o amor do Criador e do Salvador que, por intermédio dos esposos, quer incessantemente
aumentar e enriquecer sua família.”[3]
Os casais devem
ter a coragem de serem generosos com Deus e não colocar muitos obstáculos na
geração dos filhos. Cada família deve pensar com muita responsabilidade quantos
filhos tem condições de criar e não limitar os nascimentos por pensamentos
egoístas ou apenas pensando no lado material, no “custo” de cada filho.
As famílias
numerosas são uma benção para a sociedade e geralmente são mais felizes, pois a
educação da criança com vários irmãos é facilitada, já que a vida comunitária
dentro da família auxilia na socialização, na consciência de que não se pode
ter tudo na hora que se quer (afinal são vários filhos para serem atendidos),
que é necessário dividir e ajudar um ao outro.
Certo dia, uma
senhora que tinha uma filha única de 15 anos, estava comentando com seu marido
como havia sido importante para ela o apoio de seus irmãos quando sua mãe
falecera. Então, a filha lhe perguntou: “E eu, mãe, como ficarei quando você
falecer se não tenho nenhum irmão para me apoiar?” Esta é uma questão que
aqueles adeptos da filosofia do filho único deveriam refletir.
“Imagem de Deus pode
considerar-se, também, a própria geração, que faz de cada família um santuário da vida. O apóstolo Paulo
diz-nos que toda a paternidade e maternidade recebem o nome de Deus (Ef 3,15).
É Ele a fonte última da vida. Por isso, pode-se afirmar que a genealogia de
cada pessoa tem as suas raízes no eterno. Ao gerar um filho, os pais atuam como
colaboradores de Deus. Missão verdadeiramente sublime! Não nos surpreendamos,
consequentemente, de que Jesus tenha querido elevar o casamento à dignidade de
sacramento, e de que São Paulo se lhe refira como um «grande mistério», pondo-o
em relação com a união de Cristo com a Igreja (Ef 5,32).[4]
Os casais aos quais Deus não concedeu ter
filhos, todavia, também podem ter um matrimônio muito fecundo. Podem optar pela
adoção de tantas crianças abandonadas ou frutificar seu amor através do
trabalho comunitário, do acolhimento e do sacrifício.
A fecundidade do amor conjugal diz respeito
ainda àquilo que a família pode contribuir com a Igreja e com a sociedade. Os
cônjuges devem buscar conquistar um patrimônio espiritual para ser
compartilhado com os demais.
Muitas vezes a preocupação principal gira em
torno dos bens materiais, de comprar uma casa, carro, enfim, dar o conforto
físico aos membros da família. É claro que tudo isso é muito importante,
todavia, precisa existir a preocupação em criar este patrimônio espiritual, com
um estilo de vida próprio, com bens espirituais e afetivos.
Os esposos devem cuidar para criar no lar uma
atmosfera própria, de comum acordo, e não deixar apenas que influencias
externas, como da televisão ou da internet, determinem como deve ser e se
comportar sua família. O tipo das amizades, os livros, os locais que
frequentam, tudo deveria ser conscientemente
decidido pelo casal, pois o ambiente que vivem influencia muito em seu
comportamento.
“Muito poucos são os homens conscientes do valor que tem a gestação
livre do ambiente que os rodeia. É normalmente esse ambiente que determina
muitas de nossas decisões de cada dia. (...)Se quero chegar até meu
subconsciente, possuir-me plenamente, determinar-me a mim mesmo tenho que
influir, como eu quero, em meu ambiente mais próximo. Se o deixo ao ‘acaso’ ou
deixo a outros a tarefa de determinar meu ambiente próximo, estou abdicando de
uma possessão profunda de mim mesmo; estou abrindo brecha a uma verdadeira
alienação”.[5]
Dessa forma, ao gestarem um ambiente próprio da
família, com seus valores e costumes, os esposos devem comunicar aos demais
esta sua verdadeira riqueza familiar, através de seu exemplo e da sua
convivência, tornando realmente fecundo seu matrimônio.
[1] Cf
Carta Encíclica Humanae Vitae de sua Santidade o Papa Paulu VI sobre a
regulação da natalidade – item 9
[2]
“Matrimônio, vocação de amor”, Fernandez, Jaime, pg.114, impresso como
manuscrito – 1989 – Movimento Apostólico de Schoenstatt, Santa Maria/RS
[3]
Cf Catecismo da Igreja Católica, no. 1652, citando a Constituição Pastoral Gaudium
et Spes, no. 50, 1, do Concilio Vaticano II
[4]
Beato João Paulo II, Angelus de 06.02.1994, in www.evangelioquotidiano.org
[5]
“Matrimônio, vocação de amor”, Fernandez, Jaime, pg.112, impresso como
manuscrito – 1989 – Movimento Apostólico de Schoenstatt, Santa Maria/RS