segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

ENSINAR OS FILHOS A PENSAR

A educação formal há mais de um século é no estilo do professor passar o conteúdo e o aluno aprender, sem muito espaço para reflexão se o que está sendo passado é verdadeiro ou como aquela matéria pode ser usada na vida prática. A forma preferida de entretenimento, principalmente dos mais jovens, também segue o mesmo estilo: absorvem o conteúdo das inúmeras telas (TV, computador, celular, tablets) passivamente, sem qualquer questionamento.

Este estilo de vida acaba criando pessoas com muito pouco senso crítico, que não sabem refletir se a informação recebida realmente corresponde com a verdade, ou qual o sentido de assistir determinado programa, o que aquilo traz de bom, de saudável, para a vida.

Então cabe a nós, pais, desenvolver primeiramente em nós mesmos e depois ensinar os filhos, já na pré-adolescência, a ter um senso crítico com relação às coisas que eles vêm por aí. Isso vai ajuda-los a se protegerem de informações e ideologias que sejam contrárias aos princípios e valores importantes para a vida deles.

Começamos fazendo perguntas: por que você gosta de assistir isso? Qual a mensagem que esse vídeo quer passar pra você? É possível que esteja querendo vender algum produto ou serviço? Quais os sentimentos/desejos que esse programa desperta em você?

No começo as respostas podem ser bem vagas: “ah, porque é legal...”, ou “porque eu gosto...”, então devemos insistir e ensiná-los a reconhecer o que está acontecendo dentro deles e colocar em palavras, para então, com o tempo, conseguirem escolher o que realmente é melhor para eles.

Exemplificando: vamos supor que seu filho está assistindo um vídeo onde o youtuber se propõe a ficar 24 horas dentro da piscina, sem poder sair nem para ir ao banheiro. O pai então pergunta:

P: Por que alguém se submeteria a isso?
Filho: Pra ganhar visualizações.
P: E o que ele pode ganhar tendo muitas visualizações?
F: Fama e dinheiro.
P: Será que passar 24h dentro de uma piscina é uma atitude que faz bem para a pessoa?
F: Ah, não sei... No começo deve ser legal, mas depois deve cansar
P: Quais será que são os efeitos no corpo de uma pessoa que fica 24h dentro da água? E o que acontece se uma pessoa fica muito tempo sem fazer xixi? E se ela faz xixi na piscina e continua na água?
F: Ah, pai, sei lá...
P: Percebi que esse vídeo tem uns 20 minutos. Será que o youtuber realmente ficou as 24h na piscina? É possível que ele tenha saído e não tenham filmado? É possível que tudo seja uma “armação” para enganar quem está assistindo?
F: Acho que não... mas não tenho certeza
P: Você acha que ficar 24h numa piscina é uma boa forma de ganhar dinheiro? Será que vale a pena? Quantas pessoas, depois de assistir esse vídeo, podem querer fazer a mesma coisa? Será que todas vão ganhar muitas visualizações e ganhar dinheiro também?
F: Não tinha pensado nisso...
P: Por que você gosta de assistir vídeos desse tipo?
F: Porque eu me divirto.
P: Você já pensou que para você se divertir, uma outra pessoa está se submetendo a tudo isso, que pode prejudicar a saúde, além de ter desperdiçado um dia inteiro de vida, onde ele poderia ter feito tantas cosias boas, ajudado outras pessoas, mas ficou dentro de uma piscina, sofrendo?
F: Ai, pai, você está exagerando...
P: Será que estou exagerando, filho? Você sabia que quando você assiste este tipo de vídeo você está estimulando esse youtuber a fazer coisas cada vez mais loucas para ter as visualizações? Será que você está fazendo o bem para ele?
F: Não tinha pensando nisso...

Conversas desse tipo são cansativas, mas são necessárias. Não adianta apenas proibir os filhos de assistirem determinados programas. É preciso leva-los a refletir os motivos pelos quais aquele conteúdo não é apropriado para eles. É preciso também ensiná-los a ter argumentos para justificar para os amigos o porquê não vêm determinadas coisas.

Os pais precisam saber o que os filhos gostam de assistir, como eles gostam de se divertir. Muitas vezes isso implicará assistir coisas juntos (mesmo que seja extremamente entediante para os pais) e então discutirem sobre o que viram. Isso toma tempo e energia, mas é uma das melhores coisas que os pais podem fazer pelos filhos: ensinarem a pensar!

O “efeito colateral” desse aprendizado, é que os filhos podem passar a questionar também a atitude dos pais. Mas isso é bom, pois propiciará aos pais a oportunidade de mostrar os seus valores, o que é importante e o que os motiva. Claro que deve ser feito com respeito, os filhos precisam aprender a questionar sem desrespeitar.

Um dos grandes objetivos da educação dos filhos é ensiná-los que aquilo que faz “bem” deve sempre ter prioridade sobre aquilo que é “bom”.  Não é porque uma coisa causa prazer, é gostoso, que devemos fazer. A motivação sempre deve ser o bem para a saúde, o bem para a inteligência, o bem para o espírito, o bem para o outro. Quando eles aprendem a pensar e a questionar suas próprias atitudes, aprendem também a fazer a escolha certa.


photo credit: danielfoster437 <a href="http://www.flickr.com/photos/17423713@N03/3752652055">Me, Myself, and I</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/">(license)</a>