Nossa felicidade depende na forma que usamos as coisas que
Deus nos deu. Precisamos usá-las de uma maneira heroica, com uma “divina
indiferença” que cria um equilíbrio entre o apego e o desapego. Somos
dependentes das coisas para sobrevivermos: precisamos de moradia, transporte,
alimento, roupas, e tudo isso precisa ser adquirido pelo nosso trabalho. Nossa
sociedade também cria uma série de “necessidades”, coisas que tornam nossa vida
mais fácil, que acreditamos que não podemos viver sem. Então, essa divina
indiferença é muito difícil de se conseguir, pois nossa tendência é nos
apegarmos demasiadamente aos bens materiais e deixamos de confiar na divina
providência, de acreditar que o Pai cuida de cada um de nós.
Não podemos viver sem as coisas materiais, mas podemos criar
uma atitude de independência frente a elas. Podemos criar também uma atitude de
independência frente ao conforto físico, honra, estima e os prazeres dos
sentidos. Isso não acontece de uma hora para outra, precisa de treinamento. Da
mesma forma que para participar de uma Olimpíada o atleta treina seu corpo,
para sermos mestres da divina indiferença, precisamos treinar nosso espírito.
O Pe. José Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de
Schoenstatt, disse que só conseguiu sobreviver aos horrores do campo de
concentração nazista onde passou mais de 3 anos, porque durante toda a vida
havia treinado seu espírito para suportar adversidades. Não sabemos o que ainda
deveremos passar em nossas vidas, quais dificuldades precisaremos transpor,
então um estilo de vida mais sóbrio, é sempre uma excelente opção.
Presenciamos hoje uma juventude que não suporta a menor
contrariedade, uma cara feia é motivo de divórcio, uma nota baixa é motivo de
suicídio. Isso acontece porque durante a infância e adolescência, tiveram todos
os obstáculos e frustrações removidas pelos responsáveis por sua educação. E
sem superar obstáculos ou sofrer frustrações, a pessoa não amadurece e não sabe
lidar com isso no futuro.
Assim, quanto antes começarmos a nos privar voluntariamente
de alguns prazeres e confortos, mais fácil será criar essa independência e
veremos que nos satisfaremos com muito pouco. Pode ser coisas simples, como
tomar banho um pouco mais frio do que gostaríamos, deixar de comer aquela
sobremesa depois do almoço, ir a pé até a padaria ao invés de pegar o carro,
renunciar um dia a assistir sua série favorita, etc. São inúmeras pequenas renúncias
no dia a dia que tornarão forte nosso caráter e nossa capacidade de suportar as
adversidades da vida.
A confiança na divina providência nos ensina a fazer todo o
possível para a saúde e segurança de nossa família, mas estar disposto a abrir
mão de todo o resto, se Deus assim o permitir. Precisamos acreditar que Deus só
irá pedir aquilo que é para o nosso bem, que em última análise, é a salvação da
nossa alma. Podemos ensinar nossos filhos esse tipo de desapego através de
nossas atitudes. Por exemplo, não perder a paciência se a internet está muito
lenta ou se precisamos mudar o que havíamos planejado para o dia. Aos poucos os
filhos irão aprender a superar suas próprias frustrações e se tornar mais
desapegados do mundo para se apegarem mais a Deus.
Oração do Abandono (Pe. Charles Foucauld)
Meu Pai,Eu me abandono a Ti.
Faz de mim o que te agradar.
Não importa o que faças de mim,
Eu te agradeço. Estou pronto a tudo,
Eu aceito tudo.
Tomara que tua vontade se faça em mim,
Em todas tuas criaturas,
Eu não desejo nada mais.
Meu Deus,
Eu coloco minha alma entre tuas mãos.
Eu a te dou, meu Deus,
Com todo o amor do meu coração,
Porque eu te amo,
E que é minha necessidade,
De me colocar em tuas mãos
Sem medida, com infinita confiança,
Pois Tu és meu Pai.
photo credit: Jangra Works <a href="http://www.flickr.com/photos/46488122@N05/24691532755">Handcuff and Locked With Smart Phone</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/">(license)</a>