quarta-feira, 29 de setembro de 2021

COMO RECLAMAR E DESCULPAR-SE DE MANEIRA EFICAZ




Pare para pensar sobre o quanto você reclama no seu dia: é o trânsito que está pesado, o preço da gasolina que aumentou, levou uma advertência do chefe, é o bife que ficou muito passado, o filho que não arrumou o quarto, o calor que está forte, a internet que está lenta, enfim, são inúmeras pequenas situações que podem deixar você aborrecido e irritado.

O professor Marcello Danucalov ensina que o aborrecimento acontece quando algo mal ocorreu e não deveria ter ocorrido. Um limite, um padrão justo foi transgredido, um compromisso foi quebrado. E todo aborrecimento pede ou gera uma reclamação.

Características da reclamação que funciona

Existem algumas características na reclamação para que ela seja efetiva e útil. Uma reclamação inútil só causa desconforto tanto para quem a produz, como para aqueles que estão ao seu redor, por isso devemos evitar esse tipo de reclamação.

A primeira coisa que precisamos identificar é para quem iremos dirigir nossa reclamação. Se não temos um destinatário, não há como nossa reclamação ser efetiva, porque não há ninguém que possa reparar de alguma forma o que aconteceu. Reclamar para alguém que não foi o responsável pela situação ou que não pode fazer nada a respeito, é perda de tempo e de energia.

Outro aspecto é sobre o que pode (e deve) ser objeto de uma reclamação. Existem acontecimentos que mesmo que nos causem certo tipo de aborrecimento, não merecem uma reclamação, pois não tem como ser reparados ou melhorados. Um exemplo seria se aborrecer com o calor ou o frio.

Por fim é preciso saber se havia um pacto prévio a respeito comportamento que gerou o aborrecimento. Se não havia um combinado, não há por que ter a reclamação, pois não houve o comprometimento da outra parte a agir de uma forma ou de outra.

Forma efetiva de reclamar

Se o acontecimento passou nessas três “peneiras”, então podemos fazer uma reclamação efetiva para a pessoa responsável, lembrando a outra parte que havia um acordo e esse foi quebrado. Pedir explicações sobre essa quebra e mostrar os danos que essa quebra produziu em você e no sistema como um todo e repactuar um novo acordo.

Por exemplo: se o filho deixou o quarto bagunçado, você deve chamá-lo, mostrar a bagunça, lembrar que o combinado é ele deixar o quarto arrumado antes de sair de casa e que a bagunça demonstra que ele não está se importando com o quanto você trabalha para conseguir comprar as coisas, já que deixar desorganizado pode também causar danos aos objetos. Além disso, a casa é sua e ele, como seu hóspede, deve manter a ordem que você determina. Um ambiente desorganizado afeta a todos que vivem na casa, pois o cérebro humano é conectado para buscar sempre a ordem e a desordem causa desconforto e estres. Assim, a atitude negativa dele afetou tanto você como toda a família.

A reclamação efetiva exige desculpas úteis

A reclamação que funciona exige um pedido de desculpas que também seja útil. Caso você se dê conta de que fez algo que prejudicou alguém, a primeira atitude é pedir perdão por ter quebrado o acordo, contando eventuais justificativas para você ter agido daquela forma. Depois deve perguntar qual foi a extensão do dano tanto para a pessoa ofendida como para o ambiente e o que você pode fazer para repará-lo. Faça o possível para reparar da forma mais eficiente e plena.

Mais um exemplo com relação aos filhos (para ensinarmos a se desculparem efetivamente): se sua filha derrubou um copo de leite na sala da tia, não basta que peçamos para ela pedir desculpas para a titia (que vai aceitar com o maior carinho). Além de pedir desculpas, precisa pegar um pano para ajudar a limpar.

Portanto devemos evitar gastar energia reclamando inutilmente e precisamos aprender a pedir desculpas de uma maneira eficiente, assim, além de crescermos em maturidade, ajudamos a equilibrar o ambiente em que vivemos.

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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

SERÁ QUE REALMENTE SOMOS LIVRES?



A liberdade é um dos direitos fundamentais de todo ser humano. Mas ela também é um direito muito frágil, podemos perdê-la se não cuidarmos bem. Podemos falar em dois tipos de liberdade: aquela interior, de agir de acordo com a própria razão e vontade e a exterior, que é regulada pela sociedade em que cada pessoa vive, que pode limitar ou até extinguir o direito de ação do indivíduo. Esses dois tipos de liberdade vivem constantemente ameaçados.

O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1731, assim define a liberdade: “A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade. A liberdade alcança sua perfeição quando está ordenada para Deus, nossa bem-aventurança.”

Portanto, para conseguirmos exercer bem esse poder de agir ou não agir, precisamos utilizar nossa inteligência para discernimos o que é o bem e fortalecermos nossa vontade para conseguir agir de acordo com esse discernimento. “Quanto mais pratica o bem, mais a pessoa se torna livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça.” (CIC 1733)

Ninguém pode tirar nossa liberdade

Essa liberdade interior, de agir de acordo com a própria consciência, ninguém pode nos tirar. Nós só perdemos essa liberdade por própria culpa, quando não discernimos o que é o bem ou quando, mesmo sabendo o que é o bem, nossa vontade não tem força para agir de acordo com o que a inteligência propõe. Cedendo aos nossos impulsos, nos tornamos escravos deles. E ao invés de agir, apenas reagimos.

O Pe. José Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, mesmo preso num campo de concentração durante a 2ª Guerra, manteve sua liberdade interior intacta. Apesar de fisicamente limitado pela prisão, ele vivia com o coração e a mente no Céu. Aceitou aquela circunstância como permissão divina e a utilizou para ajudar quem ele pode a sobreviver àquele verdadeiro inferno.

Não existe liberdade total

Ninguém é totalmente livre, pois existem várias limitações impostas pela própria natureza. Não somos livres para escolher onde nascemos, para sentir fome ou frio, para ser mais alto ou baixo. São inúmeras circunstâncias que não controlamos e que interferem em nossa vida. Porém, se buscarmos viver as virtudes, com o tempo conseguiremos um alto grau de liberdade interior e estas circunstâncias externas interferirão muito pouco no modo como agimos.

Conta-se que todos os dias um homem passava por uma banca de revista e cumprimentava o jornaleiro. Como resposta, sempre recebia alguma grosseria. Um dia seu amigo perguntou por que ele continuava sendo gentil e cumprimentando o jornaleiro se a resposta sempre era negativa. Ele respondeu que era livre para fazer o que achava certo e não era a atitude do outro que iria afetar seu modo de agir.

Desta forma para não perdermos nossa liberdade interior, precisamos lutar constantemente para adquirir as virtudes, como a paciência, temperança, fortaleza, prudência, entre outras. Cada um precisa analisar onde está seu ponto mais fraco, para iniciar essa luta que vai durar a vida toda.

A liberdade exterior não está em nossas mãos

Quanto a liberdade exterior, muito pouco podemos fazer para permanecermos livres. Basta um simples decreto de uma autoridade civil e não podemos mais sair de casa ou até expressarmos nossa opinião publicamente. Claro que devemos sempre lutar pela liberdade com os meios que possuímos, mas no fundo, vivemos em sociedade e, para termos segurança, abrimos mão dessa liberdade e a damos ao governo.

Isso não deve nos afligir, pois não adianta ter liberdade exterior, se interiormente somos escravos de nossos desejos e paixões. Façamos tudo o que está em nosso alcance para permanecermos livres exteriormente, mas lutemos bravamente contra nossas imperfeições para possuirmos o máximo de liberdade interior possível.

A liberdade torna o homem responsável por seus atos, na medida em que forem voluntários. O progresso na virtude, o conhecimento do bem e a ascese aumentam o domínio da vontade sobre seus atos.” (CIC 1734)

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