quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

ANO SANTO DA MISERICÓRDIA

A Igreja Católica iniciou no dia 08 de dezembro o “Ano Santo da Misericórdia” onde todos podemos receber as indulgências até o dia 20 de novembro de 2016. Mas o que são indulgências?

O pecado traz sempre duas consequências: a inimizade e a dívida com Deus. A confissão reata a nossa amizade com Deus, mas a dívida permanece. Esta dívida nós pagamos ao longo de nossas vidas, com nossas orações, nossos sacrifícios e as nossas boas obras. Se a morte chegar e ainda possuirmos alguma dívida, mas estivermos em estado de graça, ou seja, com nossos pecados graves confessados, terminaremos de quitar essa dívida no Purgatório.

Para explicar isso de uma maneira mais simples, vejamos um exemplo. Um filho quebra um objeto que sua mãe gosta muito. A mãe, ao ver o objeto quebrado, se entristece. Mas o filho logo pede perdão. A mãe, perdoa, e o laço de amor e carinho entre mãe e filho é restabelecido. Mas o objeto continua quebrado. O filho precisa fazer algo para reparar o dano causado. Esse “algo” que temos que fazer para reparar aquilo de errado que fizemos chama-se “pena temporal”, que cumprimos ao longo de nossas vidas para reparar a dívida do pecado.

Quando a Igreja apresenta a indulgência plenária, ela nos dá o presente de que todas essas penas temporais que nós temos em virtude dos nossos pecados já confessados são apagadas pela recepção da indulgência.

Isso, porém, não é algo “mágico”. A Igreja possui um “tesouro de graças”, que o Papa tem o direito de abrir para nos presentear. Essas graças, esses méritos, vem em primeiro lugar de Jesus, com sua morte redentora na Cruz, também de Nossa Senhora, por sua vida imaculada e ainda todos os mártires e santos que durante sua vida ganharam muitos méritos, mas não precisaram “usar” tudo o que fizeram para sua própria salvação. Então, aquilo que foi “a mais” fica depositado nesse tesouro de graças da Igreja. E agora, no Ano Santo da Misericórdia, todos nós podemos usufruir desses méritos, desse tesouro.

E como podemos receber essas indulgências? Existem quatro condições.
1º: fazer uma boa confissão, 8 (oito) dias antes ou 8 (oito) dias depois que desejamos receber a indulgência
2º: receber a eucaristia no mesmo dia em que desejamos receber a indulgência
3º: rezar um pai-nosso, uma ave-maria e um glória ao pai nas intenções do Papa
4º: visitar um lugar onde se recebe essa indulgência, que são as Portas Santas (para saber onde, em sua cidade, existe a Porta Santa, entre no site de sua arquidiocese)

Essa indulgência plenária, podemos receber todos os dias durante o Ano Santo, uma vez por dia e podemos oferece-la para nós mesmos ou por uma alma que esteja no Purgatório. Ao oferecermos por uma alma do Purgatório, ela irá imediatamente para o Céu!

Assim, este ano realmente é um ano extraordinário e devemos aproveitá-lo o melhor possível, conseguindo muitas indulgências! Terminamos com as palavras do Papa Francisco, extraídas da Bula Misericordiae Vultus: 

"Misericordiosos com o Pai é, pois, o 'lema' do Ano Santo. Na misericórdia, temos a prova de como Deus ama. Ele dá tudo de Si mesmo, para sempre, gratuitamente e em pedir nada em troca. Vem em nosso auxílio, quando O invocamos."


Para qeum quiser mais informações sobre o Ano Santo da Misericórdia, aqui pode acessar o teor completo da Bula Misericordiae Vultus 

crédito da foto: photopin.com

domingo, 27 de dezembro de 2015

NATAL: LUZ, ALEGRIA E DOM




Neste tempo de Natal, vamos refletir com o Pe. Nicolás Schweizer, neste texto publicado em Reflexões, No. 25, de 15.12.2007.

Não sei se notaram que com tão poucas palavras o evangelista nos relata o acontecimento tão extraordinário: “Estando eles ali, completaram-se os dias para o parto, e deu à luz o seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura...”.

A simplicidade e a pobreza destas palavras contrapõem-se ao Natal solene e ruidosa ao qual nós estamos acostumados. Nosso “rico” Natal se impôs e empobreceu o verdadeiro. Agora, o que acontece realmente no Natal? O que faz Cristo para nós no Natal?

Cristo vem trazer-nos a luz: “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; habitavam terras de sombras, e uma luz lhes brilhou”.

Mas percebemos rápido que a sua é uma luz que incomoda, indiscreta, que descobre nossas misérias, nossas limitações, nossa mesquinhez. É uma luz que não se resigna a ser um puro adorno. Compromete, exige mudanças dolorosas em nossa existência. Mas muitos não estão dispostos a dar esse passo. E nós?

Cristo vem para satisfazer-nos de alegria. O anjo anuncia aos pastores: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que é para todo o povo”.

Alegria, porque sabemos que existe um Deus que pensa no homem com amor, que se aproxima do homem, que se faz homem. Um Deus que percorre nosso mesmo caminho, que compartilha nossas penas e misérias, nossas angústias e esperanças. Um Deus que vem trazer a todos a salvação.

Cristo veio a trazer-nos a felicidade, uma felicidade que ultrapassa todos os horizontes terrenos. E nós insistimos em nossa própria alegria, nossa pobre felicidade humana e terrena.

É terrível chegar ao Natal pensando ser já um homem feliz, um homem satisfeito por outros motivos. Talvez sejamos muito ricos em bens da terra e por isso nos alegramos tão pouco com os bens celestiais

Cristo nos traz seus dons. Ele mesmo se faz dom para nós, o dom por excelência. E nós queremos fingir que não percebemos tal dom. Em realidade esperamos pouco dele Quem de nós pediu a Cristo um presente espiritual, um milagre de mudança, de transformação para este Natal?

Estamos muito ocupados com nossos pacotes em que se escondem nossos dons, nossos pobres presentes. E assim sufocamos o único dom debaixo de uma montanha de papéis coloridos, de coisas sem valor e sem necessidade.

Nossa missão

Devemos converter-nos em luz. Que a luz de Cristo nos penetre intimamente, nos transforme, nos faça tão transparentes que os homens ao olhar-nos fiquem deslumbrados, sentindo todo o encanto e o atrativo dessa luz sobrenatural.

Devemos converter-nos em alegria. Nossa missão é ser testemunha da alegria cristã. Que todo mundo entenda que a mensagem de Cristo é uma mensagem de salvação, não de condenação; uma mensagem de liberação, não de opressão; uma mensagem de alegria, não de tristeza.

Temos de converter-nos em dom. É um costume presentear no Natal, muitos presentes. Queremos assim saldar nossas dívidas de gratidão com aquelas pessoas a quem devemos algum favor. Mas isso é muito cômodo.

A um cristão se exige muito mais. Tem a obrigação, não de presentear, e sim de converter-se ele mesmo em um presente converter-se em dom. Fazer de sua vida uma entrega, sem reservas, para todos. Porque todos os homens são seus credores. Porque o cristão há de sentir-se devedor perante todos os seus semelhantes e, sobretudo, devedor perante Deus.

Neste nascimento que celebraremos tem que nascer algo em cada um de nós. Somos todos chamados a nascer de novo.

Só uma coisa importa, diz São Paulo, e é que nos convertamos numa criatura nova. De nada nos serve que Cristo haja nascido há dois mil anos, se hoje nada vai nascer em nós. A maravilha da noite de Natal, irmãos, é que o Menino Deus - no coração de cada um de nós - possa voltar a nascer e voltar a viver.

Perguntas para a reflexão:
1. O que é para mim o Natal hoje?
2. Como festejo o Natal?
3. O que peço de presente?


photo credit: ViaggioRoutard <a href="http://www.flickr.com/photos/97760755@N08/26580583569">Presepio Emozionale - da Gualdo Tadino ad Amatrice, Visso e Norcia</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/">(license)</a>


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O OUTRO LADO DA FERTILIZAÇÃO "IN VITRO"

Algum tempo atrás, dei meu testemunho sobre a luta contra um câncer e como lidar com o sofrimento em uma Igreja. Quando terminei, uma mulher se aproximou e pediu para conversar comigo. Depois da nossa conversa, prometi a mim mesma que iria contar essa história ao maior número de pessoas possível, para alertar sobre um aspecto sombrio da fertilização "in vitro" que não é mostrado aos casais que procuram esse tipo de "solução" para a infertilidade. É isso que faço agora.


Ela me contou que há 10 anos sofria muito por não conseguir engravidar. Depois de vários exames, os médicos disseram a ela e ao marido que seria impossível engravidarem naturalmente, então sugeriram a fertilização. A princípio, sendo católica e sabendo que a Igreja não aceitava esse procedimento, ela recusou. Porém, com o passar do tempo, a angústia aumentava e como não sabia quais eram os reais motivos pela Igreja ser contra, decidiram tentar. Aqui ela me conta seu primeiro grande arrependimento: não ter buscado entender o porquê a Igreja Católica é contra a manipulação da vida através da fertilização artificial.

No processo, "conseguiram" 6 embriões viáveis, mas ela não sabe quantos foram descartados para conseguir esse número. Resolveram implantar 3 embriões e congelar os outros três. Quando estava no quarto mês de gestação, acabou perdendo os três bebês. Foi uma dor horrível, segundo ela, pois não parava de pensar que aqueles seus filhos só estavam mortos porque ela havia insistido em "fabricá-los". Pela primeira vez eu percebi a dura realidade que para que uma fertilização desse certo, muitos bebês eram abortados. Não só aqueles que eram implantados e depois vinham a falecer, mas todos os embriões que eram descartados por serem considerados "inviáveis" pelos médicos. E no olhar daquela mãe, vi o quanto essa dor pesava em seu coração.

Ainda em meio a dor da perda, alguns meses depois, milagrosamente ela engravidou naturalmente. Quanta felicidade!! Nasceu um menino lindo e saudável. Ela finalmente havia conseguido o que tanto queria. Porém, quando seu filho completou dois anos de idade, seu marido arranjou outra pessoa e acabou se divorciando dela.

Agora, a criança já tem seis anos. Mas o grande sofrimento dessa mulher, o que lhe causa pesadelos e tira o sono, é saber que ainda possui três bebezinhos, seus próprios filhos, congelados!! Em meio a lágrimas, ela me pergunta o que fazer. Ela agora é uma mãe solteira, não tem muitas condições financeiras e se atormenta em saber que seus filhos estão sozinhos em um freezer.

Naquele momento eu rezei e pedi ao Espírito Santo que me ajudasse a orientar essa pessoa tão sofrida. Eu nunca a havia visto na vida e ela tinha me confidenciado um problema tão sério. Enfim, percebi que não tinha outra saída: disse a ela que deveria procurar um jeito de implantar esses bebês, dar a eles pelo menos a possibilidade de tentarem nascer. Falei que se estávamos ali, numa Igreja, com Jesus no Sacrário e ela havia me procurado é porque no fundo sabia o que tinha que fazer, apenas precisava de um incentivo.

Não sei o que aconteceu com ela. Nunca mais a vi. Mas sua história me marcou profundamente. Todos precisam saber que se a Igreja Católica é contra alguma coisa, é porque tem muitos motivos para isso. É porque essa coisa jamais trará felicidade. Nem tudo aquilo que posso fazer, eu devo fazer. Então, vamos procurar entender a razão das coisas e orientar o máximo de pessoas possível. Isso é um ato de caridade com o próximo. Ninguém deve tomar uma decisão sem saber todas as consequências de sua escolha. Quem quiser saber mais sobre as razões da Igreja contra as técnicas de reprodução assistida, leiam a instrução Donun Vitae, da Congregação para a Doutrina da Fé, escrita pelo então Cardeal Joseph Ratzinger. Podem acessá-la nesse link: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html



photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/74896762@N00/3167352760">amniotic sac</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/">(license)</a>

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

EDUCANDO ADOLESCENTES: DESENVOLVER UMA SEPARAÇÃO RESPEITOSA DA MÃE E DO PAI



Cada etapa da educação dos filhos é um novo desafio e exige dos pais flexibilidade e sabedoria para continuar sempre proporcionando aos filhos oportunidades de desenvolver suas potencialidades para ser um ser humano feliz e capaz de servir a comunidade.

Hoje falaremos sobre maneiras de tratar da necessidade de independência do adolescente. Seu adolescente pode estar esperando para sair no mundo e testar a si mesmo. Em geral, isto deve ser encorajado e ativamente apoiado, enquanto seu filho fizer uso destas experiências para construir blocos para sua própria identidade. Mas apesar do empurrão do adolescente para a independência, seria um erro pensar que os adolescentes não precisam mais da mãe e do pai. De fato, eles precisam de nós mais do que nunca. De uma maneira diferente, talvez, mas tanto quanto antes.

Acreditamos que existem algumas atividades que deveriam ser sacrossantas em todo lar católico, especialmente um lar com um adolescente ou pré-adolescente. (Por sacrossanto queremos dizer que nenhum membro da família deveria ter a opção de não praticar estas atividades, apesar que convidados podem eventualmente ser bem vindos)
(a) refeição em família
(b) dia em família
(c) missa semanal e oração diária

A primeira é refeição em família. Todos os dias, precisamos ter pelo menos uma refeição juntos - preferencialmente o jantar - quando podemos nos conectar. Nós sabemos que isto está cada vez mais difícil neste mundo ocupado, mas se não podemos ficar juntos como família por quarenta e cinco minutos para o jantar, então provavelmente nossa família é muito ocupada. Atividades como trabalho, esportes e clubes são para adicionar vida à família, não competir com ela. Se permitirmos que atividades externas espremam nosso tempo com a família, estamos passando a mensagem a nossos filhos que a vida familiar deve ser colocada no fim das prioridades. Esta é uma lição que seu filho definitivamente carregará para seu próprio matrimônio. Lembre-se, para o católico, não há atividade mais importante do que aprender a amar, e isto é feito melhor em família, a qual a Igreja chama de "escola de amor".

A segunda coisa que recomendamos é possuir um dia por semana que é reservado especificamente para atividades da família. Como João Paulo II observou em seu documento sobre o Dia do Senhor (Dias Domini), estes dias são importantes porque eles dão à família tempo para brincarem juntos e se reconectarem antes de retornarem ao dia-a-dia da semana. Ocasionalmente, os pais poderão dar permissão para que os amigos de seus filhos participem deste dia, mas deve estar claro e entendido que seu filho não poderá passar o dia excluindo os membros da família para que ele possa ficar com seu amigo exclusivamente. Se seu filho reclamar, lembre-o de que existem outros seis dias na semana durante os quais ele pode estar com outros. Seu filho ou filha não tem que sempre amar estes dias em família, mas eles devem ser considerados - pelo menos - como uma obrigação importante e uma oportunidade para o adolescente desafiar seu próprio egoísmo e lembrar de onde ele veio.

A última, mas mais importante recomendação é que as famílias devam participar da missa dominical juntas e engajar algum tipo de tempo de oração diária além das orações nas refeições. Se atividades externas atrapalham a família a participar da missa dominical junta, estas atividades devem ser contornadas para que todos possam participar juntos ou devem ser excluídas. Devemos lembrar que a Eucaristia não é "fast food" que você pega a caminho de alguma outra coisa. É uma refeição familiar - para ser dividido com sua carne e osso, bem como com seus irmãos e irmãs espirituais. Se a Real Presença na Eucaristia não é declarada como o centro da vida espiritual da nossa família, então nossa família simplesmente está brincando de ser católica. Claro que amigos serão sempre bem vindos a acompanhar nossa família para a Igreja, mas amigos e outras atividades não devem afastá-los de participar da missa juntos. Da mesma forma, quando buscamos tempo para uma oração diária familiar e oração individual, ensinamos a nossos filhos que a fé não é algo que se aplica apenas aos domingos.

Ao assentar estas três como as três atividades essenciais que seu adolescente deve participar (algumas vezes quer ele queira ou não - mas frequentemente quando eles chegam lá eles gostam) ajudaremos nosso adolescente a se manter grudado no amor pela família. Isto também diminuirá as chances de ele se engajar em comportamentos que precise de mais punição de nossa parte. Muitas vezes o castigo é geralmente usado como estratégia pelos adolescentes para ter mais tempo com a família quando percebem que são ameaçados por forças externas ou a optar por atividades que eles não tem certeza que conseguem lidar. Afirmar a importância da vida familiar oferece uma maneira mais direta e respeitosa de suprir suas necessidades. E mais, isto nos dá o benefício de se manter em contato com a vida do nosso adolescente, algo que pode ser muito difícil de fazer em uma semana boa, menos ainda em uma semana que você não teve nem tempo de dizer "oi" um ao outro.

O quanto antes introduzirmos estes rituais na fábrica de sua vida familiar, é menos provável que o adolescente resistirá a eles. Mas se você está começando tardiamente, você ainda deve decretar estas intervenções. Você apenas precisará de mais coragem para vê-las se tornar realidade. Não desista. O esforço valerá a pena.

photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/40215657@N03/19284874760">4th of July 2015</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/">(license)</a>


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

TRABALHANDO JUNTOS PELA NOSSA FELICIDADE



O matrimônio é a célula base de nossa sociedade e tem sido muito atacado recentemente. Todos os casamentos estão ameaçados, não importa quanto tempo de casados, o fantasma do divórcio está sempre a espreita. 

Casamos para sermos felizes, mas muitos casais não o são e acabam colocando fim ao matrimônio em busca justamente da felicidade. Quando nos casamos, acreditamos que com aquela pessoa poderíamos ser felizes, que nossa felicidade estava assegurada. Ninguém se casa para ter uma vida miserável, infeliz.

O Pe. Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, cita um adágio antigo que diz: "Todo reino se conserva com as forças que lhe deu origem." Quais foram as forças que deram origem ao nosso matrimônio? Se estas forças continuam presentes, estamos bem. Caso contrário, precisamos mudar alguma coisa.

Qual foi a primeira coisa que chamou a nossa atenção para o outro? De todas as pessoas que conhecíamos, uma nos chamou a atenção por ser especial. Pode ter sido de uma hora para outra, como um raio, ou gradativamente, pouco a pouco aquela pessoa foi nos conquistando. Se nos fixamos em alguém, era porque vimos algo valioso nele ou nela. Pode ter sido a beleza, a inteligência, a integridade. Vimos alguma qualidade que nós gostamos e na medida em que fomos conhecendo mais essa pessoa, começamos a nos fascinar e apaixonar por ela.

E como é agora? Chegamos ao ápice e nos casamos. Depois, essa pessoa que era tão trabalhadora, se torna uma viciada em trabalho; quem era tão simpática, passa a ser uma pessoa superficial; aquele que era tão inteligente, agora não consegue perceber algo básico. A imagem que tínhamos muda e já não admiramos tanto essa pessoa.

Os primeiros anos de casamento as vezes são muito duros: temos que ganhar a vida, vem os filhos, começamos também a ver os lados fracos do companheiro, as vezes de maneira muito forte. Vemos um ao outro como realmente somos: com muito valor e com muitos defeitos. Como conservar a admiração pela pessoa com quem casei?

O amor tem que amadurecer. Precisamos reconhecer que essa pessoa é um presente. Um presente que pode estar embrulhado em um papel muito feio, mas ainda é um verdadeiro presente. Eu me apaixonei por uma pessoa real. Será que ela perdeu as qualidades que tanto admirei? Será que não possui outras qualidades que ainda não descobri? Todas as pessoas possuem coisas lindas, grandes.

"Não podemos ser como as moscas que ficam parando em todas as coisas sujas. Precisamos ser como as abelhas, que buscam e extraem o bonito e o doce." (Pe. Kentenich). Nós temos que sempre voltar a buscar e a encontrar o que é lindo no outro, em meu companheiro de vida. Travar uma luta real para aflorar essa riqueza que existe no outro e não ficar somente no lado que não é tão bonito.

Não devemos ser "mártires" que apenas suportam o lado ruim do outro. Não nascemos para isso, fomos criados para sermos felizes e pelo sacramento do matrimônio recebemos todas as graças necessárias para sermos felizes um com o outro.
 
Precisamos aprender a arte de trabalhar nossos defeitos, realizar um trabalho de superação pessoal. Se tenho um defeito e o outro me mostra, devo procurar superar esse defeito. Nós trabalhamos como casal, trabalhamos nossa personalidade, para crescermos como pessoa. Estamos em um mesmo lugar para vivermos felizes. Buscamos solucionar aquilo que torna nossa vida menos agradável.

Precisamos trabalhar para ajudar ao outro a superar seu problema, sua limitação. Normalmente só reclamamos: até quando? Quantas vezes já te falei isso? Mas se mantenho essa atitude, o que menos consigo é que o outro mude. Resmungar e reclamar é a pior maneira de lidar com essa situação.

Mas a mudança é necessária. Então precisamos introduzir algo novo em nosso relacionamento. No Movimento de Schoenstatt chamamos de autoformação. Cada um de nós está em um caminho de crescimento e no matrimônio possuímos uma grande vantagem, porque um pode ajudar ao outro, com amor, primeiro a ver o seu problema para então superar suas debilidades. Assim trabalhamos juntos um para o outro.

Se vejo que o outro está se esforçando para superar um defeito, tenho mais paciência de suportar esse defeito, pois sei que as coisas não mudam de um dia para o outro. E vice-versa. Eu sei que também tenho coisas que para mim é difícil mudar e o outro tem paciência comigo. E essa dinâmica nos tranquiliza.

Uma sugestão é nos reunirmos como casal uma vez ao mês para revisarmos esse nosso esforço por superamos nossos defeitos. Em uma ou duas horas, podemos compartilhar com o outro nossos sucessos e fracassos e desta forma, nos fortalecemos.

Todavia, precisamos ter consciência que existem defeitos que não são possíveis mudar. Por mais esforços que façamos, existem coisas que simplesmente não mudam. Não nos casamos com uma pessoa perfeita, mas com um ser humano, que muitas vezes vem com defeito "de fábrica". Então precisamos pensar com muito realismo: da mesma forma que eu tenho que suportar esse defeito "imutável" do outro ele também tem que me suportar em meu defeito "imutável". Como disse S. Paulo, o amor consiste em carregar o fardo uns dos outros. Eu amo você assim como você é e aceito sua pessoa com gratidão, porque tem muitas coisas lindas. Eu te aceito e te amo porque vejo que está se esforçando por melhorar, mas também aceito que não vai conseguir mudar tudo.

Essa dinâmica não termina nunca. Nós vamos mudando durante a vida, as novas etapas apresentam novas exigências e mostram ainda novos valores e novos defeitos. Precisamos sempre ter a consciência de cuidar para não perder a admiração pelo outro. Nunca posso deixar de ver em meu cônjuge algo lindo, algo que agrada, que me enriquece, afinal esta pessoa foi o presente que Deus me deu para me ajudar a chegar ao Céu. 

photo credit: <a href="http://www.flickr.com/photos/16105263@N00/7183245889">Valentine 2012</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/">(license)</a>