sábado, 4 de fevereiro de 2023

VOCÊ É A SUA HISTÓRIA

 


“Quem é você?” Normalmente quando ouvimos essa pergunta, respondemos com nosso nome e sobrenome. “Eu sou a Flávia Ghelardi”.  O nosso nome revela a nossa identidade, a forma como somos conhecidos e identificados em nossa sociedade. E o sobrenome nos vincula a uma família, a uma descendência. Algumas vezes, dizer só nosso nome não é o suficiente para a pessoa entender quem somos, então acrescentamos nossa profissão, ou nossa filiação, ou nossa condição de ser pai ou mãe de alguém, ou amigo, ou parente, ou fazer parte de alguma comunidade, enfim, falamos algo que faz parte da nossa história.

Assim, para a pergunta “quem é você?” há todo um leque de possibilidades de respostas além do nosso nome e todas essas respostas fazem parte de quem nós somos. Cada um de nós nasceu em um determinado dia, em uma família específica, em uma cidade determinada, em um país que tem uma língua que foi a que aprendemos para nos comunicar. Nascemos em uma determinada época da história da humanidade e ao longo de nossa existência fizemos algumas escolhas e sofremos as consequências das escolhas de outras pessoas para sermos quem somos hoje.

Desta forma, se cada um de nós pode ser definido como a sua história, qual é a história que você quer contar? A história da nossa vida teve um começo, está em seu desenvolvimento e um dia terá um fim. Não é uma história pronta e acabada e muito menos já tem um desfecho definido. Cada um de nós tem a liberdade para escrever essa história da forma que achar melhor. E quem não assume o protagonismo da própria história, acaba sendo levado pelas histórias dos outros e ao fim da sua vida percebe que “foi vivido”, mas efetivamente não “viveu”.

É muito fácil se deixar levar pela rotina, pelos acontecimentos e simplesmente ir reagindo conforme as coisas vão acontecendo. Saber qual história se está vivendo, ter um plano, um ideal, uma missão requer esforço e dedicação. Exige fazer escolhas nem sempre fáceis. Precisa de fidelidade e de um eterno recomeçar. Mas tudo aquilo que realmente tem valor, custa um esforço e viver sem ter um sentido é uma experiência muito frustrante.

O ser humano, diferente dos animais, não se sente realizado apenas com a satisfação dos instintos, como é o caso dos animais. Comer, beber, se divertir, ter relações sexuais, terminar um projeto, tudo isso é muito bom, mas não preenche, não traz felicidade. Como disse Sto. Agostinho “meu coração está inquieto enquanto não repousa em Ti”.

Precisamos aprender a contar nossa história. E o primeiro passo é saber que existe Alguém que é o Senhor da história, e que nos colocou nesse mundo para que vivamos com um objetivo, um propósito claro: um dia estar com Ele no Paraíso. Saber onde queremos chegar facilita a escolha do caminho a seguir.

Para chegar a esse fim, existem vários caminhos que podemos escolher seguir, várias narrativas ou maneiras de contar nossa história. Cada um precisa refletir e ver qual caminho se identifica mais, para qual deles possui mais aptidão. Por exemplo, existe a narrativa daquele que busca cumprir fielmente o seu dever, que deseja obter os meios materiais para seu sustento e o sustento da sua família. Ele sabe o valor objetivo das coisas, enxerga a realidade e quer ter prosperidade. Sente-se mais realizado quando coloca seus dons e talentos a serviço dos outros. Os comerciantes, os prestadores de serviços e profissionais liberais tendem a escolher esse tipo de narrativa.

Outra narrativa pode ser daquele que tem um anseio para coisas mais subjetivas, como ser nobre, leal, justo, honrado. A sua luta no dia a dia é para viver de acordo com essas virtudes, para servir não só a sua família, mas toda a comunidade. Esse tipo de narrativa é normalmente escolhida por militares, bombeiros e policiais. Aqui entraria também a vocação a política, mas a verdadeira política, aquele que entra no serviço público realmente para fazer o bem para a comunidade e não pensa em si mesmo.

Mais uma forma de narrar nossa história é daqueles que tem um anseio pela busca da Verdade, por entender as coisas e tem o desejo de partilhar o que aprenderam com outras pessoas. Gostam do estudo, tem vocação intelectual e estão sempre em busca do que é verdadeiro, belo e bom. Os sacerdotes, professores, filósofos normalmente escolhem esse tipo de narrativa.

Não há narrativa melhor ou pior, cada um tem o chamado para seguir um caminho. O importante é saber qual o caminho e ser fiel a ele. As narrativas que fazem sentido e que trazem uma certa sensação de realização são aquelas que buscam viver a vida para além de si mesmo, para além da busca do prazer e da fuga da dor, que é típica dos animais.

Quem sabe qual tipo de história está narrando, ao final de cada dia consegue saber se o que fez ou o que deixou de fazer, está de acordo com sua história, se está sendo fiel ao caminho que escolheu seguir. Saber que história está contanto ajuda no momento de fazer escolhas e tomar decisões. E, no final da vida, seja ele quando for, poderá prestar contas do que fez com os talentos recebidos para o Justo Juiz. 





Foto de Annelies Geneyn na Unsplash