segunda-feira, 27 de abril de 2015

FINALIDADE UNITIVA DO MATRIMÔNIO

No livro do Gênesis, ao narrar a criação do ser humano, vemos como Deus fez o homem e a mulher a sua imagem e semelhança. Ambos possuem a mesma dignidade e valor e foram criados um para o outro. Todavia não são seres incompletos; cada um é uma totalidade, porém são chamados para uma comunhão de pessoas, para um intercambio de vida e de amor e juntos se complementarem.
"Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimônio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: «O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas." (CIC 2335).
O modo de ser do homem e da mulher se diferenciam pela maior ou menor acentuação de determinados valores que ambos possuem, mas que, via de regra, cada sexo vive com uma intensidade diferente. Por isso mesmo, não há nenhum valor humano que possamos catalogar como exclusivamente “masculino” ou “feminino”. Porém, podemos afirmar que algum destes valores se dão “normalmente” com maior força no homem ou na mulher[1]
Desta forma, cada ser humano possui características do ser masculino e do ser feminino, porém em graus diversos. O homem possui mais características do ser masculino e necessita ser complementado pela mulher, com suas características predominantes do ser feminino e vice-versa.

Esta aparente "confusão" existente entre os sexos é mais um dos efeitos do pecado original. Antes do pecado, Adão e Eva se comunicavam e se complementavam sem qualquer dificuldade. Porém, o sacramento do matrimônio é o meio pelo qual Deus nos dá a graça de restaurarmos esta verdadeira parceria entre o homem e a mulher.
Homem e mulher só chegarão à perfeição de sua personalidade em dependência mútua, um complementando o outro. Assim foi querido por Deus, que criando tudo por amor e para o amor, não permite que o ser humano se aperfeiçoe senão através do caminho de abertura e doação mútua dos sexos.
A graça desse aperfeiçoamento e complementaridade é conhecida como a finalidade unitiva do casamento. Quando um homem e uma mulher livremente aceitam partilhar suas vidas e se doarem totalmente um ao outro, a permanência do seu vínculo os capacita para se tornarem fluentes na linguagem um do outro e desta forma, com o tempo, tornarem-se "uma só carne" (Mt 19,5). Essa linguagem é de um alegre amor e serviço mútuo, uma linguagem criada pelo Pai, exemplificada pelo Filho e sustentada pelo Espírito Santo.
Quando o Pe. Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, se refere ao instinto sexual, explica que a sexualidade humana compreende, primeiro, a tendência a um encontro espiritual e pessoal com o outro, ou seja, a alma do outro, a comunhão de um com o outro no amor. Segundo, a tendência ao contato físico, a atração pelo corpo do outro, como meio de expressão e cultivo do amor; e. em terceiro lugar, a tendência ao filho, a fecundidade na paternidade e na maternidade; ou seja, a tendência a ser fecundos além de si mesmos, como fruto de seu amor.




[1] Fe y vida matrimonial, Cuadernos de Pastoral Familiar, No. 1, P. Hernán Alessandri Morandé,pg. 36,  Ed. Nueva Patris, Chile, 2009
CRÉDITO DA FOTO: PHOTOPIN.COM

segunda-feira, 20 de abril de 2015

AS FINALIDADES DO MATRIMÔNIO E A FECUNDIDADE DO AMOR CONJUGAL

Consoante os ensinamentos de João Paulo II, o amor carnal (sexual) deve expressar a linguagem do amor ágape, ou seja, daquele amor que Cristo tem por cada um de nós.

Este amor possui quatro características. "Primeira: Cristo dá livremente seu corpo ('Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade' Jo 10,18). Segunda: entrega seu corpo totalmente, isto é, sem resevas, condições ou cálculos egoístas ('até o extremo ele os amou' Jo 13,11). Terceira: dá seu corpo fielmente. ('Estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos' Mt 28,20). Quarta: entrega seu corpo frutuosamente ('Eu vim para que tenham vida' Jo 10,10). Se homens e mulheres souberem evitar as armadilhas do falso amor e viver plenamente sua vocação, a união deles deve expressar o mesmo amor - livre, total, fiel e frutuoso que Cristo expressou.
Outro nome para este tipo de amor é matrimônio. E isto é precisamente o que uma noiva e um noivo fazem diante do altar. Quando o celebrante pergunta:'"Vieste aqui livremente e sem reservas para vos entregardes um ao outro no matrimônio? Prometeis ser fiéis até a morte? Prometeis receber amorosamente os filhos que Deus vos mandar?' Noivo e noiva, cada um, por sua vez, responde: 'sim!'"[1]

Assim, o matrimônio é uma aliança, um contrato pelo qual o homem e a mulher se comprometem a amarem-se com este grau de amor, da mesma forma que Cristo ama a sua Igreja. Para conseguirem isto, o próprio Jesus elevou esta aliança ao nível de Sacramento. Os efeitos principais deste sacramento são: ele dá graças para fortalecer o amor dos esposos, para compreenderem mutuamente seus defeitos, superarem as dificuldades na vida conjugal e na educação dos filhos e, especialmente para santificar os esposos até o fim da vida.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os sacramentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naqueles que os recebem com as disposições exigidas”[2]
Os sacramentos foram instituídos por Jesus para ajudar na caminhada rumo ao Céu, para sinalizar este caminho, pois transmitem as graças necessárias para cumprir a missão de cada um.
No caso do sacramento do matrimônio, a graça que se recebe é a santificação do vínculo que une marido e mulher para sempre. A aliança de amor que é selada com o sacramento do matrimônio, este laço que unirá aquele homem e aquela mulher eternamente, se transforma num sinal eficaz da união de Cristo com sua Igreja.
“O matrimônio, segundo o que foi dito, não é a consagração de duas pessoas, mas a consagração do laço que as une. A relação entre ambas é elevada sacramentalmente. Nisso consiste precisamente a sacramentalidade conjugal. O amor que os une e o vínculo que se gera se faz sinal e sacramento. O amor conjugal puramente humano se faz amor consagrado e por isso mesmo já é uma realidade religiosa. A comunidade conjugal entre ambos se faz comunidade de Deus e com Deus. Neste contexto podemos dizer que o amor redentor de Cristo, que desperta em nós uma resposta proporcional, se desdobra no matrimônio através do amor recíproco dos esposos.”[3]
Os esposos, tendo recebido o sacramento do matrimônio, são chamados a ser sinais do amor de Cristo por sua Igreja e do amor da Igreja para o seu Senhor. Quem vê um casal cristão deve poder ver a presença de Deus, sua atuação na vida daquela família. O casal também deve permitir que Deus influencie as pessoas que os rodeia, através de seu matrimônio.

A Igreja defende, em primeiro lugar, a dimensão da comunhão ou finalidade unitiva da sexualidade conjugal, expressa na comunhão de corações e de vontades na relação íntima dos esposos. De outra parte, a Igreja defende, ao mesmo tempo, a finalidade procriativa inerente ao amor conjugal. O amor dos esposos quer ver-se prolongado no filho. Existe neles um anseio natural de se perpetuar criadoramente. Seu amor é transcendente, não estéril.



[1] WEST, Christopher Teologia do Corpo para Principiantes - Uma introdução básica à revolução Sexual de João Paulo II. Ed. Myriam. Porto Alegre. 2008 Pg. 103
[2] Cf CIC No. 1131
[3] “Matrimônio, vocação de amor”, Fernandez, Jaime, pgs. 8-9, impresso como manuscrito – 1989 – Movimento Apostólico de Schoenstatt, Santa Maria/RS
crédito da foto: photopin.com