O que a falta de pudor tem a ver com o ateísmo? Trataremos neste post a
íntima relação existente entre a falta de pudor e a falta de fé, conforme
explicado por Ada Simoncini, no livro “O pudor”, da Ed. Quadrante.
O pudor é a tendência natural de defender o domínio sobre aquilo que é
mais meu, da minha intimidade. Apesar de ser instintivo, a pessoa pode
desenvolver um senso maior ou menor do pudor, conforme vai educando sua
inteligência e vontade.
O pudor existe para proteger a intimidade. O que há de mais íntimo no
ser humano é a sua sexualidade, pois é através dela que o homem se entrega
totalmente à sua mulher e vice versa, podendo através desse ato conceber uma
nova alma imortal, a sua descendência. Como a sexualidade é o que de mais
íntimo, mais pessoal, que se pode entregar ao outro, deve ser guardada pelo
pudor, para evitar que a pessoa se sinta usada e seja descartada.
Apesar de estar mais relacionado com a sexualidade, o pudor deve estar
presente em toda situação humana e manifestar-se de forma adequada. Existem
recantos na nossa alma que só pertencem a Deus e precisamos cuidar de
protege-los de uma exposição desnecessária e até maléfica. Dessa forma, agir
com pudor é agir com recato, com discrição, com o devido cuidado de não mostrar
aquilo que é mais seu.
Justamente por estar relacionado com a intimidade da pessoa, é que a
falta de pudor pode conduzir ao ateísmo. A pessoa que expõe seu corpo e
consequentemente sua alma, sem se importar quem estará vendo ou tendo acesso a
sua intimidade, passa a não ter nada de íntimo, nada de seu, pois tudo já foi
exibido, colocado a mostra. E o encontro com Deus realiza-se sempre no próprio
núcleo da intimidade pessoal; não tendo intimidade, não há encontro com o
divino.
A falta de pudor causa “um
empobrecimento da vida interior, tornando-se cada vez mais difícil a relação
com Deus – que, ao contrário, deve ser sempre mais íntima, sempre
personalíssima. De resto, ao perder-se o pudor, perdem-se também os bons
costumes e, como é sabido, quando a conduta não se adapta à fé, vai minando-a
até elimina-la por completo.”
Ao contrário do alardeado por nossa cultura, o pudor não é uma
repressão. Muito pelo contrário. O pudor conduz a uma plena liberdade, pois só
quem é capaz de guardar sua intimidade, tem condições de livremente se entregar
em um relacionamento de amor. Abdicando do pudor, a pessoa fecha as portas ao
amor, pois este só é capaz de desenvolver-se num ato, num momento ou num clima
de intimidade. O corpo (e também a pessoa a quem este corpo pertence)
transforma-se em coisa de ninguém pela própria circunstancia de ser coisa de
todos. O que não é misterioso não é capaz de oferecer um interesse duradouro.
A mulher tem uma grande responsabilidade na educação para o pudor. O
corpo feminino encanta e seduz os homens, mas também foi feito para gerar e
nutrir uma nova vida. Desta forma, cabe à mulher se portar de tal forma que os
homens sejam conduzidos a desejar muito mais do que usar o corpo dela para seu próprio
prazer, mas queiram se unir a ela para gerar sua descendência. Esse é um poder
extraordinário que foi colocado nas mãos das mulheres e que hoje em dia,
infelizmente, elas estão jogando no lixo.
“São as mães que tem acima de
tudo o dever de educar os filhos e as filhas no sentido do pudor, de modo a
consolidar neles esta formidável defesa da intimidade, que é também condição
indispensável para o enriquecimento interior e para a abertura aos valores mais
altos de uma vida autenticamente humana e cristã.”
O pudor, como qualquer virtude, baseia-se sobretudo em pequenas coisas,
que merecem nosso cuidado. Existem partes do corpo que, se mostradas, podem
despertar o desejo sexual no outro, assim, até que exista um relacionamento
esponsal, devem ser guardadas dos olhares dos outros. E mesmo depois de
casados, o corpo de um cônjuge deve ser mostrado exclusivamente ao outro e não
ser exposto ao olhar de todos.
Não se trata apenas no cuidado com as roupas, mas também com o modo de
falar e de se comportar. O pudor não está em conflito com a elegância, antes é
exigido por ela. O pudor é a afirmação da supremacia do espírito, a exaltação
da personalidade humana, que nos diferencia dos animais e nos torna capazes de
escolher o bem, mesmo que nos custe sacrifícios.
photo credit: L'art au présent <a href="http://www.flickr.com/photos/144232185@N03/29616047514">VIGÉE-LE BRUN Elisabeth,1792 - Julie Le Brun, en Baigneuse - 0</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/">(license)</a>
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