sexta-feira, 28 de março de 2025

SATANÁS TEM UM PLANO PARA A SUA VIDA

 



As pessoas, em geral, não gostam de pensar no demônio e muito menos falar dele. Para muitas, inclusive, ele não existe... Essa é uma grande arma a favor do demônio: quem não acredita em sua existência está muito mais vulnerável para receber sua influência. Porém, quem é cristão sabe muito bem, pelas palavras do próprio Jesus, que o demônio é real e como diz S. Pedro: “anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar.” (1Ped 5,8)

Pensar no demônio não deve nos trazer medo, como vemos em alguns filmes de terror, mas deve nos deixar muito alertas. Nossa realidade é um grande campo de batalha entre o Bem e o Mal. Deus já venceu essa batalha, mas nós, seres humanos, é que estamos sendo disputados para saber qual lado vamos escolher para passar a eternidade.

O livre arbítrio nos foi dado para termos a capacidade de amar. Quem não é livre, não pode amar, mas essa mesma liberdade pode ser usada para escolher o mal, e assim, escolher o lado do inimigo do Amor. O plano de amor de Deus para cada um de nós é que um dia, estejamos com Ele, na felicidade eterna no Céu. E Satanás, por ser um anjo dotado de uma inteligência aguçadíssima, também tem um plano para cada um de nós, que é fazer que escolhamos passar a eternidade com ele, sofrendo e odiando no inferno.

Poder de Satanás

O poder de Satanás é limitado ao que Deus permita que ele faça. E Deus só permite a ação dele, para que nós possamos provar nosso amor e assim, escolher o Céu. Jesus, por sua paixão e morte na cruz, abriu o Céu para nós. Ele já nos libertou da escravidão do pecado, mas nós precisamos aderir a esse plano de Deus, escolher fazer a sua amorosa vontade para nossa vida.

A ação ordinária de Satanás e seus demônios é através da tentação. Ele nos influencia a escolhermos o pecado. O pecado é uma recusa em amar, pois escolhemos um prazer ou uma vantagem material em detrimento dos planos de amor que o Pai tem para nós. É escolher o egoísmo, que é o oposto do amor. Ao pecar, dizemos sim ao demônio e um não a Deus.

Deus, ao nos dar os 10 mandamentos, está pensando apenas no nosso bem, em nossa salvação. Ao escolhermos ir contra esses mandamentos, estamos fazendo um mal para nós mesmos, tanto para a nossa vida aqui na terra, como especialmente para a nossa vida eterna, que será nos horrores do inferno.

Combater as tentações

A primeira coisa que precisamos ter certeza é que nenhum de nós é tentando acima de suas capacidades de resistir a essa tentação. Satanás é como um sniper que fica observando qual é o melhor momento e a melhor forma de atirar uma tentação. Mas sempre temos a capacidade de resistir a esse tiro.

Para combater as tentações, primeiro precisamos estar conscientes delas, então devemos pedir a Deus, na oração, para nos mostrar onde o demônio está entrando em minha vida, qual brecha posso estar dando para que ele influencie as minhas ações, caindo na armadilha de suas tentações.

Quaresma: tempo propício para combater as tentações

O tempo quaresmal é um período propício que a Igreja nos convida a combatermos mais fortemente o pecado e as tentações. Somos lembrados que Jesus também foi tentado no deserto e nos ensinou como lutar contra as tentações especialmente as do ter, do prazer e do poder

As práticas quaresmais que nos incentivam a intensificar o jejum, a esmola e a oração devem nos fortalecer no combate especialmente contra essas três tentações. O jejum nos ajuda a dominar nossos instintos e dessa forma nos fortalece contra a tentação da busca do prazer. A esmola nos ajuda no desprendimento dos bens materiais, pois damos a quem não pode nos retribuir. E nos ajuda contra a tentação do ter. E a oração nos ajuda a reconhecermos que somos criaturas, que todo o poder é de Deus, nos ajudando contra a tentação do orgulho e do desejar o poder.

Assim, não desperdice mais essa oportunidade que o Pai lhe dá para crescer no amor e vencer todo egoísmo. Aproveite esse tempo de Quaresma para lutar mais seriamente contra aquela tentação que te afasta do caminho que vai te levar ao Céu. Nas dificuldades, nas quedas, levante e recomece. “A esperança não nos decepciona” (Rm 5,5). Jesus venceu a morte e nos ajuda a frustrar o plano que satanás tem para a nossa vida.


 Foto de Marek Piwnicki na Unsplash

domingo, 23 de fevereiro de 2025

VISITA À NOSSA MÃE DE GUADALUPE

 




No dia 10 de janeiro de 2025 nossa família recebeu a grande graça de poder visitar a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México. Foi uma viagem sonhada há muito tempo e fazer essa peregrinação com meu marido e meus três filhos foi uma experiência maravilhosa.

A história das aparições de Nossa Senhora ao índio Juan Diego sempre me cativou. Para quem não conhece a história, eu incentivo muito que pesquisem sobre essas aparições. Vou descrever aqui apenas algumas partes que me marcaram mais.

A primeira coisa que me chamou atenção foi a idade de Juan Diego quando ele recebeu a missão de levar ao Bispo o pedido de Nossa Senhora para a construção de uma igreja dedicada a ela: 56 anos! E 56 anos em 1531 já podia ser considerada uma pessoa idosa. Isso para mim significa que nunca é tarde para seguirmos o chamado de Deus em nossa vida, mesmo não sendo um chamado sobrenatural como foi o de S. Juan Diego.

A simplicidade e humildade desse índio são impressionantes, pois nunca duvidou de quem ele estava vendo e nunca se sentiu digno nem capaz de cumprir o que Nossa Senhora havia pedido. Mas Deus sempre escolhe os pequeninos e humildes para as maiores missões e os capacita para que consigam realizar.

O que realmente faz meu coração transbordar e me marcou desde a primeira vez que ouvi, foi o que Nossa Senhora disse a ele na terceira aparição: “Não estou eu aqui, que sou tua Mãe? Você não está debaixo da minha sombra e sob o meu cuidado? Não sou eu a fonte da sua alegria?” Sempre que estou com alguma preocupação, lembro dessas palavras e me sinto confortada. Nossa Mãe querida também dirige essa mensagem a cada um de nós, sempre que precisamos dela.

E por fim a prova do milagre, a imagem estampada num tecido rudimentar, que em condições normais se desmancharia em 30 anos, está lá, intacto, há quase 500 anos... A cada novo estudo sobre essa imagem, mais maravilhas são descobertas. Vou mencionar apenas algumas: a tinta utilizada não existe nada parecido conhecido em nosso planeta (atestado por químicos renomados); os olhos da imagem, quando observados por oftalmologistas, parecem olhos de alguém vivo; e na córnea da imagem, que tem cerca de 7mm (0,27inches) está estampada a cena de Juan Diego mostrando o manto com as rosas ao Bispo.

Nossa experiência



Chegamos na Basílica pela manhã. O tamanho já impacta e no complexo todo, há outras igrejas mais antigas, além do museu e uma área imensa onde é possível montar acampamento. Entramos primeiro na Basílica onde está o manto, vimos de longe e a emoção foi grande. Estava acabando uma santa missa (que lá tem de hora em hora das 6h da manhã até as 8h da noite todos os dias).

Fomos até o local onde poderíamos ver mais de perto a imagem. Tem algumas esteiras rolantes para as pessoas não ficarem paradas, mas você pode passar quantas vezes quiser para ver e rezar. Não tem como descrever a emoção. Rezamos em família, cada um também fez seu momento de oração individual. Ver a emoção dos meus filhos é maravilhoso. Ela é Mãe deles também.

Assistimos a missa das 10h e logo depois encontrar a guia que nos levou conhecer todo o complexo e contar toda a história. Essa visita guiada vale muito a pena, então é uma coisa que recomendo para quem for até lá. Subimos o cerro até o local das aparições, vimos as outras igrejas mais antigas e o local onde estão os restos mortais de S. Juan Diego.



Conforme o tempo ia passando, mais pessoas chegavam e as demonstrações de fé eram as mais variadas. Grupos de crianças e jovens, muitos idosos, caravanas de outras cidades e países. Algumas pessoas caminhando de joelhos (isso foi bem impressionante). Depois do almoço, voltamos para rezar mais um pouco e levar todas as intenções de pedidos que nossos amigos e parentes haviam nos entregue. Voltamos aos pés de Nossa Senhora e entregamos tudo.

Depois fomos comprar algumas lembranças para trazer para casa. Uma coisa muito interessante que tem por lá é a “Capela das Bênçãos”. Na verdade, é um local semi-aberto onde um sacerdote fica o dia todo esperando que as pessoas levem objetos para serem abençoados. Quando chegamos, ele fez a oração da bênção e aspergiu muita água benta em tudo o que compramos. Antes de terminar, já estavam chegando mais pessoas. E é assim durante todo o dia.

Apesar do cansaço, não dava vontade de ir embora. Ficamos um tempo em adoração na Capela do Santíssimo, que tem um sacrário gigantesco. Não sei se em algum lugar do mundo pode ter algum maior, mas é impressionante o tamanho. Depois passamos pela última vez em frente ao manto, nos despedimos e agradecemos por tão imensa graça.



Meu marido e eu já tivemos a graça de conhecer o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal e o de Nossa Senhora de Lourdes, na França. Mas nós dois chegamos à conclusão de que Guadalupe é especial, porque é o único lugar onde existe uma prova física deixada pela Mãe de Deus, seu autorretrato. Para nós essa peregrinação também foi mais especial pois nossos filhos estavam conosco e puderam compartilhar desse momento extraordinário juntos.

 





 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O PONTO PERSA

 



O tapete persa é considerado um dos mais belos do mundo e é confeccionado desde 500 anos antes de Cristo. Há uma história sobre esses tapetes que diz que o artesão sempre deixa um ponto feito de maneira errada, o chamado “ponto persa”, para lembrar que perfeito, só Deus.

Achei muito interessante essa história, pois é uma forma de exercitar nossa humildade. O artesão, mesmo propositadamente, não deixa seu trabalho perfeito, para não ficar orgulhoso. Essa lição devemos ter em mente especialmente em nossa luta contra nossos pecados, defeitos e imperfeições, já que, enquanto vivemos nesse mundo, sempre poderemos falhar.

Reconhecer nossa impoerfeição

Como é difícil reconhecer que caímos no mesmo erro, aquele que já caímos tantas vezes e nos arrependemos outras tantas! Podemos ter a tentação do desespero, de achar que é impossível melhorar, ser santo... Mas não é isso que Deus Pai espera de nós. São Paulo pediu inúmeras vezes a Deus que lhe tirasse um “espinho da carne”, e qual foi a resposta do Pai? “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força”. (2Cor 12,9)

Ele deseja especialmente a nossa confiança em sua infinita misericórdia e principalmente que peçamos humildemente a sua ajuda. São Paulo continua nos ensinando: “Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque, quando me sinto fraco, então é que sou forte”. (2 Cor 12,10)

É em nossa fraqueza, em nossa pequenez, que Deus pode revelar suas maravilhas. Quando nos entregamos, como uma criança, nos braços do Pai, sabendo que sem ele nada somos, aí então Ele se derrete de amor por nós e realiza em nós o milagre da nossa santificação.

Claro que precisamos fazer a nossa parte, nos esforçar a cada dia por vencer em nós as fraquezas e limitações, de preferência de um modo bem concreto, escolhendo uma mortificação ou penitência para vencer aquilo que sabemos não agrada ao Pai. Mas principalmente precisamos pedir ao Pai que nos ajude nessa luta. Pedir com humildade e com insistência.

O que podemos aprender das escrituras?

A parábola da viúva e do juiz injusto nos ensina que devemos pedir sempre, insistentemente, para que Deus nos ajude em todas as nossas necessidades. “Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite? Porventura tardará em socorrê-los?”  (Lc 18,7). Jesus insiste na necessidade de pedirmos: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, se abrirá.” (Mt 7,7-8) E ainda: “Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis” (Mt 21,22)

Assim, vamos seguir confiantes nesse caminho que nos leva ao Céu. Lutando e pedindo, sem desânimo, mas com confiança. Se ainda não conseguimos avançar muito, ou se escorregamos e acabamos voltando aonde começamos, isso não importa. O fundamental é recomeçar sempre. Com humildade e perseverança. O Pai é o maior interessado em nossa santificação, então não precisamos nos preocupar. Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus! (Rm 8,28)

 crédito da foto: Foto de Ashkan Forouzani na Unsplash

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

SURSUM CORDA - CORAÇÕES AO ALTO



No início da liturgia eucarística na Santa Missa, o sacerdote faz um convite a todos para elevarmos nossos corações a Deus. Em latim “sursum corda”, corações ao alto. E a nossa resposta é: “nosso coração está em Deus”. Esse é um momento importante, pois elevamos nosso coração ao Céu, para participarmos de alguma forma também da liturgia celeste, pois na Santa Missa o sacrifício de Jesus na Cruz é renovado na presença dos anjos e dos santos, então é como se o Céu estivesse ali conosco.

Esse chamado para elevar nossos corações a Deus não deve se restringir ao momento da liturgia eucarística. Os santos, aqueles que aprenderam a viver unidos a Deus ainda aqui na terra, estavam sempre com o coração no Céu. Por isso que São Paulo podia dizer: “porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21). Ele estava tão unido a Jesus e ao mundo sobrenatural, que enxergava o momento de sua morte como um ganho, pois poderia contemplar eternamente a face de Deus.

Significado do “sursum corda”

O que significa então o “sursum corda”? Algumas poucas pessoas são chamadas a viver isso de maneira radical, abandonando as coisas desse mundo e vivendo enclausuradas ou isoladas, apenas adorando e servindo a Deus com essa renúncia das coisas materiais. Assim, seus corações e suas mentes estão exclusivamente no Céu.

Como viver o “sursum corda”

Porém a grande maioria de nós é chamada a viver o “sursum corda” no meio dos afazeres do nosso cotidiano. Viver no mundo, sem negligenciar nossas obrigações profissionais, familiares e sociais, mas com o coração no Céu, lembrando sempre que estamos num caminho cuja meta é o Céu.

As nossas obrigações do dia a dia são sementes da vida eterna. A forma como cumprimos com essas obrigações podem trazer o fruto de uma eternidade feliz no Paraíso. Ganhamos o Céu não apesar das nossas tarefas mundanas, mas justamente por causa dessas tarefas.

O Pe. José Kentenich costumava dizer que precisamos fazer o ordinário extraordinariamente bem e um fiel e fidelíssimo cumprimento do dever. (1º Documento de Fundação – Documentos de Schoenstatt, Atibaia 2002 e Santidade de Todos os Dias, Santa Maria 2018) Procurar o máximo de cuidado em cada coisa que precisamos fazer durante o dia e oferecer esse cuidado para Deus, é a forma de elevarmos sempre nossos corações ao alto.

Em nossa rotina agitada tudo quer chamar nossa atenção. As redes sociais com inúmeros estímulos a cada segundo podem tirar o nosso foco daquilo que é o mais importante, nossa salvação eterna. Nossas paixões e fraquezas também podem nos arrastar para baixo, para prender nosso coração nas coisas passageiras desse mundo. Então, para vivermos o “sursum corda” precisamos de coragem e de força para lutar contra tudo aquilo que nos afasta de Deus.

Essa luta vai durar toda a nossa vida, pois também o inimigo de Deus quer possuir nosso coração e nossa vontade. Mas com a ajuda constante da graça e a nossa firme vontade de viver com nosso coração no Céu, isso será possível. É preciso recomeçar a cada queda, pedindo perdão e tendo confiança na infinita misericórdia de Deus, sabendo que Ele deseja nossa salvação muito mais do que nós mesmos.

Na prática

Para incorporamos essa cultura do “sursum corda” em nossa vida, é preciso começar, logo que acordamos, com uma pequena oração oferecendo todo o nosso dia. Agradecer por termos acordado e ter mais uma chance de amar a Deus através das nossas atitudes e do fiel cumprimento dos nossos deveres. Aos poucos podemos incorporar em nossa rotina pequenas pausas, de alguns minutos, para renovar essa vontade de viver com o coração no Céu, oferecendo a próxima tarefa a realizar, por mais banal que seja. Podemos também preencher o nosso dia com as jaculatórias, que são pequenas frases (orações) que mandamos para Deus. E no final do dia, antes de dormir, agradecemos pelas conquistas e pedimos perdão pelas falhas no nosso dia, renovando o propósito de no dia seguinte, sermos melhores ainda.

Assim, no dia em que o Pai nos chamar para prestarmos conta de nossa vida, estaremos tranquilos pois passamos nossa vida junto Dele e o Céu não será um lugar estranho para nós. Nosso coração sempre esteve lá!

Foto de Christopher Beloch na Unsplash

segunda-feira, 15 de julho de 2024

O CANSAÇO É PEDAGÓGICO

 


Vivemos em uma época muito agitada. Corremos para todos os lados o dia inteiro. Para quem é mãe, principalmente de crianças pequenas, a impressão é que não temos tempo para nada, passamos o dia (e muitas vezes a noite) indo de uma atividade para a outra, sem descanso. O resultado é que vivemos cansados. Muito cansados.

O cansaço nos ensina a ser humildes

Será que podemos aprender alguma coisa com nosso cansaço? Afinal, por que Deus nos fez de uma forma que precisamos descansar? Talvez a resposta seja para sermos mais humildes, entendermos nossa condição de criaturas limitadas. Não somos super-homens que podem fazer tudo o que quiserem, quando quiserem, como quiserem, sem consequências e sem cansaço.

O cansaço nos obriga a parar. O cansaço nos obriga a nos render, a nos entregar. É por causa do cansaço que “treinamos” a nossa morte, afinal quando dormimos, desligamos nossa consciência no mundo em que vivemos. Quantas pessoas encontraram com a morte durante o sono! Mesmo se temos a graça de acordar no dia seguinte, aquele momento do sono, foi um momento de morte, de separação das inúmeras preocupações de nosso dia a dia.

Deus nos quer no Céu

Deus é infinitamente sábio e nos ama também com amor infinito. O desejo dele para cada um de nós é que um dia possamos passar a eternidade com ele, com uma felicidade sem fim. Para isso ele procura nos educar ao longo de nossas vidas, para que percorramos o caminho que leva ao Céu. E o cansaço faz parte dessa pedagogia, desse chamado a voltar nosso olhar para Ele, lembrando que aqui só estamos passando um tempo e que as dificuldades e sofrimentos que experimentamos, devem ser um degrau que nos aproxima mais do seu amor e de sua misericórdia. O cansaço deveria constantemente nos lembrar do momento decisivo que será a nossa morte, para vivermos de uma forma que nossa eternidade seja no Céu.

Vós encontrareis descanso

Como é bom poder descansar no colo da Mãe, no colo do Pai! Jesus nos diz: " Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu fardo é leve”. (Mt 11,28-30)

É muito difícil mudar o estilo de vida para nos cansarmos menos. Provavelmente, em nossas circunstâncias, reduzir o ritmo, descansar mais, ter um tempo para somente fazer o gostamos, é impossível. Então precisamos aprender a entregar nosso cansaço para Jesus. O cansaço entregue para Jesus fica mais suave, mais leve.

Aprender com o cansaço

Vamos procurar aprender com nosso cansaço, a termos o olhar voltado para a eternidade, para o Céu, pois “a nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável” (2Cor 4,17). Podemos nos colocar como filhos pequenos pedindo o colo do Pai, sendo humildes, reconhecendo nossa fraqueza e confiando na infinita bondade e misericórdia daquele que nos ama com amor infinito.

 




Foto de Debashis RC Biswas na Unsplash

sábado, 8 de junho de 2024

VOLTAR A ESTAR NUS

 


No relato da Criação, vemos que “o homem e a mulher estavam nus e não se envergonhavam(Gn 2,25). Porém, após a tragédia do pecado original, da rebeldia dos nossos primeiros pais em não aceitarem serem criaturas e quererem ser “outros deuses”, caindo na armadilha do demônio e desobedecendo ao Criador, ouvimos Adão dizer: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me” (Gn 3,10). E Deus responde: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?” (Gn 3,11)

Qual foi essa consequência do pecado que fez com que o homem tivesse medo por estar nu? Antes do pecado, não se envergonhavam; mas depois, tiveram medo e se esconderam de Deus... Essa nudez significa muito mais do que simplesmente estar sem roupa. É uma atitude perante Deus de total despojamento e de confiança, de entrega em sua amorosa providencia.

O pecado fez com que o ser humano perdesse essa pureza e singeleza de ser criatura diante de Deus, de saber que é cuidada e amada com amor infinito. O medo por estar nu representa a desconfiança no amor e proteção de Deus, o desejo de autossuficiência, de assumir o controle da própria vida sem a interferência divina, frutos desordem causada pelo pecado.

Então, nós precisamos lutar para voltar a estar nus, para retomar aquela confiança filial que nossos primeiros pais tinham perante Deus. O primeiro passo é buscar conhecer melhor a Deus, pois não é possível confiar em quem não conhecemos... Para conhecer melhor, é preciso passar tempo com Deus, dialogar com Ele e principalmente buscar ouvir o que Ele nos diz, através das circunstâncias, dos acontecimentos em nossa vida, das pessoas com quem nos encontramos, da natureza, das coisas... Enfim, tudo pode ser um sinal do amor de Deus para conosco.

A oração meditativa é fundamental para esse maior conhecimento de Deus. Reservar alguns minutos por dia, escolher um texto de um livro espiritual ou da Bíblia, ou até um acontecimento da nossa vida e perguntar: o que Deus quer me dizer com isso? O que eu digo a mim mesmo? O que eu respondo a Deus? Essa prática, com o tempo, vai abrindo nossos olhos, nossa mente e nosso coração para perceber o amor e o cuidado de Deus Pai em nossa vida.

Os santos aprenderam esse caminho de entrega total e incondicional à divina providência. Sabiam que eram amados e queridos, mesmo em sua miséria, e assim, com esforço e ajuda da graça, conseguiram responder a esse amor divino, com atitudes de luta contra as imperfeições para um dia desfrutarem eternamente da presença do Pai.

Vejamos alguns exemplos de ensinamentos desses nossos amigos do Céu:

“Espero tudo do Bom Deus, como uma criancinha espera tudo de seu pai. Meu caminho é o caminho da infância espiritual, o caminho da confiança e da entrega absoluta” (Santa Terezinha do Menino Jesus”

Corre no caminho da perfeição quem possui o coração dilatado na confiança em Deus”. (Santo Afonso de Ligório)

Quanto mais confiamos em Deus, tanto mais progredimos no seu amor”. (São Vicente de Paulo)

Todos os esforços pouco valem, se não deixarmos de confiar em nós para confiar somente em Deus.” (Santa Teresa)

Peçamos a ajuda de Maria Santíssima, a pessoa que mais confiou e amou a Deus, para que aos poucos possamos reconquistar essa atitude de filhos obedientes e fiéis, que confiam e se entregam ao Pai totalmente, pois sabem que são amados e que tudo o que o Pai provê e permite é para o seu bem, a sua santidade e para conquistar seu lugar na felicidade eterna do Céu.

crédito da foto: pixabay.com

domingo, 21 de abril de 2024

ESTE MISTÉRIO É GRANDE

 





Ano passado comemoramos 25 anos de casados. Foi um momento maravilhoso de agradecimento por todas as graças e bênçãos recebidas durante todos esses anos, especialmente pelo dom da vida de nossos quatro filhos: Gabriel (21), Nicole (18) Matias (17) e a Júlia que já nos precede no Paraíso.

Os jubileus são momentos de alegria e essa palavra vem do latim “iubilatio” que é justamente uma das formas de alegria. Além da alegria, são momentos de reflexão e uma das coisas que refleti foi sobre a grandeza do sacramento do matrimônio.

Reflexões sobre os sacramentos da confissão e da eucaristia são mais frequentes para mim. Lembro também sempre do sacramento do batismo, que me tornou filha de Deus. Mas o sacramento do matrimônio raras vezes fez parte das minhas meditações e gostaria de compartilhar com vocês sobre o que pensei.

Este mistério é grande (Ef 5,32)

São Paulo, na carta aos Efésios, fala sobre o matrimônio: “Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne. Esse mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido” Ef 5,31-33

O sacramento do matrimônio é um grande mistério porque, ao ver um casal, deveríamos poder enxergar o amor de Cristo pela Igreja e da Igreja por Cristo. Um amor tão grande que é capaz de dar a vida um pelo outro.

A importância da indissolubilidade

O matrimônio ser indissolúvel significa que o compromisso assumido no altar perante Deus e a comunidade só se desfaz com a morte de um dos cônjuges. Essa característica do sacramento foi determinada pelo próprio Jesus, quando ele disse: “Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.” (Mt 19,6)

Essa indissolubilidade é uma exigência do próprio amor, afinal ninguém diz ao outro: “vou te amar só por 5 anos...” O amor verdadeiro é para sempre, enquanto o outro viver. Principalmente quando a convivência está difícil, é importante recordar dessa promessa feita no altar, pois o motivo de se casarem foi para ajudarem um ao outro chegarem um dia ao Céu e o caminho para o Céu passa pela porta estreita.

A prova maior que os dois realmente se tornaram uma só carne é a vida do filho. Marido e mulher se uniram no amor e dessa união resultou uma nova pessoa, uma nova alma imortal, que foi feita da carne de um e de outro e agora é impossível separar. Olhar o filho, o fruto de seu amor, deve dar as forças necessárias para cada cônjuge resistir à tentação de pensar em separação.

Uma graça especial

Sem a ajuda da graça, isso é impossível, pois tanto o marido como a esposa são seres com defeitos e limitações e amar exige alto grau de heroísmo e de luta contra o egoísmo. Por isso, o casal ao receber o sacramento do matrimônio, recebe também uma graça específica que só esse sacramento pode dar: a graça da santificação do vínculo

Isso significa que quem recebe esse sacramento tem o direito de pedir a Jesus essa graça toda vez que o relacionamento estiver difícil. Essa graça vai ajudar a moldar tanto o homem como a mulher para que efetivamente se tornem uma só carne, um só coração.

É através dessa graça também que o casal poderá realizar a primeira finalidade do matrimônio, que é o bem dos cônjuges. É ela que possibilita que um faça o outro feliz e que ambos caminhem juntos rumo ao Céu.

Ultimamente vemos tantos casais que decidem morar juntos sem receber o sacramento do matrimônio. Meu marido e eu fazemos parte da equipe de preparação para o matrimônio de nossa paróquia e no último encontro de noivos, dos 12 casais presentes, todos já moravam juntos; alguns inclusive há mais de 10 anos e estavam ali para regularizar sua situação perante a Igreja.

Claro que é uma alegria quando um casal procura a Igreja para receber o sacramento, mas é importante sabermos a grande diferença dos casais que simplesmente decidem morar juntos daqueles que optam por receber o sacramento do matrimônio. Quem recebe o sacramento, recebe essa graça tão especial e tem muito mais chances de que o casamento seja mesmo duradouro. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos atesta que morar juntos, sem o sacramento do matrimônio, aumenta as chances de divórcio[1].

Tenho certeza de que essa graça que recebemos há mais de 25 anos e a consagração que fizemos de nossa família a Nossa Senhora é que nos sustenta, aumentando a cada dia nosso amor. Hoje meu maior desejo é que meus filhos também possam receber essa graça e formar santas famílias católicas, caso não sejam chamados a consagrarem suas vidas inteiramente a Deus como religiosos ou sacerdotes...