quinta-feira, 2 de agosto de 2018

O CHAMADO A SERMOS POBRES



Em nossa sociedade consumista, a palavra pobreza tem uma conotação muito negativa. Ninguém quer ser pobre, todos lutam para ter uma vida melhor, ganhar mais dinheiro, ter mais status social. Mas então como entender o chamado de Jesus à pobreza? 

"Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me" (Mt 19,21)
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3)
“Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus! Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” (Lc 18,24-25)
“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Mt 6, 24).

A pobreza que Jesus se refere é o desapego dos bens materiais ou na expressão usada pelo Pe. Jose Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, “vinculação heroica às coisas”; é usar de tudo aquilo que o bom Deus nos proporciona, mas com o espírito de administrador e não de dono. Precisamos cultivar a consciência de que todos os bens que possuímos, na verdade, não são nossos: eles foram emprestados por Deus para que os usemos da melhor forma possível, repartindo com os mais necessitados e um dia teremos que prestar contas de como administramos esses bens.

Criar essa consciência é muito difícil, pois temos a tendência de pensar que se eu trabalhei tanto para conseguir comprar um carro, por exemplo, não é “justo” falar que foi Deus quem me deu. Porém é Deus quem sustenta a sua vida a cada respiração, caso contrário, você já teria morrido. É Deus quem permite você ter saúde para trabalhar e conseguir juntar dinheiro. É Deus quem te deu a inteligência e os dons que você possui para conseguir ter esse emprego. E essa lista dos dons que Deus te concede diariamente é infinita...

Precisamos aprender a falar como Jó: “Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1,21). Criar esse sentimento de gratidão, de louvor, por tudo o que somos e o que temos, mesmo no meio do sofrimento e da privação dos bens materiais. Esse é o conselho evangélico da pobreza: lutar a cada dia pelo meu sustento, pelo sustento da minha família, mas não me preocupar angustiadamente pelo amanhã, confiar na Divina Providência. Não devo me preocupar em acumular bens materiais, não posso cair na tentação do consumismo, de buscar sempre aquela novidade, aquela roupa nova, aquele celular mais moderno.

Santo Agostinho nos adverte: “O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres”. Ou seja, todos nós deveríamos nos preocupar em não gastar dinheiro com o que é supérfluo, pois esse dinheiro seria muito melhor aproveitado se fosse dado aos pobres, a quem falta o que é necessário, como alimento e roupas.

Mas como colocar esse conselho evangélico da pobreza na prática? Compartilhamos com vocês algumas ideias que podem ajuda-los nessa difícil missão de nos autoeducar para o desapego dos bens materiais e de ensinar os nossos filhos a ter essa visão.

* desde pequenos, falar para os filhos que tudo o que eles tem, na verdade é do papai e da mamãe (o que é uma realidade, pois os filhos não fizeram nada para “merecer” aquilo que tem). Os pais emprestam as coisas para que os filhos cuidem bem delas. Isso ajuda as crianças a criarem essa consciência de serem administradores e não proprietários. Ajuda também a se livrarem aos poucos do egoísmo próprio das crianças. Por exemplo, quando um chorar porque o irmão pegou o “seu” carrinho, lembrar que o carrinho não é dele, é do papai e da mamãe, que emprestaram para ele usar e cuidar. Da mesma forma, ele deve aprender a emprestar o carrinho para o irmão, sem ficar triste por isso.   

* sempre que comprarem roupas, sapatos, brinquedos, doar alguma roupa, sapato ou brinquedo na quantidade equivalente ao que foi adquirido. Isso vale também para os presentes que recebemos nas datas especiais (aniversário, Natal)

* quando fizerem uma festa de aniversário, por exemplo, doar o equivalente ao que foi gasto na festa para alguma família mais necessitada ou instituição de caridade. Isso ajuda a sermos moderados nos gastos com comemorações e ensinamos desde cedo, aos filhos, a importância da simplicidade e de darmos alegria aos mais pobres quando estamos celebrando.

Devemos aprender com Santa Catarina de Sena que diz: "Nada te preocupe! Nada te perturbe! Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem possui a Deus, nada lhe falta. Só Deus basta!"

photo credit: Daniel E Lee <a href="http://www.flickr.com/photos/71081860@N08/33852384322">Time To Pack</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/">(license)</a>

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