sexta-feira, 5 de junho de 2020

PREPARAR OS FILHOS PARA O MARTÍRIO


Eu sempre me impressionei com a história da mãe e de seus sete filhos narrada em 2 Macabeus, capítulo 7. O relato bíblico nos conta que, para não ceder à pressão do rei e comer carne de porco que era proibida para os judeus, a mãe viu cada um de seus filhos serem torturados e mortos, sendo por fim, martirizada também. Um dos trechos que me chama a atenção é o seguinte:

“Ela, vendo morrer seus sete filhos num só dia, suportou tudo corajosamente, esperando no Senhor. Ela encorajava cada um dos filhos, na língua de seus antepassados. Com atitude nobre, e animando sua ternura feminina com força viril, assim falava com os filhos: ‘Não sei como vocês apareceram em meu ventre. Não fui eu que dei a vocês o espírito e a vida, nem fui eu que dei forma aos membros de cada um de vocês. Foi o Criador do mundo, que modela a humanidade e determina a origem de tudo. Ele, na sua misericórdia, lhes devolverá o espírito e a vida, se vocês agora se sacrificarem pelas leis dele.’” (2Mc 7, 20-23)

Que fé extraordinária possui essa santa mulher! Sabemos que o instinto materno tende a proteger os filhos de todo o sofrimento, mas ela, pensando no bem maior, na felicidade eterna de seus filhos, os encorajou ao martírio!

Isso me faz pensar até que ponto eu, como mãe, estou preparando meus filhos para um eventual martírio. Não falo aqui necessariamente de um martírio sangrento, de dar a vida pela fé em Jesus Cristo (apesar que, nos tempos difíceis e extraordinários em que vivemos, essa não é uma hipótese tão absurda). Mas talvez de um martírio da própria reputação, um martírio de ser considerado fundamentalista, radical, louco... Até que ponto meus filhos (e nós também, como pais) estão dispostos a abrir mão de ter a tranquilidade e paz daqueles que seguem os ensinamentos do mundo para viver a radicalidade exigida no seguimento de Jesus?

Essa entrega total só é possível se temos uma fé sólida no amor infinito que Deus Pai tem por cada um de nós e de que a felicidade completa só teremos quando chegamos no Céu. Para isso precisamos basicamente de duas coisas: oração incessante pedindo o dom da fé (“eu creio, Senhor, mas aumentai a minha fé”) e o aprofundamento na vida e nos ensinamentos de Jesus. Só podemos amar quem conhecemos. Só nos sentiremos amados se meditarmos e enxergarmos o que Jesus fez por nós, fez por mim, ao se entregar livremente para ser torturado e morto na cruz.

Assim é importante, desde que os filhos são pequenos, a mostrar para eles como são amados por Deus, como são preciosos aos olhos de Deus, o quanto Jesus sofreu para que eles pudessem estar, um dia, no Céu. Conforme eles vão crescendo, devemos estimular que tenham também um relacionamento pessoal e íntimo com o Senhor, através da oração pessoal e frequência aos sacramentos, afinal, Deus não tem netos, só filhos...

Devemos também estudar a doutrina da Igreja, as razões da nossa fé, o porquê defendemos determinada causa ou somos contra outras. Nossa inteligência precisa ser iluminada pela luz natural da razão e pela luz sobrenatural da graça. As duas coisas andam juntas. Nossa fé tem fundamento racional, na inteligência, não é apenas um “sentimento”. Sem alimentarmos esse lado racional da nossa fé, na hora da tentação, na hora que precisamos justificá-la ou tomar um posicionamento mais firme, podemos fraquejar. “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”, nos ensina o S. João Paulo II. Todo esse estudo deve ter como objetivo sempre a busca da Verdade, que é o próprio Jesus Cristo. “Conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

Desta forma, com uma vida de oração e de busca da verdade, com a força e as graças que recebemos através dos sacramentos, especialmente da Confissão e da Eucaristia, nós e nossos filhos estaremos preparados para enfrentarmos as dificuldades que o mundo nos apresenta e até o martírio, se assim estiver nos planos amorosos do Pai.



photo credit: babasteve <a href="http://www.flickr.com/photos/64749744@N00/25941203631">Easter Week No. 5</a> via <a href="http://photopin.com">photopin</a> <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/">(license)</a>

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