O
tema da mulher e o mercado de trabalho é sempre controverso. Se por um lado as
mulheres alcançaram uma grande fatia do mercado de trabalho, exercendo cargos,
até pouco tempo impensáveis para elas, contribuindo bastante no orçamento
doméstico, por outro lado muitas mães ficam sobrecarregadas com a dupla
jornada, fora e dentro do lar e ainda sentem-se culpadas por não ficarem tempo
suficiente com o marido e os filhos.
A reflexão que se deseja fazer aqui é: até que ponto é
um bem para a família a mãe trabalhar
fora de casa. Muitas são as razões que levam uma mãe a procurar emprego:
dificuldades financeiras, desejo de uma carreira que seja valorizada pela
sociedade, vontade de fazer algo que lhe dê mais prazer, pressão do marido para
ajudar no orçamento, entre outras.
Quando a família passa por sérias dificuldades
financeiras, onde existe o risco de faltar o essencial para a subsistência
(casa, a comida, roupas, etc), não há muito o que se pensar: o trabalho fora de
casa é uma necessidade para a mãe.
"Muitas
pessoas acreditam que precisam de uma segunda fonte de renda para melhorar o
orçamento doméstico, porém muitos estudos demonstra que ao se deduzirem as
despesas como o cuidado com as crianças, guarda-roupa para o trabalho, almoços,
viagens e outros itens, a família tende a manter apenas 10% da segunda fonte de
renda. Para a maioria das pessoas, este montante não faz tanta diferença.
Outros
trabalham porque seu valor pessoal depende disto. Enquanto trabalhos
significativos pessoalmente são importantes para uma identidade forte e
saudável, a pessoa deve tomar cuidado para não resumir a sua identidade a
partir do que se faz. Quando você é dependente do seu trabalho para definir seu
valor pessoal, você se expõe a ser explorado por empregadores que não
se importam com sua vida familiar, e você se expõe a ser conivente
com a atitude de que sua carreira é mais importante que seu cônjuge e filhos. E
claro, ela não é.
A chave para
tanto homens e mulheres que trabalham fora de casa é lembrar que como cristãos,
quem somos é melhor representado pelos valores que possuímos e as prioridades
que exemplificamos em nossa vida diária - não os nossos trabalhos. É preciso
muita coragem para viver isto, mas o esforço traz suas próprias recompensas na
forma de maior intimidade no lar, paz interior e uma visão mais profunda e
espiritual da vida, ao invés de simplesmente uma visão de simples
sobrevivência."[1]
O que se verifica em grande parte dos casos é de mães
que se ausentam do lar, para priorizar suas carreiras, buscando fora de casa
sua realização pessoal como pessoa, como mulher. E muitas vezes o resultado
disso são filhos educados por terceiros (escolas, babás, parentes) e mães que
se sentem frustradas e não conseguem essa almejada realização pessoal, nem como
mães, nem como profissionais.
"Em
primeiro lugar, o nosso trabalho é o trabalho de uma mãe. Em parceria com
nossos maridos e de acordo com o plano de Deus, trazemos a vida a este mundo
(...) nutrimos e cuidamos das necessidades cotidianas dos mais preciosos
presentes de Deus, nossos filhos, e somos as ajudantes de nossos cônjuges.
Transmitimos os tesouros de nossa fé para nossas famílias e garantimos sua
educação formal. Nosso trabalho diário consiste nas tarefas de dirigir e
organizar as nossas casas, alimentar as nossas famílias e fazer o nosso melhor
para nos mantermos saudáveis durante o processo."[2]
A questão maior é o fato do trabalho no lar não ser devidamente valorizado. Nas
últimas décadas, as meninas foram educadas para serem profissionais, para
escolher uma carreira, deixando de lado a importância do papel da mulher como
esposa e mãe. É muito raro ver famílias onde é explicado para a menina o grande
valor de ser esposa, de ser mãe, de saber cuidar e administrar um lar. E isso
faz com que as jovens priorizem sempre a carreira profissional fora do lar,
pensando que a mulher que fica em casa para cuidar do marido e dos filhos, na
verdade, é uma pessoa incapaz, que não conseguiu emprego ou está
“desperdiçando” seu potencial se dedicando exclusivamente para a sua família.
É urgente que esta questão seja revertida, pois o
trabalho da mulher dentro de casa e o papel da mãe junto a seus filhos,
especialmente na primeira infância, é primordial para o desenvolvimento deles,
para a criação de um vínculo afetivo saudável, enfim, para o bem estar de toda
a família.
"Todos
nós queremos saber que estamos fazendo um bom trabalho. Só que, no trabalho de
uma mãe, no entanto, não há avaliações de desempenho anuais ou aumentos
salariais por mérito. Estamos fazendo algo a longo prazo e é provável que não
vejamos por muitos anos o resultado final de todos os nossos esforços. Embora
possamos ser capazes de realizar as tarefas de 'dobrar a roupa' e 'lavar a
roupa' rapidamente e logo riscá-las de nossa lista de tarefas do dia, nosso
trabalho nunca está verdadeiramente completo."[3]
“Não há dúvida que a igual dignidade e
responsabilidade do homem e da mulher justificam plenamente o acesso da mulher
às tarefas públicas. Por outro lado, a verdadeira promoção da mulher exige também
que seja claramente reconhecido o valor da sua função materna e familiar em
confronto com todas as outras tarefas públicas e com todas as outras
profissões. De resto, tais tarefas e profissões devem integrar-se entre si se
se quer a evolução social e cultural seja verdadeira e plenamente humana. (...)
Portanto, a Igreja pode e deve ajudar a sociedade atual pedindo insistentemente
que seja reconhecido por todos e honrado
no insubstituível valor o trabalho da mulher em casa. Isto é de importância
particular na obra educativa: de fato, elimina-se a própria raiz da possível
discriminação entre os diversos trabalhos e profissões, logo que veja
claramente como todos, em cada campo, se empenham com idêntico direito e com
idêntica responsabilidade. Deste modo aparecerá mais esplendente a imagem de
Deus no homem e na mulher.
Se há que
reconhecer às mulheres, como aos homens, o direito de ascender às diversas
tarefas públicas, a sociedade deve estruturar-se, contudo, de maneira tal que
as esposas e mães não sejam de fato
constrangidas a trabalhar fora de casa e que a família possa dignamente
viver e prosperar, mesmo quando elas se dedicam totalmente ao seu próprio lar.
Deve, além disso, superar-se a mentalidade segundo a
qual a honra da mulher deriva mais do trabalho externo do que da atividade
familiar. Mas isso exige que se estime e se ame verdadeiramente
a mulher com todo o respeito pela sua dignidade pessoal, e que a sociedade crie
e desenvolva as devidas condições para o trabalho doméstico.”[4]
Outro fator que deve ser analisado é o fato de muitas
mulheres postergarem a maternidade para “investirem” em suas carreiras e quando
decidem ser mãe, após os 35 anos de idade, encontram muitas dificuldades para
engravidar, o que causa muito stress e frustrações. Então, buscam métodos
artificiais para conseguir a gravidez, o que pode trazer muitos riscos para a
sua saúde, podendo chegar inclusive ao extremo de contratar “barriga de
aluguel”.
Toda escolha tem suas consequências e é necessário ter
bem claro quais são as implicações para toda a família de ter a mãe trabalhando
fora de casa ou de adiar a chegada dos filhos em virtude da carreira. O marido
também precisa estar bem consciente destas consequências, antes de pressionar
sua esposa para voltar ou permanecer no mercado de trabalho, pensando apenas na
divisão de sua responsabilidade em prover a família.
Não se pretende aqui que todas as mulheres abram mão
de suas carreiras para ficar com suas famílias, mas que ao menos façam uma
séria reflexão do que realmente é importante para sua felicidade e a felicidade
de sua família e qual a melhor maneira de conciliar estes interesses.
A economista norte-americana Sylvia Ann Hewlet,
publicou um livro chamado “Creating a life: Women and the Quest for Children”
onde sugere algumas dicas para as mulheres que pretendem conciliar o trabalho e
a família:
1.
“ Imagine que tipo de vida você quer ter aos 45 anos.
Se pretende ter filhos (cerca de 86% a 89% das mulheres com salários entre 55
mil e 65 mil dólares anuais querem ser mães) é essencial que você se comprometa
com a ideia, e aja rapidamente.
2.
Tenha o seu
primeiro filho antes dos 30. O milagre da maternidade tardia, pouco comum, traz
muitos riscos e a sua possível não realização, muitas frustrações.
3.
Escolha uma carreira que lhe permita controlar seu
tempo. Certas carreiras dão mais flexibilidade e não se ressentem tanto de
interrupções.
4.
Escolha uma empresa que se comprometa a ajudá-la a
atingir o ponto de equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Descubra se a
empresa tem programas de jornada reduzida e se concede licença com garantia de
retorno ao trabalho (...)
Não digo que
joguem fora a sua carreira, mas para as mulheres em torno dos 30 anos, idade em
que fundar uma família e ter filhos é relativamente fácil, esta deve ser a
prioridade, e não o trabalho.".[5]
"Nosso trabalho, como mães, é
colocar os nossos filhos e sua educação no centro de nossas vidas. Como isso
vai parecer e como as coisas vão ficar em cada lar será diferente. Você sabe em
seu coração se está dando a Deus as 'primícias' de seu trabalho diariamente.
Seja dentro ou fora de nossas casas, temos que ter orgulho do nosso trabalho e
oferecê-lo como nossa oração diária."[6]
Ser
mãe é ao mesmo tempo uma dádiva de Deus e uma grande tarefa, que precisa ser
exercida com muita responsabilidade, dedicação, amor, abnegação e
sacrifício. Toda mulher deveria procurar
desenvolver ao máximo este dom da maternidade, inclusive a maternidade
espiritual (para aquelas que não são mães fisicamente), pois desta maneira
conseguirá alcançar todo o potencial para o qual foi criada, obtendo a tão
sonhada realização pessoal.
"Como trabalhadoras em nossos
cantinhos da vinha do Senhor, vamos fazer as seguintes perguntas quando se
trata de discutir o nosso trabalho:
- Estou escutando e respondendo 'sim' ao
chamado único de Deus em minha vida?
- Estou colocando as necessidades do meu
marido e de meus filhos no topo das minhas prioridades na vida?
- Estou oferecendo o desempenho de
minhas tarefas de cada dia e de minhas responsabilidades como uma oração?
- Estou realizando a minha vocação no
máximo de minha capacidade, com orgulho do meu trabalho, independentemente de
quão insignificante ou sem importância o mundo em geral possa considerar que
ele seja?
- Eu faço o meu trabalho com o coração
alegre? Estou me sentindo ressentida, crítica, arrogante ou indiferente em meu
serviço para com os outros?
- Estou realizando o meu trabalho para
fins egoístas pelo reconhecimento público, ou em busca de bens materiais?
- Tenho dado graças a Deus hoje através
de minhas ações e glorificado o Senhor através do fruto do meu trabalho?" [7]
[1] Tradução livre do livro "Parenting with Grace -
The Catholic Parent´s Guide to Raising Almost Perfect Kids", Gregory K.
Popcak e Lisa Popcak, 2a. edição, Ed. Our Sunday Visitor, 2010, EUA
[2] "O Manual
da Mãe Católica", Lisa M. Hendey, Ed. Ave Maria, 1a. ed., 2013, pg.138
[3] "O Manual
da Mãe Católica", Lisa M. Hendey, Ed. Ave Maria, 1a. ed., 2013, pg.142
[4] Exortação
Apostólica de João Paulo II “A missão da família cristã no mundo de hoje”, item
23
[5] http://noticias.cancaonova.com/imprimir.php?id=152392
[6] "O Manual
da Mãe Católica", Lisa M. Hendey, Ed. Ave Maria, 1a. ed., 2013, pg.140
[7] Tradução livre
do livro "Parenting with Grace - The Catholic Parent´s Guide to Raising
Almost Perfect Kids", Gregory K. Popcak e Lisa Popcak, 2a. edição, Ed. Our
Sunday Visitor, 2010, EUA
crédito da foto: photopin.com
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