Neste início de Semana Santa, reflitamos junto com o Pe. Nicolás Schweizer, sobre as três tentações, publicado em Reflexões No. 28, de 01.02.2008.
A Quaresma é um tempo privilegiado para afinar a meta de nossa vida e
repassar nossos objetivos. Às vezes resulta uma revisão dolorosa e que exige
sacrifícios.
Jesus também passou por isso. Duvidou, buscou, foi tentado, ao largo de
sua vida, e se impôs pela força e poder. Reflexionemos sobre suas três
tentações e veremos que são as nossas também.
1. A primeira, poderíamos chamar de tentação
do consumo. "Diga que estas pedras se convertam em pão". É dizer,
se quiseres, podes dar de comer a todos os homens. Sofrem, têm fome, não têm
trabalho - podes assegurar-lhes o bem estar material que desejam. Podes fazer
milagres, o "milagre econômico".
Ele responde: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que
sai da boca de Deus". Mas Jesus não nos pede que nos desinteressemos dos
bens temporais. No Pai Nosso nos faz pedir: "Dá-nos hoje nosso pão de cada
dia". Temos que lutar pelo pão de cada dia. Temos que lutar por nós e por
todos os homens.
O que o Senhor nos pede é lutar contra a alienação do consumo e contra a
ilusão de crer que a felicidade do homem coincide com a meta do consumo. Ele
nos diz que o coração do homem reclama outros alimentos diferente do
"ter". E os pais entre nós sabem muito bem que seus filhos não só
necessitam bem estar material, mas que precisam também de seu tempo, sua
atenção, sua palavra e seu amor.
Como uma criança, o homem necessita do amor de Deus seu Pai, desse Deus
que falou e que tem algo que dizer-nos. E enquanto os homens não escutem esta
palavra e enquanto não tratem de vivê-la, persistirá neles uma fome
insatisfeita que os converterá em homens subalimentados e infelizes.
Todos formamos parte de nosso mundo e de nossa sociedade. E todos somos
escravos do consumo, de uma ou outra forma: Pensemos no nosso carro, esse
pequeno deus; no conforto da casa; nos brinquedos das crianças nos livros, que
tal vez nunca serão lidos; em nossos vestidos e nossa roupa, etc.
Temos fome de pão, fome de coisas materiais. Mas, temos também fome de
Deus?
2. A segunda tentação de Jesus é a
tentação do poder, a tentação de utilizar a força de seu Pai em proveito
próprio. Mas Ele a rejeita: "Não tentarás ao Senhor, teu Deus". É
dizer: Tu não exigirás que Deus se coloque a teu serviço. Tu és quem há de
servi-lo. A força de Jesus consiste em colocar-se plenamente a disposição de
seu Pai, para servir aos irmãos.
Nós não nos livramos da tentação de utilizar a Deus, de colocá-lo a
nosso lado, é dizer, de metê-lo em "nosso bolso". Quantas vezes, a
través da história, grupos humanos, nações, governos, exércitos ou partidos
políticos tentaram aproveitar-se dos cristãos, da Igreja, de Deus, para levar a
cabo seus próprios projetos!
E nós mesmos, não rezamos muitas vezes o Pai osso às avessas: "Pai
nosso que estais no céu, faça-se minha vontade”. É dizer, nos colocamos no
centro, nos fazemos deus, no lugar dEle. E quantos homens se afastam assim de
Deus, porque Deus não os obedeceu!
3. A tentação da idolatria. Tal vez pensemos: esta vez não me toca, são os pagãos os que adoram
aos ídolos.
Mas também em nosso mundo de hoje surgiram muitos ídolos: Desde o grande
ídolo do dinheiro que adoramos todos, um pouco mais… ou menos. Até a multidão
de ídolos ante os quais nos ajoelhamos diariamente: o maço de cigarros, ou a
boa comida, a televisão, a moda, nosso corpo, também nossas ideias ou projetos.
Todos esses deuses fazem que pouco a pouco, e talvez sem dar-nos conta,
vivamos inclinados, incapazes de viver de pé e de poder ajoelhar-nos livremente
ante o único Deus.
Perguntas para a Reflexão
1. Por que tipo de felicidade estou lutando?
2. Que mundo estou construindo?
3. Sou "explorador" de Deus, ou sou seu servidor e servidor de
meus irmãos?
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