quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A FAMÍLIA E O SOFRIMENTO - PARTE 1

“Deus é tão digno do nosso amor, quando nos consola, como quando nos faz sofrer!" (São Francisco de Salles)

O SOFRIMENTO

A dor e o sofrimento fazem parte da existência humana. Desde o nascimento até a morte o ser humano sofre e caso não encontre um sentido para todo este sofrimento, pode viver angustiado e deprimido.

“O homem sofre quando experimenta um mal qualquer. No âmago daquilo que constitui a forma psicológica do sofrimento encontra-se sempre uma experiência do mal, por motivo do qual o homem sofre.”[1]

Assim, pode-se dizer que o sofrimento é uma consequência do mal que entrou na vida do ser humano a partir do pecado original, da desobediência do homem aos planos de amor de Deus Pai.

Deus é Amor, Deus é Bom e Deus é Pai, portanto Deus nunca quer o mal, pois o mal é contrário a Sua natureza; todavia Ele, que é Onipotente e poderia acabar com o mal se assim quisesse, permite a existência do mal, pois o que mais respeita é a liberdade humana, o livre arbítrio onde cada pessoa pode escolher se deseja seguir o caminho do bem ou o caminho do mal. E ainda, por ser todo poderoso, é o único capaz de tirar o bem do mal.[2]

Sem a liberdade o ser humano não passaria de um “robô” e como tal não poderia corresponder ao amor de Deus. Desta forma, Deus espera uma resposta de amor de cada pessoa para seguir seus planos e um dia voltar a Sua casa, porém, caso a pessoa escolha outro caminho, por amor respeita a sua vontade, mas também esta escolha traz consequências para si mesma e para toda a humanidade.

 “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha vida eterna. De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele.”[3]

São João, nos versículos citados acima, afirma que foi o amor infinito de Deus por toda a humanidade que o levou a enviar Jesus Cristo ao mundo, para através do seu sofrimento, salvar toda a humanidade. O mal e o sofrimento entraram no mundo em virtude da desobediência do ser humano e então, o mundo foi redimido através da obediência do Filho aos planos do Pai, por meio de sua paixão e morte na Cruz.

“É por meio deste seu sofrimento que ele (Jesus) tem de fazer com que « o homem não pereça, mas tenha a vida eterna ». É precisamente por meio da sua Cruz que ele deve atingir as raízes do mal, que se embrenham na história do homem e nas almas humanas. É precisamente por meio da sua Cruz que ele deve realizar a obra da salvação. Esta obra, no desígnio do Amor eterno, tem um caráter redentor.”[4]

O sofrimento, a dor, analisados apenas sob a luz da razão natural são um total absurdo, pois contradiz o chamado à felicidade que cada um traz dentro de si mesmo. Portanto,o sofrimento só pode ser compreendido se analisado sob a luz da fé, como forma de adesão aos sofrimentos de Cristo, se tornando, desta forma, um meio de salvação.

“Vimos que, examinar a dor a luz da pura razão natural se apresenta como algo absurdo e contraditório, por ser uma certa participação na morte e um processo de desintegração daqueles que estão intimamente orientados para a felicidade. A fé vem a corroborar esta reflexão dizendo-nos que o pecado foi efetivamente a ruptura com a fonte mesma da vida. Não é de estranhar, então, que o pecado tenha uma relação causal com a morte e a dor. Todavia, à luz desta mesma revelação, o crente está em condições de encontrar seu sentido, a partir da ação misericordiosa de Deus que oferece a redenção, mas sem abolir a liberdade do homem. A vocação ao amor, a comunhão e à felicidade permanecem mas, para alcançar sua meta, é preciso fazer um bom uso da liberdade se aderindo a Cristo.Neste contexto, a dor, que foi fruto do pecado e do afastamento de Deus e da felicidade, se transforma, através de Jesus Cristo, em caminho de reencontro. Assim adquire sentido.” [5]



[1] Carta Apostólica Salvici Doloris de João Paulo II, item 7
[2] Conforme Santo Agostinho († 430) e São Tomás de Aquino († 1274): "A existência do mal não se deve à falta de poder ou de bondade em Deus; ao contrário, Ele só permite o mal porque é suficientemente poderoso e bom para tirar do próprio mal o bem" (Enchiridion, c. 11; ver Suma Teológica l qu, 22, art. 2, ad 2).
[3] Jo 3,16-17
[4] Carta Apostólica Salvici Doloris de João Paulo II, item 16

[5] “Perspectiva cristiana del dolor humano”, pg. 56, P. Jaime Fernández M., editora Nueva Patris, Santiago, Chile, 2008 
CRÉDITOS DAS FOTOS: PHOTOPIN.COM

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