Existem dois tipos de sofrimento: aquele que vem diretamente como
consequência de uma ação do homem e outro que vem independente do seu agir.
Para a lógica humana é de certa forma mais fácil entender o primeiro
tipo, aquele que é oriundo de uma ação, por exemplo, o fato de uma pessoa que
fumou por muitos anos vir a sofrer com um câncer de pulmão. Todavia, o
sofrimento, por exemplo, de uma criança com leucemia, parece realmente muito
“injusto”, pois ela não teria feito nada para “merecer” aquele sofrimento.
Daí vê-se um dos grandes equívocos ao se analisar o sofrimento. Muitas
pessoas dizem: “ah, ele não merecia isto” ou “por que aconteceu isto justamente
com ele que é tão bom!”. O sofrimento não pode ser considerado um “castigo” de
Deus. É simplesmente a consequência do pecado. Ninguém “merece” sofrimento,
porém é necessário aprender a lidar com a dor, seja ela física ou moral, e a
tentar compreender o que Deus pede para cada um com a permissão do sofrimento.
Sempre é possível extrair algum ensinamento do sofrimento,
principalmente no que refere ao amadurecimento e a continua conversão que todas
as pessoas necessitam. A pergunta que se deve fazer frente a uma aflição é:
“Para que o bom Deus está permitindo isso? Como Ele deseja que eu encare esta
provação?”
São Paulo ensina: "Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos
trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige? Mas se
permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não
filhos legítimos"[1]
É necessário encarar todo sofrimento também como prova do amor de Deus
para consigo. Como ensinado por São Paulo, muitas vezes o Pai precisa corrigir
seus filhos para que andem no caminho correto e esta correção pode nos causar
dor, mas precisamos ter a certeza
de que “tudo concorre para o bem daqueles
que amam a Deus.”
O Pe.
José Kentenich, Fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, elucida:
“A cruz, o sofrimento e os golpes do destino: todos eles são pequenos
profetas do amor divino. De fato: não só ‘também’ a cruz e o sofrimento, mas de
modo eminente a cruz e o sofrimento. É sabido, nossa natureza resiste de muitas
maneiras a esta compreensão. Na vida de Santo Agostinho, atribui-se a sua mãe
as palavras: nesciebat, ideo flebat. (não
sabia, por isso chorava). Agostinho havia se dirigido até Ostia contra a sua
vontade. Ela pensava que todas as tentativas de conversão de seu filho iriam
terminar; não sabia que lá a graça esperava. Assim também em meu caso. Eu não
sabia que a cruz e o sofrimento eram uma graça do Pai celestial. (...) A cruz e
o sofrimento são, eles mesmos, profetas de Deus. Precisamos apenas escutar e
compreender sua linguagem muda. Homens santos nos dizem que Deus alcança de
maneira infalível seu objetivo educativo através da cruz e do sofrimento;
obviamente – acrescentam, em sábia reflexão, - sempre que o homem não se afaste
da cruz e do sofrimento. O Pai poda os sarmentos, a fim de que produzam mais
fruto. Isto é o que devia pensar, amar, experimentar, quando me chega uma cruz.
Se não ofereço resistência, Ele
alcançará com certeza seu objetivo em mim. Por isso, homens santos
aconselham, com inteligência, que
deveríamos nos educar para agradecer tanto mais intensamente quanto mais forte
seja o martelar da dor sobre a alma e o corpo.Cada cruz e cada sofrimento deve
encontrar nosso Deo gratias nos
lábios pois descobrimos no sofrimento um mensageiro do amor. Também desta
perspectiva puramente psicológica é de muita valia que façamos daquilo que
causa dor à nossa natureza o objeto de nossa alegria. Mesmo quando somente
obtivermos o apoio do vértice da vontade. Obviamente, uma coisa não podemos
esquecer neste contexto: se uma criança come uma fruta que não está madura e
fica doente, deverá se manter longe dela no futuro. Assim, pode acontecer que
eu seja culpado pela cruz e pelo sofrimento. Neste caso, devo evitar depois a
dor na medida em que me seja possível; não devo continuar comendo uma fruta que
não está madura – por exemplo, manter um trabalho que não sou capaz-. Sendo tão grande o significado da cruz e do
sofrimento, Deus envia este mensageiro do amor a quem mais ama, a homens heroicos
– que já o são ou que Ele quer educar para que cheguem a sê-lo-. Por esta
razão, encontra-se a dor em maior medida na vida dos santos.”[3]
(grifos nossos)
A melhor
maneira de enfrentar o sofrimento é se unindo a Jesus crucificado, tendo a
esperança que tudo passa, que no
momento da dor, o Pai deseja apenas que aceitemos a nossa cruz e a carreguemos
com coragem, sem desânimo. Podemos chorar, mas sem desespero, tendo a certeza
de que, como diz o ditado “no final, tudo acaba bem e se não está bem é porque
ainda não acabou!”
Jesus é o grande mestre do
sofrimento. Ele ensina a sofrer, mantendo-se sempre fiel à vontade do Pai, pois
sabe que o Pai só quer o bem do filho. Pode-se pedir que o Pai afaste o sofrimento,
como Jesus mesmo fez no Horto das Oliveiras, mas a convicção deve ser: que não
se faça a minha vontade, senão a do Pai.
"Caríssimos, não vos perturbeis com o fogo da
provação, como se vos acontecesse coisas extraordinárias. Muito pelo contrário,
alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo”[4]. Com
estas palavras, S. Pedro ensina que não devemos ficar surpreendidos pelo
sofrimento, pois ele faz parte da vida do cristão, mas devemos nos alegrar por podermos fazer parte dos
sofrimentos de Jesus.
Esta
alegria em sofrer só poderá ser alcançada com muita oração e entrega, pois na
hora da dor, a tendência é se fechar em si mesmo, sentir auto-piedade e
procurar de todas as formas afastar o sofrimento. Todavia, esta fuga do
sofrimento, ao invés de amenizá-lo, acaba aumentando e prolongando-o.
É preciso
ressaltar, contudo, que não devemos
procurar o sofrimento. Deus sabe a medida de cada um, a cruz que cada um
deve carregar para se santificar, assim não precisamos aumentar esta carga
desnecessariamente, pois isto também não é a vontade do Pai.
Cada
pessoa precisa assumir com amor e fidelidade a sua cruz e levá-la até o fim,
contando sempre com a graça de Deus. Diz o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo
2015: "O caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe santidade
sem renúncias e sem combate espiritual".
Alguns
pensamentos dos santos sobre o sofrimento:
Santo Afonso: “Neste vale de lágrimas não pode ter a paz
interior senão quem recebe e abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista
agradar a Deus”. Segundo ele “essa é a condição a que estamos reduzidos em consequência
da corrupção do pecado”.
São João Crisóstomo: “É melhor sofrer do que fazer milagres, já que
aquele que faz milagres se torna devedor de Deus, mas no sofrimento Deus se
torna devedor do homem”.
Santo Agostinho: “Quando se ama não se sofre, e se sofre, ama-se o
sofrimento”.
“O martírio não depende da pena, mas da causa ou fim pelo qual se morre.
Podemos ter a glória do martírio, sem derramar o nosso sangue, com a simples
aceitação heróica da vontade de Deus”.
São Francisco de Sales: “As cruzes que encontramos pelas ruas são
excelentes, e que mais o são ainda – e tanto mais quanto mais importunas – as
que se nos deparam em casa”. [1]
[1] Hb
12, 6-8
[2]
Carta Apostólica Salvici Doloris de
João Paulo II, item 12
[3]
“El hombre heróico – Ejercicos Espirituales com la guía de San Ignacio y su
método”, KENTENICH, José. 2ª edição, Editorial Patris, Santiago/Chile 2004,
pgs. 198-200. Tradução livre da autora.
[4]
1Pd 4,12
[6] http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=12028
CRÉDITOS DAS FOTOS: PHOTOPIN.COM
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