Ótimo texto do Pe. Nicolás Schweizer, publicado em Reflexões No. 63, de 15.07.2009.
O mundo dos afetos é um mundo de
entrelaçamento de toda a personalidade. Segundo o
Padre Kentenich, o coração é a harmonia entre o apetite sensível (sentimentos,
paixões, instintos) e o apetite espiritual (vontade), entre o “animal” e o
“anjo” em nós. Marca o equilíbrio pessoal.
O objetivo dos afetos é o amor, a entrega ao outro, a entrega generosa
ao tu humano ou divino.
Durante
muito tempo não se deu a nossa vida afetiva o lugar que lhe corresponde.
Acreditou-se que o decisivo era o intelecto e a vontade. É certo que eles, de
acordo com a ordem objetiva, são superiores e estão chamados a iluminar e reger
em definitivo nosso atuar. Mas é um grave erro, crer que o podem fazer sem a
integração da vida afetiva. Frutos desse erro tem sido e são o homem
racionalista e o homem voluntarioso, que negam ou sacrificam os sentimentos.
Sem o acordo do coração e dos
afetos, a vontade pode fazer muito pouco. E a inteligência tampouco é capaz de
conhecer “objetivamente” a realidade. Podemos concluir que a conduta humana em
grande parte está definida e determinada pela zona dos afetos, pela zona do
coração.
Agora, em
que consiste a imaturidade afetiva? O Padre Kentenich costumava dar várias
respostas a esta pergunta. Mencionava a histeria e a carência de vínculos
firmes, ademais do infantilismo. Aclaremos um pouco duas dessas formas.
1. Histeria. É um grau de
imaturidade, muito mais grave, mais delicado. A pessoa histérica gira tanto em
torno ao “eu” que está possuída pelo “eu”. Está tão metida nessa busca de si
mesmo que perde o bom senso. Não se lhe entende, não é um louco, mas é uma
pessoa especial, neurótica.
E há uma coisa muito típica do histérico e é que
busca chamar a atenção, quer estar sempre no centro, por qualquer meio. Para
ele, muitas vezes inventa “enfermidades”.
Nossas “histerias” geralmente não são tão
graves. Talvez exista entre nós gente histérica pela limpeza, ou pelos estudos,
ou pela ordem, ou pela pontualidade, ou por não engordar, ou por não
envelhecer. Existe um tipo de perfeccionismo enfermiço detrás disso: queremos
que as coisas sejam perfeitas ao extremo. E o perfeito, muitas vezes é inimigo
do bom.
2. Carência
de vínculos firmes. É
outro capítulo da imaturidade afetiva. Ao homem de hoje lhe custa amar,
vincular-se em forma sã aos demais. E então temos dois extremos:
2.1 O amor
instável. Uma pessoa
que não tem vínculos profundos. É como uma mariposa em suas relações: incapaz
de pousar, incapaz de penetrar, incapaz de fixar-se (beija-flor), incapaz de
ser fiel. Vai provando de tudo um pouco, deixa-se levar pelas sensações. Por
isso é instável afetivamente.
O que custa ao homem de hoje é a fidelidade, é comprometer-se para
sempre, entregar-se por toda a vida. Entretanto, os grandes valores humanos são para toda vida: o amor, a família, o
matrimônio, a religião, o sacerdócio, a santidade. Principalmente o amor, seja entre
homem e mulher, seja entre a alma e seu Deus, é forte como a morte e até a
morte. E se não é assim, não é amor. Há gente que o troca como a um vestido:
joga fora o usado e compra um novo. O verdadeiro amor é duradouro e forte.
2.2 O
outro extremo é o amor possessivo. É como uma trepadeira que não deixa crescer ao outro. Não é um vínculo
para a liberdade, para a plenitude, se não um vínculo egoísta, um amor que
afoga. Pode ser uma mãe ou um pai ou um amigo possessivo. Parece que essas
pessoas só querem receber, têm uma fome terrível de receber. É como um barril
sem fundo. E que horrível é para os filhos de pais possessivos: sofrem durante
toda sua vida com esse problema.
Em síntese, a imaturidade afetiva é colocar o “eu” egoísta em primeiro
plano, e o “tu” em segundo plano. Que todos adorem a meu “eu” e que eu possa
dominar aos demais!
Perguntas para a reflexão
1.
Onde está minha imaturidade afetiva?
2.
Sou uma pessoa possessiva?
3.
Poderia enumerar alguma de
minhas “histerias”?
créditos das fotos: photopin.com
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