sexta-feira, 5 de setembro de 2014

SERVINDO A DEUS NA DOENÇA

"Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele." (Rm 8,28)

No mês de maio/2013, recebi uma notícia que cerca de 520.000 brasileiros recebem todos os anos: diagnóstico de câncer. No meu caso, um tipo de câncer no sangue, chamado Linfoma de Hodgkin. no estágio 2 (vai de 1 a 4). O prognóstico é bom, com grande chance de cura e o tratamento inicial eram 12 sessões de quimioterapia, uma a cada 15 dias e depois 18 sessões de radioterapia. Apesar do prognóstico ser bom, esta notícia sempre assusta. Fiquei pensando o que o bom Deus e nossa querida Mãe estavam querendo de mim: a resposta mais obvia foi que precisaria sofrer tudo isso da melhor maneira possível, causando alegria ao Pai e oferecendo tudo a Ele.

O tratamento foi muito difícil, os efeitos colaterais da quimioterapia eram muito fortes, e antes de iniciar a radioterapia, descobri um novo câncer, agora na tireoide. O tratamento foi cirúrgico, removendo toda a tireoide e depois talvez será necessário um tratamento com iodo radioativo.

Logo que iniciei a radioterapia, o linfoma voltou, então precisamos seguir um segundo tratamento que foi o autotransplante de medula óssea. Precisei passar quase três meses internada, com altas doses de quimioterapia, mas no final, tudo deu certo, o transplante foi bem sucedido e agora estou em fase de recuperação.

Com tudo isso, não sou só eu quem sofro, mas toda a minha família, em especial meu marido e meus filhos Gabriel (12 anos), Nicole (9) e Matias (8), também foram afetados por esta mudança na rotina. E aí que tinha que aprender a como ser mãe e esposa nesta situação.

A primeira coisa que acontece é parar tudo: o cuidado com a casa, a educação dos filhos, todos os planos com apostolado, tudo tem que parar em virtude do tratamento. E isso já é bem difícil pra quem sempre foi muito ativa como eu.

Agora precisava descobrir uma maneira de viver desta forma, daí que a força da Aliança de Amor selada com Nossa Senhora e a realidade de possuir um Santuário-lar, onde ela verdadeiramente se estabeleceu,  se mostraram verdadeiros. Se eu selei a Aliança de Amor, eu pertenço à Mãe e Ela me pertence, então estava na hora de pedir que Ela assumisse meu lugar e fizesse aquilo que eu não poderia fazer.

Lembrei muito da D. Catarina Kentenich, mãe do Pe. Kentenich, Fundador do Movimento de Schoenstatt, que precisou deixá-lo no orfanato aos 9 anos e o consagrou a Maria neste momento tão difícil, pedindo que Ela assumisse a educação de seu filho. Meus filhos também foram consagrados, desde meu ventre e também no dia do Batizado de cada um.

Assim, mesmo de cama a maior parte do tempo, sei que minhas tarefas estão sendo cumpridas da melhor forma possível, pois é a Mãe que está lá no meu lugar. Se meu filho tem que estudar pra prova, é a Mãe que está lá o ajudando, se deveria estar numa reunião, é a Mãe que está lá no meu lugar, enfim, estou constantemente pedindo que a Mãe faça agora o que eu não consigo fazer. E isso me traz uma certa tranquilidade.

Tive também que lidar com várias perguntas das crianças: "Mamãe, quando você vai morrer?"; "Mamãe eu não quero que você fique careca!"; "Mamãe, por favor não vá na quimio amanhã, eu preciso que você me ajude na lição de casa". E teve ainda a pergunta que fizeram ao Matias na escola sobre qual era a profissão da mamãe e ele respondeu:"Ela não faz nada, só fica doente na cama sofrendo".

Então, precisamos também ensinar as crianças a sofrer e a oferecer tudo para o Bom Deus. Na verdade, todos precisamos aprender a transformar nosso sofrimento em sacrifício. Sacrificar vem de sacrum facere, o que significa passar algo ao âmbito de Deus, ou seja, tornar sagrado, consagrar. Desta forma, ao transformarmos nosso sofrimento em sacrifício, passamos tudo para o âmbito de Deus, transformarmos nossa dor em ofertas para nosso querido Pai e assim tudo tem um sentido, um propósito maior.

Preciso falar ainda mais uma coisa: quando estamos sofrendo, quanto mais nos debatemos tentando nos livrar dele, mais afundamos. É o mesmo que estar afundando em areia movediça. Quanto mais a gente se debate, mais afunda. Então, o que precisamos fazer é simplesmente nos acalmar, aceitar mais essa provação, este sofrimento "sem causa", entregar tudo nas mãos de Nossa Senhora, que tudo melhora.

Agora o tratamento já está no fim e graças a Deus tudo indica que caminho na direção da cura total. Aprendi e amadureci muito em todo este tempo, meu marido e meus filhos também. Não sei o que o futuro nos trará, mas tenho certeza que será tudo para a maior glória de Deus!

Atualização: Já faz quase 3 anos do transplante e graças a Deus continuo em remissão! Foram anos muito difíceis, principalmente os dois primeiros, mas aos poucos as internações e intercorrências foram diminuindo. Só tenho a agradecer a Deus por todo o cuidado e todo o amadurecimento que este tempo trouxe tanto para mim, como para minha família. 

5 comentários:

  1. Lindo testemunho de vida!
    Realmente muitas vezes não sabemos e não entendemos a Vontade de Deus em nossas vidas, mas lendo esse post sobre sua luta contra o câncer e entrega total a vontade do Pai, pensei em como você se tornou uma grande evangelizadora! Ainda maior do que sempre foi! Quantas pessoas foram tocadas e podem hoje se inspirar em você para amar e aceitar sua cruz! Essa é a semana da exaltação da Santa Cruz... que todos nós possamos aprender, com seu exemplo de vida, a aceitar e nos entregar por completo nas mãos de Deus, pois Ele nos ama seu amor não tem fim!
    A doença se foi... e seu testemunho ficará para sempre!!!
    Amo você!
    Beijos

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  2. Vc é uma grande guerreira do Senhor.
    Estou encantada c o tamanho de sua fé.
    Deus abençoe vc e toda a sua família.

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  3. Que Deus te agracie a cada dia com mais saúde.. Pois é a única coisa que é necessário hoje... as demais sao acréscimo.. Que a mamãe do céu esteja sempre te dando a direção e caminho como mãe mulher e esposa..obrigada pela partilha... nos.fortalece em.meio ao turbilhão de dor

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